PELA REFORMA AGRÁRIA

Fazenda abandonada em Pernambuco se transforma em área de cultivo de alimentos agroecológicos

No município de Glória do Goitá (PE), 200 famílias acampadas trocaram o capim pela produção de milho, feijão e frutas

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Terreno de fazenda abandonada se tornou área de cultivo de alimentos saudáveis com acampamento do MST em PE - Pedro Stropassolas
O MST não invade terra, apenas ocupa uma coisa que ninguém está dando valor

Dar vida a uma área improdutiva e sem função social. Essa tem sido a tarefa de 200 famílias do MST no município de Glória do Goitá, a 56 km de Recife (PE). Desde abril deste ano, elas ocupam a Fazenda Boa Esperança, como parte da Jornada de Lutas pela Reforma Agrária.

“A gente costuma falar que aqui é uma terra prometida, né? A terra que emana leite e mel, né? É uma terra boa, né? De plantio, né? Onde a gente já começou a plantar, né? Junto com os companheiros, né?, afirma o acampado Wilson Bernardino de Souza”.

O terreno estava abandonado, sob controle de uma família tradicional da região, e hoje já dá frutos com menos de dez dias de ocupação. O capim deu lugar ao cultivo de milho, macaxeira, quiabo, feijão, erva cidreira, bananeira,  acerola, siriguela e fruta pão. 

“Eu estou feliz da vida, eu estou feito uma criança porque aqui eu estou me sentindo vitoriosa, eu estou me sentindo viva é isso apesar de de estar com sessenta e três anos já mas eu estou me sentindo viva aqui. Coisas que eu não vinha sentindo”, conta a acampada Tamar Rosa Bezerra. Ela vivia de aluguel no município de Surubim. Saiu da cidade e se tornou uma liderança do acampamento. Ela explica o porquê de se utilizar a cobertura de folhas em cima dos canteiros

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“É para proteger, né? Fortalecer mais o solo aqui nós não vamos, não queremos nada de veneno, não queremos nada de fogo, vamos aproveitar a terra pra fortificar a terra, o mato pra fortificar a terra”, diz.

A implementação do cultivo de alimentos saudáveis no acampamento foi uma união de conhecimentos entre todos. Muitas famílias, inclusive, não tinham prática na construção de um sistema agroflorestal.

Para José Guilherme, estudante de engenharia florestal na Universidade Federal Rural de Pernambuco, e voluntário na ocupação, o modelo é muito mais rentável do que o monocultivo.

“Foi juntando os conhecimentos um pouquinho de cada um né? E aí, somando com os conhecimentos da agrofloresta né? Fazendo um plantio é diferente do convencional. Tem gente que também plantava convencional a gente foi trabalhando pra ver como é que fazia pra plantar sem usar o agrotóxico né? Então a gente busco fazer a cobertura do solo, fazer consórcios em vez de plantar monocultivo”

Para construir a vida no acampamento, Ana Maria deixou o marido, 4 filhos e 9 netos na comunidade do Novo Caxangá, em Recife. A ideia, depois, é trazê-los, mas primeiro quer construir seu cantinho e logo começar a plantar. 

“O MST não invade terra. Apenas ocupa uma coisa que ninguém está dando valor. E aqui a gente quer colher o melhor, né? Tanto pra gente pra ajudar o próximo, né? Que é o importante. A gente não quer uma coisa que seja só pra gente, tem que pensar no próximo”, reflete Ana Maria. 

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A intenção do MST é que o local seja referência na produção de alimentos saudáveis a preços justos para abastecer as cidades de Glória de Guaitá, Feira Nova e Vitória de Santo Antão. “Hoje em dia há diversas doenças causadas por alimentos produzidos na terra com produtos químicos; e aqui a gente vai produzir um alimento saudável, sem agrotóxico. Então a bandeira do do MST é essa, é produzir um alimento sustentável de qualidade”, complementa Souza.

“O nome dessa fazenda era Boa Esperança, né? Então a gente tem muito isso, de trazer essa boa esperança e apagar esse passado da senzala que nossos antepassados passaram aqui, como escravizados da cana de açúcar. Queremos retomar essa história de outra forma, mudar a história dessa terra também”, acrescenta o acampado Luiz Fernando Santos Mamede.

Edição: Douglas Matos