O algodão agroecológico, agrega valor e preço justo às família
O Brasil é o segundo maior exportador de algodão do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Um dos principais destinos da pluma é a indústria da moda com a confecção de tecidos.
Até uma camiseta, por exemplo, chegar até no nosso guarda roupa, existem uma série de impactos socioambientais envolvidos na produção dela. Esses impactos vão desde o uso do solo, consumo e poluição da água com corantes, gastos com energia, condições trabalhistas degradantes, aumento das emissões dos gases de efeito estufa, uso intensivo de agrotóxicos no plantio até o descarte daquela peça no lixo.
Mas existem outras formas de se produzir uma das fibras naturais mais usadas no Brasil. Por meio do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, no ano passado 849 famílias agricultoras plantaram algodão neste modelo.
O aumento da produção de algodão agroecológico gerou também segurança alimentar dessas famílias beneficiadas pelo projeto que já abrange seis estados na região do Semiárido do Nordeste do Brasil. Reflexo da ampliação de outras culturas alimentares como milho, gergelim, feijão, amendoim, girassol entre outras.
“A produção do algodão veio para fortalecer a agricultura familiar. O impacto foi muito forte, a gente produzia milho e feijão, e o algodão ele veio para agregar valor e melhorar a renda das famílias”, explica o agricultor familiar Claudevan José dos Santos, assentado na reforma agrária e que participa do projeto. Ele planta algodão há 12 anos no modelo agroecológico no sertão do Pajeú, no estado de Pernambuco. Ele explica as principais diferenças do algodão agroecológico.
“O algodão convencional tem um impacto grande prejudicando o meio ambiente. Já o algodão agroecológico, agrega valor e preço justo às famílias, e tem um impacto positivo com trabalho focado na agroecologia que ajuda a preservar o meio ambiente. É uma diferença enorme no preço: enquanto o convencional custa R$0,85, o agroecológico é vendido por R$19 o quilo da pluma”, completa o agricultor.
A iniciativa é coordenada pela ONG Diaconia que atua na região e tem como objetivo inserir as famílias agricultoras nos mercados com o selo brasileiro orgânico. Segundo o agricultor e presidente da Associação Agroecológica do Pajeú com o plantio e comercialização de mais uma cultura colabora para permanência dessas famílias no campo. Só em 2022, quase cem famílias plantaram algodão e a produção está se expandindo a cada ano.
"Passamos praticamente o ano todo na produção, plantio, tombação de solo, depois vasinho sanitário e a colheita, então é o dia a dia de quem está envolvido na na produção do algodão agroecológico. O dia é corrido, mas é muito gratificante estar ali no roçado e observar o controle de pragas e principalmente na época de colheita e beneficiamento que está todo mundo envolvido neste processo”, diz Claudevan.
A comercialização da pluma tem rompido as fronteiras do Semiárido nordestino. Em 2022, pelo quarto ano consecutivo, a venda da safra já foi assegurada pela empresa de calçados francesa, que utiliza o algodão agroecológico para produção dos tênis vendidos no mundo inteiro. Porém, o agricultor ressalta que um dos desafios é a questão climática, como a falta de chuvas no sertão para o início do plantio.
“Esse ano a gente assinou um contrato de venda de oito toneladas de plumas, mas depende muito dos fatores climáticos para atingir essa meta de produção”.
Sem o uso de veneno e de produtos químicos, o plantio de algodão agroecológico no Brasil ocorre predominantemente no Nordeste, dentro dos preceitos da agroecologia. Segundo o relatório Fios da Moda, o algodão é quarta cultura que mais consome agrotóxicos, sendo responsável por aproximadamente 10% do volume total de pesticidas utilizado no Brasil, com uma aplicação média de 28 litros de agrotóxico por hectare, mais do que o dobro aplicado na soja que recebe 12 litros por hectare.
Edição: Daniel Lamir e Lucas Weber