Levantamento divulgado pela organização internacional Oxfam no contexto deste 1º de maio, Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, revela aumento na desigualdade entre os rendimentos de pessoas ricas e pobres em diversas partes do mundo, com especial crescimento dessa diferença no Brasil.
Segundo a pesquisa, os diretores gerais (cargo muitas vezes chamado pela sigla em inglês CEO) de empresas pelo mundo tiveram crescimento salarial de 9% em 2022, enquanto as pessoas da base da pirâmide tiveram queda de 3% em seus rendimentos.
Para medir a desigualdade no Brasil, a Oxfam levou em conta os valores distribuídos a grandes acionistas como dividendos, já que não há informações oficiais sobre os salários dos altos executivos.
A organização identificou um aumento de cerca de 24% entre 2021 e 2022 nos pagamentos a acionistas do país. No mesmo período, a queda salarial da força de trabalho no país foi de 6,9% - mais que o dobro da média mundial.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o coordenador de Justiça Econômica da Oxfam no Brasil, Jefferson Nascimento, destacou os valores exorbitantes dos dividendos pagos no país em 2022: cerca de US$ 34 trilhões (foram US$ 27,3 bilhões em 2021), e alertou para a necessidade de uma reforma tributária que preveja pagamento de impostos sobre esses valores, algo que não acontece desde 1996.
Nascimento pontuou ainda a importância de políticas de valorização do salário mínimo, já que há vários indicadores diretamente atrelados a ele. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o retorno da regra de valorização do mínimo.
"A gente tem estudos apontando como a valorização real do salário mínimo foi importante para redução da desigualdade de renda, ao longo dos anos 2000 até meio de 2010", destacou o especialista.
Pandemia e reforma trabalhista
A pandemia ainda causa efeitos importantes no nível de renda das pessoas mais pobres em diversas partes do mundo. A maior parte dos trabalhadores ainda não conseguiu recuperar os níveis de renda que tinham antes da chegada da covid-19.
No caso do Brasil, a Oxfam apontou outros fatores relevantes, como a precarização do trabalho em decorrência da reforma trabalhista aprovada ainda no governo de Michel Temer (MDB), em 2017.
"Mesmo com a recuperação do [nível de] emprego, a gente tem esse movimento que são empregos com menor remuneração, mais precarizados, e isso impacta de alguma maneira nesse número da renda média. Na verdade, a gente tem recuperado a taxa de emprego, mas a renda continua menor que era antes da pandemia", pontuou.
Edição: Thalita Pires