O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, discursou nesta segunda-feira (01) a milhares de apoiadores reunidos no centro de Caracas durante ato político em comemoração ao Dia do Trabalhador. A expectativa dos sindicatos, movimentos populares e partidos políticos presentes na manifestação era que o mandatário anunciasse um aumento no salário mínimo.
Maduro, no entanto, não aumentou o salário e, ao invés disso, decretou reajustes no vale alimentação dos trabalhadores e em um dos auxílios pagos pelo governo chamado de Bônus de Guerra Econômica.
"Eu queria ter os recursos para fazer mais, mas estamos fazendo mais com menos", disse o mandatário.
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Desde abril de 2022, quando o governo fez o último reajuste, o salário mínimo na Venezuela é de 130 bolívares, que hoje equivalem a cerca de US$ 5. Quando foi anunciado no ano passado, o valor correspondia a US$ 30, mas as constantes disparadas no preço do dólar desvalorizaram a moeda nacional e retirou o poder de compra dos milhões de venezuelanos que seguem recebendo em bolívares.
Durante o ato, Maduro explicou que o vale alimentação pago aos trabalhadores ativos (chamado na Venezuela de cesta ticket) seria reajustado de cerca de US$ 2 para US$ 40. O valor, segundo o mandatário, será indexado na moeda estadunidense para não sofrer reduções com possíveis flutuações cambiais.
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Já as modificações no Bônus de Guerra Econômica - espécie de bolsa assistencial fornecida pelo governo - sofreram alterações em menos de 24 horas. No palanque, em frente aos apoiadores, Maduro havia dito que o novo valor do auxílio seria de US$ 20, também indexado ao dólar. Entretanto, nas primeiras horas desta terça-feira (02), o presidente publicou um vídeo em suas redes sociais anunciando "uma mudança necessária" no decreto e alterou o valor para US$ 30.
Com a modificação, trabalhadores ativos e registrados no sistema de auxílios do governo receberão US$ 70 (cerca de R$ 350) ao mês, com os valores do vale alimentação e do Bônus de Guerra Econômica somados, além dos respectivos salários. Apesar dos aumentos, os reajustes estão abaixo da inflação e a média dos salários dos trabalhadores dos setores público e privado é insuficiente para cobrir o valor da cesta básica.
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"Esse é um plano de emergência, de resistência, que deve nos levar mais cedo do que tarde à recuperação dos salários nas convenções coletivas, mas agora temos que resistir com força", disse.
Desde abril do ano passado, a Venezuela busca negociar com entidades patronais e sindicais a revisão de acordos coletivos de distintas categorias. A iniciativa, chamada de Foro de Diálogo Social, conta com a mediação da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Marchas e protestos
Além da concentração de apoiadores, Caracas também recebeu protestos organizados por sindicatos não alinhados ao governo. Majoritariamente de categorias de servidores públicos, as organizações exigiram aumentos salariais e um plano de indexação para conter a desvalorização cambial.
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Desde 2018, a Venezuela vive um processo de dolarização forçada que praticamente retirou da moeda nacional as funções de unidade de conta e reserva de valor. Apesar da reforma monetária de 2021 ter conseguido reinserir aos poucos o bolívar na economia, a procura por dólares segue alta e o preço da moeda estadunidense passa por constantes aumentos.
Ainda que no primeiro trimestre de 2023 o Banco Central da Venezuela tenha conseguido manter a taxa de câmbio com certa estabilidade através de intervenções diárias, o preço do dólar subiu mais de 80% entre maio de 2022 e maio deste ano.
Edição: Patrícia de Matos