O último ano de governo de Jair Bolsonaro (PL) deu prosseguimento à tragédia que assolou a Mata Atlântica durante todo o mandato do presidente de extrema-direita. Entre outubro de 2021 e outubro de 2022 foram desmatados 20.075 hectares do bioma - área equivalente ao município de João Pessoa; maior que Natal e Aracaju e o dobro de Vitória, por exemplo.
Os dados foram publicados nesta quarta-feira (24) no Atlas da Mata Atlântica, organizado pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O desmatamento registrado nesse período foi 7% menor que o dos 12 meses anteriores, mas foi a segunda maior devastação do bioma nos últimos seis anos.
Segundo o levantamento, os principais estados responsáveis pelo desmatamento foram Minas Gerais, Bahia, Paraná, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. O desmatamento persiste principalmente por conta do agronegócio, para dar lugar a pastagens e culturas agrícolas, além da especulação imobiliária. Cerca de 73% das perdas aconteceram em áreas privadas, enquanto 0,9% da devastação aconteceu em áreas protegidas.
"As unidades de conservação em terras indígenas são fundamentais para a proteção da Mata Atlântica. Nesse bioma a gente tem uma proporção muito pequena de parques, áreas de conservação e áreas indígenas em relação à Amazônia, por exemplo. A gente tem de proteção integral, que são aquelas unidades de conservação dedicadas exclusivamente à proteção da biodiversidade, menos de 5% do nosso território do bioma dedicado a isso", explicou ao Brasil de Fato o diretor da SOS Mata Atlântica, Luís Fernando Guedes Pinto.
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O relatório divulgado nesta quarta também ressalta a importância da Mata Atlântica para a conservação da biodiversidade e a mitigação das mudanças climáticas, destacando que o desmatamento vai contra as pesquisas internacionais que apontam o bioma como um dos mais importantes para o futuro do planeta. O período de governo de Bolsonaro coincide com um aumento nos registros de desmatamento.
"Ele é o segundo valor mais alto dos últimos seis anos da série histórica", disse Guedes Pinto em referência ao registro de perdas até outubro de 2022. "Ele é 70% maior que o menor valor encontrado, em 2017/18, que foi 11.399 hectares, a gente já estava chegando perto de 10 mil hectares, que seria um valor que se aproximava do desmatamento zero, mas infelizmente voltou a crescer o desmatamento nos últimos três, quatro anos", lamentou.
Nova ferramenta para identificação de perdas
O relatório lançado nesta quarta conta com dados apurados por uma nova tecnologia, o Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica, que amplia a capacidade de monitoramento e combate ao desmatamento na região. O SAD identificou 9.982 alertas de desmatamento entre janeiro e dezembro de 2022, totalizando 75.163 hectares perdidos, ameaçando tanto as matas jovens quanto as maduras do bioma. Em janeiro e fevereiro de 2023, foram detectados 853 alertas, com uma taxa de perda de 104 hectares por dia.
"A gente tem imagens de satélite mais detalhadas, e conseguiu mapear todos os fragmentos acima de meio hectare, fragmentos várias vezes menores do que o que a gente enxergava antes, e também de florestas maduras e de florestas jovens, matas que estão se regenerando. A boa notícia é que a gente consegue enxergar 24% da cobertura florestal original, é muito mais mata, mas também enxerga muito mais desmatamento, ele passa a ser até quatro vezes maior", explica Guedes Pinto.
Os dados fornecidos pelo Atlas da Mata Atlântica e pelo SAD são complementares, oferecendo uma visão abrangente do estado de conservação do bioma e embasando ações de conservação e restauração.
Edição: Nicolau Soares