No Japão, a chegada do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que desembarcou no início da noite deste sábado (horário local), 20, em Hiroshima, pegou de surpresa os participantes do encontro, que viram o europeu se tornar o centro das atenções na cúpula, mesmo fora da agenda oficial.
“O Zelensky foi para a reunião e sequestrou o G7. A presença dele coloca todo assunto na sombra. Ele está lá para ser aplaudido pelo G7”, afirmou Giorgio Romano, professor de Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC) e membro do Observatório da Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (OPEB).
Após pisar em solo japonês, Zelensky pediu uma reunião com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A comitiva do Brasil ainda não respondeu ao convite do ucraniano e o encontro não está confirmado.
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Mas, para Romano, uma eventual evolução nas conversas pela paz podem favorecer uma perspectiva do governo brasileiro. “Acho que o Lula foi muito consistente desde o primeiro dia. Acontece que alguns governos da Otan foram pouco justos com Lula. Desde o primeiro dia da invasão, o Lula condenou a invasão. Na busca de uma solução, o Lula também faz apelo ao Zelensky, não apenas ao Putin.”
Em seu discurso, na cúpula do G7, Lula atacou o neoliberalismo e pediu ajuda aos países mais pobres. “O endividamento externo de muitos países, que vitimou o Brasil no passado e hoje assola a Argentina, é causa de desigualdade gritante e crescente, e requer do Fundo Monetário Internacional um tratamento que considere as consequências sociais das políticas de ajuste.”
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Romano lembra que Lula assumirá, ainda neste ano, a presidência do G20, grupo que reúne as vinte maiores economias do mundo, e que lhe interessa trazer para o debate uma posição defendida por países que não integram o G7.
“As mudanças estruturais devem ser discutidas no G20, onde há a presença do sul global. No G7, eles são convidados apenas para o cafezinho. É importante o Lula utilizar o espaço para dar esse recado, mas é um recado para ouvidos pouco preocupados com esse discurso”, disse Romano.
Edição: José Eduardo Bernardes