O novo ensino médio, que começou a ser implantado no país no ano passado, tem suscitado debates e um forte movimento pedindo sua revogação. Alunos da rede pública de ensino que já estão vivendo na prática a implementação do novo currículo, afirmam que, já percebem que a proposta veio para ampliar as desigualdades tanto na formação como no acesso à universidade. O Brasil de Fato Paraná conversou com estudantes que estão cursando o primeiro e segundo ano do ensino médio de escolas públicas do Paraná e todos afirmaram que a proposta, na prática, tem suscitado muita insegurança quanto ao futuro.
Para eles, na teoria, a proposta do Novo Ensino Médio, incorpora à grade curricular, novas disciplinas e teria como objetivo permitir o aprofundamento em itinerários formativos escolhidos pelos alunos. Na prática, as escolas públicas da rede estadual do Paraná tem se mostrado um lugar confuso com professores obrigados a ministrar disciplinas para as quais não estão aptos e alunos inseguros quanto ao futuro.
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Rafael Barros Jubanski, 16 anos, diz que a proposta vem trazendo reducionismo na formação dos alunos. “Com o novo ensino médio, eu tive que escolher ao final do primeiro ano entre o itinerário de Humanas e o de Exatas. Com isso, optando por Exatas, não tenho mais acesso às aulas de filosofia. Segundo a justificativa deles, do governo, é porque querem que a gente se aprofunde na área escolhida. Mas, o que está acontecendo é que vamos ter uma visão simplista do mundo, onde as áreas não interagem entre si”, comenta.
Já para Livia Bianca Costa Lobato, 15 anos, a proposta na teoria não condiz com a realidade. “Com a implantação do novo ensino médio foi dito para a gente que poderíamos escolher as matérias cujo curso queríamos estudar, mas na realidade não foi bem assim que aconteceu. Foi algo bastante confuso e que, na realidade, tem diminuído nossa qualidade de ensino. Tivemos que escolher dois itinerários e isso aconteceu depois de terem implantado essa proposta sem consulta aos estudantes nem professores que vivem essa realidade todos os dias,” diz.
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Disciplinas sem sentido
Já a estudante Alice Ernsen Geremias Alves, 16 anos, relata incoerências nas escolhas que foi obrigada a fazer frente à nova proposta curricular. “Hoje a professora de História comentou que não iremos ter aulas de história ano que vem. Eu estou na parte de Humanas (itinerário formativo). Como vou estudar humanas sem história?”, questiona.
Ela também cita que não vê sentido em algumas matérias do novo currículo. “Temos matérias que não vemos sentido. Por exemplo, uma matéria chamada projeto de vida que não me vejo usando futuramente. A impressão que tenho é que estamos em uma aula de coach motivacional. E, por outro lado, não temos aula de física, algo muito necessário,” diz.
Professores “fora do lugar”
Os estudantes vem sentindo insegurança também ao verem seus professores tendo que ministrar disciplinas totalmente diferentes das suas formações. “Uma grande dificuldade no momento é que os professores não foram preparados para dar essas aulas que propõe o novo ensino médio,” diz Alice.
Para Rafael Barros Jubanski, 16 anos, devido à falta de diálogo com a escola, os professores não estão preparados para o novo currículo e muitos fora dos seus lugares de formação. “Os professores não foram capacitados para lecionar determinadas matérias que aparecem no novo currículo. Estão sendo obrigados a lecionar matéria das quais eles não tem formação. Um exemplo é meu antigo professor de Filosofia hoje está tendo que lecionar a matéria projeto de vida. A outra professora formada em Geografia teve que dar aula de pensamento computacional”, relata.
Proposta no Paraná obriga uso de aplicativos, escolas não têm internet
Em fevereiro de 2023, a Secretaria de Educação do Paraná (SEED-PR) inseriu entre as tarefas do estudante, o uso de uma plataforma na internet para estudos. O investimento foi de R$ 6,3 milhões para dois anos. Porém, na prática, os estudantes dizem não estar funcionando principalmente pela falta de acesso à internet.
“Seria mais fácil, se eles fizessem um aplicativo com várias abas, porém cada matéria tem um aplicativo. E, a internet lá na escola não funciona. Como querem que façamos exercícios nos aplicativos sem internet e com muitos alunos que também não tem condições de ter internet em casa”, comenta Alice Geremias Ernsen.
Pela revogação do NEM
Alice, Lívia e Rafael são alguns dos milhares de estudantes que tem apoiado o movimento pela revogação da Reforma do Ensino Médio. “Eu faço parte do movimento junto ao Grêmio da Escola. Minha opinião é que o NEM é uma forma de manter os estudantes da escola pública longe das universidades. Uma vez que os colégios particulares não estão optando por este currículo e não sofrendo o reducionismo que estamos passando na escola pública”, diz Rafael.
Já para Livia, a participação no movimento é porque está preocupada com seu futuro. “Estou acompanhando o movimento e eu acho ser muito importante porque o que está acontecendo é uma educação sem qualidade e nos reprimindo, já que nunca nos ouviram, num lugar onde deveríamos nos sentir confortáveis para aprender cada dia mais. Eu quero logo a revogação do ensino médio para que possamos ter aulas que realmente construam nossa base para o futuro”, diz.
Diante de uma série de mobilizações em todo o Brasil protagonizadas pelos estudantes, o atual Ministério da Educação anunciou a suspensão da implementação do calendário do Novo Ensino Médio e a realização de uma consulta pública.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini