O deputado federal Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), presidente da CPI que investiga as atividades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), tentou calar a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), integrante da Comissão, depois que ela citou investigações autorizadas contra ele pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta participação em atos antidemocráticos.
O episódio aconteceu nesta terça-feira (23), dia de abertura das discussões da CPI na Câmara dos Deputados. Na mesma data, o ministro Alexandre de Moraes, relator no Supremo dos processos sobre os atos antidemocráticos, autorizou a Polícia Federal a retomar investigações sobre a atuação de Zucco em episódios registrados no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais de 2022.
Minutos após a notícia da autorização da reabertura ser publicada por veículos da imprensa, Sâmia se inscreveu para falar e citou o caso.
"Me inscrevi, senhoras e senhores, para dar uma notícia que acabou de sair na imprensa. Ficaram bastante incomodados com os deputados que falaram a respeito das investigações da Polícia Federal que recaem sobre o presidente, mas acabou de sair a notícia que o Moraes autoriza a Polícia Federal a retomar a investigação do presidente da CPI do MST pela participação em atos antidemocráticos, que até agora o senhor estava dizendo que era mentira", falava, enquanto teve o áudio do microfone cortado.
🚨 ABSURDO! O presidente da CPI do MST, Tenente Coronel Zucco, CORTOU O MICROFONE da nossa deputada @samiabomfim para impedir que ela apresentasse a notícia de que ele é investigado pelo STF. É esse bando autoritário e criminoso que acha que tem moral pra julgar o MST. #TôComMST pic.twitter.com/4coYCihIEB
— PSOL 50 (@psol50) May 23, 2023
Zucco, então, respondeu dizendo que não ia permitir a fala da deputada, afirmando que a leitura da notícia se comparava a "ataques pessoais".
Na mesma sessão, Sâmia tratou de colocar outro bolsonarista em seu devido lugar. O deputado Ricardo Salles (PL-SP), relator da CPI, tentou uma manobra para mudar o nome da Comissão para "Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a invasão de propriedade, depredação de patrimônio público e privado e crimes correlatos". A psolista protestou, e obrigou o ex-ministro "passador de boiada" a recuar.
Investigações contra Zucco
O hoje deputado federal Luciano Lorenzini Zucco, que se apresenta com sua patente obtida no Exército, foi eleito deputado estadual no Rio Grande do Sul em 2018 na onda bolsonarista. Em 2022, buscou voos mais altos e chegou a Brasília.
Bolsonarista "raiz", ele se juntou aos "patriotas" que trataram de negar a vitória de Lula, e foi apontado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul como incentivador de atos antidemocráticos no estado. Ele foi denunciado à justiça gaúcha, mas o Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu que a investigação cabe ao STF, já que ele tem foro privilegiado.
Em uma das postagens que fez nas redes sociais na época, Zucco, que ainda era deputado estadual, compartilhou uma foto de uma mobilização antidemocrática em frente ao Comando Militar do Sul e convocou seus eleitores para protestar no local, atentando contra a democracia.
Em nota enviada à imprensa, ele se disse "surpreso", chamou de "sensacionalismo" a atuação de alguns veículos e afirmou que não tem qualquer envolvimento com atos antidemocráticos. "Estou tranquilo em relação à investigação e certo de que a Polícia Federal verificará que nenhum crime houve", prosseguiu.
Edição: Nicolau Soares