De quinta-feira (11) até domingo (14), acontece a 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária do MST, com produtos diretamente da reforma agrária e sem agrotóxicos. A Feira volta a ser realizada depois de cinco anos da última edição, no Parque da Água Branca, região central da cidade de São Paulo.
Trinta e cinco toneldas de alimentos dos acampamentos e assentamentos do MST no Ceará saíram de Fortaleza, no último domingo (7), com destino a São Paulo.
Para saber mais informações sobre as expectativas e a preparação dos agricultores do estado do Ceará o Brasil de Fato conversou com Clarice Rodrigues, da Direção Estadual do MST e coordenadora do Centro de Formação, Capacitação e Pesquisa Frei Humberto.
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Brasil de Fato: O que é a Feira Nacional da Reforma Agrária?
Clarice Rodrigues: A Feira Nacional da Reforma Agrária é, na verdade, uma grande festa da cultura brasileira, dos camponeses, dos nossos assentamentos e acampamentos. Ela tem como principal objetivo debater com a sociedade a necessidade e a urgência do projeto popular de reforma agrária como instrumento de democratização e acesso à terra e da garantia de vida digna das famílias desses camponeses que constroem e que produzem de verdade no campo e que precisam dessa terra para poder produzir. Para para poder ter a possibilidade de realizar uma grande feira como essa, como nós estamos nos propondo a fazer, e é na verdade essa grande celebração da luta também, porque sem a luta pela terra, sem a resistência, sem a conquista dessa terra seria impossível estar falando de produção de alimentos, ainda mais de produção de alimentação saudável e está falando da possibilidade de realizar uma feira nacional do tamanho que é a Feira da Reforma Agrária que já estamos indo para a quarta edição.
Além de ser essa celebração da cultura, da cultura camponesa, de ser essa possibilidade de falar, de pautar a reformar agrária popular como esse instrumento necessário, ela é também a celebração dessa grande conquista, é a celebração dessa luta, é a celebração do que nós temos feito durante todo esse tempo de MST.
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Qual a importância da realização da Feira?
A importância da feira é exatamente isso, é a possibilidade de podermos discutir a reforma agrária popular, de fazer essa discussão entre campo e cidade, de mostrar para a sociedade, de mostrar para a cidade que a reforma agrária popular é isso, o que é que ela se propõe, o que é que ela tem construído, mostrar de fato o que nós estamos fazendo no campo, o que nós estamos fazendo nos assentamentos e porque que é necessário lutar pela terra.
Muitas pessoas na cidade tem uma outra versão do que é o MST. Tem uma outra versão, a partir da mídia comercial, do que é o MST. Então realizar uma feira dessas, levar para a cidade os nossos produtos, para um grande centro urbano como é São Paulo e mostrar a grandiosidade do que é o nosso produto, do que nós estamos construindo, de fato, no campo é fundamental. Então uma das grandes importâncias da Feira é poder manifestar a nossa cultura naquele espaço, nesses espaços, além de fazer essa interlocução com trabalhadores da cidade.
Os trabalhadores do campo levando a sua produção agroecológica, a sua produção sem veneno, a sua produção em transição, porque nós temos nessa feira produtos que estão certificados como orgânicos, mas nós temos uma produção agroecológica e uma produção em transição agroecológica. Então é a possibilidade da gente dialogar com a sociedade, com os trabalhadores urbanos, com as pessoas que estão no urbano, de um modo geral, do que nós estamos produzindo, da grandiosidade que nós temos nos nossos assentamentos, do ponto de vista da cultura, do ponto de vista da produção de alimentação saudável.
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Além da alimentação saudável e do debate da luta pela terra, a Feira também serve para apresentar o que é o MST?
Com certeza. Estamos mostrando a nossa cara ali, de fato. A nossa vivência do dia a dia. A Feira Nacional é uma junção de várias feiras pelos estados. Nós teremos um espaço extremamente importante dentro da Feira, além de toda a programação que está belíssima, que é a Culinária da Terra, que são as nossas cozinhas levadas para dentro da Feira. Quando a gente diz que as cozinhas Sem Terra nasceram com o movimento é porque uma das primeiras coisas que se faz quando rompe o arame farpado do grande latifúndio improdutivo é a construção da cozinha coletiva para processamento dos alimentos de forma coletiva, que vai garantir a nossa permanência naquela terra e que vai nos fortalecer também, junto com toda a mística da luta pela terra, o alimento que vai dar força para a gente enfrentar tudo aquilo ali, meses, anos até de ocupações, de luta pela aquela terra. Então as nossas cozinhas estarão lá com vinte e duas cozinhas organizadas, trazendo sabores de diversos desses vinte e dois estados e uma comida que é mais do que sabor, é resistência.
E assim, então vai ser a nossa cara, vai ser os vários estados onde nós estamos organizados vivenciando ali quatro dias de feira, com os nossos produtos, então é a cara do MST espalhada nesse Brasil todo, juntos em um só espaço onde as pessoas vão poder ver, discutir, tirar suas curiosidades. Com certeza, um momento para conhecer o MST, para discutir, para conversar, para dialogar com a militância que está lá com os nossos assentados, com os nossos acampados e pessoas desse Brasil inteiro.
A Feira volta a ser realizada depois de cinco anos da última edição. Por que passou todo esse tempo sem a sua realização?
Nós fizemos a terceira Feira Nacional da Reforma Agrária em 2018, e aí nós tivemos um problema no ano seguinte que foi de espaço mesmo, de viabilizar a estrutura, enfim, e depois foi a questão da pandemia, esse momento triste que a gente vivenciou e que acabou impossibilitando que a gente pudesse fazer várias outras atividades presenciais, dentre elas a feira.
A gente volta agora com muita vontade, muito animados para a realização da nossa feira depois desse tempo todo que, de certa forma, a gente passou por momentos muito difíceis, como a pandemia, mas também por momentos muito importantes que nos fortaleceram muito na luta pela terra, na luta pela construção da reforma agrária popular e da solidariedade. Então assim, a pandemia, no mesmo momento que foi um momento triste, de muitas perdas foi também um momento que nós nos voltamos para dentro dos nossos assentamentos, que nós nos fortalecemos enquanto assentados da reforma agrária, do ponto de vista da produção de alimentação saudável e fortalecidos nessa produção, pudemos dividir o que nós estávamos produzindo. Aumentamos a nossa produção e pudemos dividir com pessoas que estavam em uma situação bem complicada do ponto de vista da vulnerabilidade nesse momento pandêmico e dividimos a nossa alimentação, fizemos bonitas atividades de solidariedade, de divisão de alimentos por todo o Brasil.
A gente volta entendendo que a Feira, este ano, dobra de tamanho porque a gente vem em um crescente enquanto feira, e aí já trazendo um pouco dos dados também do que foi a primeira, a segunda e terceira feira. A gente teve, por exemplo, na primeira feira 220 toneladas de alimentos e na última a gente teve 420 toneladas de alimentos sendo comercializados e expostos, e nós estamos dizendo que este ano a gente leva muito mais do que isso. Nós devemos levar para mais de 500 toneladas de alimentos de todos os estados onde nós estamos organizados.
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Esses dados que você trouxe para nós provam que é possível produzir alimento saudável e sem agrotóxicos?
Com certeza. É a prova viva disso. Acho que as nossas feiras pelos estados já são provas disso. A exemplo disso, nós temos a Feira Cultural da Reforma Agrária, que acontece no Centro de Formação, Capacitação e Pesquisa Frei Humberto, em Fortaleza, todo segundo sábado de cada mês e a feira também, assim como uma Feira Nacional, tem tido uma crescente. A gente tem trazido cada vez mais produtos, temos aumentado a variedade desses produtos, então com certeza as feiras, os nossos armazéns, os nossos espaços, por onde é possível encontrar os nossos produtos, os nossos assentamentos são provas vivas de que é possível produzir sem agrotóxicos e que é essa produção que alimenta de verdade.
Qual é a programação da Feira Nacional da Reforma Agrária deste ano?
A Feira está belíssima de programação. A abertura da Feira acontece na quinta-feira, dia 11, às 10 horas da manhã. Tem coletiva de imprensa, tem apresentações culturais ali na abertura. Já no primeiro dia também nós vamos ter seminários. A Feira tem vários seminários. Na verdade, é um conjunto de várias programações dentro da Feira porque nós vamos ter seminários, vamos ter as nossas cozinhas com a culinária da terra, nós vamos ter a venda e a exposição de produtos, nós vamos ter shows à noite, como o Zeca Baleiro, por exemplo, a gente vai ter uma galera muito boa já ali no início abrindo a Feira.
Vamos ter cafés com os nossos amigos, que a gente está chamando de Café Institucional, no segundo dia, no dia 12, e vai ser isso. A programação está belíssima mesclando vendas, exposição de produtos, culinária da terra, seminários, muitos espaços de formação, teremos ciranda infantil, então vai ter um momento também para os nossos Sem Terrinhas, onde vão estar reunidos durante todo esse período lá, possibilitando que os pais, que a militância, que os nossos assentados que vão com trabalho na Feira também possam ter aquele espaço para as crianças estarem lá também trazendo o que vivenciam nos nossos assentamentos.
Está muito bonita a apresentação da Feira e eu tenho certeza de que vão ser dias muito bonitos, muito cheio de boas energias trazidas diretamente dos nossos assentamentos e dos nossos acampamentos. A entrada na Feira é gratuita, toda a programação é gratuita. Os seminários, têm indicação dos estados que vão participar, então são momentos mais orgânicos, vamos dizer assim, a gente tem indicação de participação de alguns seminários, mas a programação em geral da Feira é aberta, é gratuita. É chegar e participar, é chegar e vivenciar com todos nós que estaremos lá.
Como é que estão os preparativos do Ceará para a participação da Feira?
Estamos bem animados. Este ano nós vamos com muita produção. Nós dobramos a produção que nós levamos da última feira. A gente deve ir com mais de 40 toneladas de alimentos este ano, estamos com um ônibus com 45 pessoas e uns três caminhões para levar toda essa produção. Estamos animados porque é a primeira feira que a gente leva os nossos produtos saindo das nossas agroindústrias. Vamos levar o mel, castanha, vamos levar a nossa cozinha também do Centro Frei Humberto com todos os sabores, então estamos bem animados, nossos assentamentos estão bem animados, as nossas brigadas e a nossa militância também.
Tem algum produto do Ceará que não pode faltar na Feira?
Não pode faltar na nossa culinária da terra o baião de dois. Com certeza vai ter baião de dois e vai ter carneiro no forno, vai ter carneiro cozido. Não pode faltar na nossa culinária. E nos nossos produtos em geral não pode faltar o mel, não pode faltar a nossa castanha, nossa farinha branca lá do litoral, não pode faltar os nossos produtos típicos do Ceará, rapadura de caju. E para os veganos e não veganos também, mas, principalmente, pensando nos veganos, a gente terá o prato do baião de dois com a carne de caju, na nossa culinária vamos ter o suco de caju também. A gente vai chegar com os nossos produtos típicos do Ceará, bem animados e em quantidade suficiente para segurar a Feira toda.
E quais são as expectativas para essa edição?
Nós estamos com as melhores expectativas. Já tinha batido uma saudade grande da Feira, então estamos animados, cheio de boas energias, de muita luta, de muita mística para chegar bem e poder vender todos os nossos produtos, poder dialogar com muitas pessoas, poder mostrar com muita alegria o que tem sido construir a reforma agrária popular nos assentamentos do estado do Ceará e, fruto disso, as nossas indústrias. Nós estamos com a indústria do leite, do laticínio, produzindo bastante leite, queijo, requeijão, caprinos na região dos Inhamuns, a castanha na região metropolitana, o mel, a farinha, além dos outros produtos que não estão saindo diretamente das indústrias, mas que estão saindo diretamente dos nossos assentamentos com muita resistência, com muita história de luta a partir de cada um desses assentamentos.
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Fonte: BdF Ceará
Edição: Camila Garcia