É bastante conhecido que os governos, sejam eles estaduais, municipais ou federais, dão o tom do que serão suas gestões nos primeiros 100 dias de trabalho. Ou, pelo menos, se espera que os gestores consigam colocar suas pautas prioritárias para andarem neste período. É triste ver que em Pernambuco chegamos a esse marco sem conseguir entender muito bem para que veio a governadora Raquel Lyra.
Teria um monte de coisas pra falar sobre isso, mas, nesta coluna, quero focar na educação pública do nosso estado. Sem ela, não há democracia, não há desenvolvimento, não há sustentabilidade. E está difícil conseguir acompanhar o tanto de reclamação e descaso. O ano letivo começou, mas os kits dos estudantes até agora não chegaram. Diversos estudantes estão denunciando a péssima qualidade nas refeições escolares e pior ainda, muitas unidades com falta de merenda, tendo que liberar os alunos antes do horário normal.
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E esses dois fatos tocam diretamente a vida dos estudantes. Primeiro que dar condições dignas para os jovens pernambucanos estudarem é dever do Estado. E segundo que a política das merendas escolares é uma ferramenta também de combate à fome. Muitos alunos e alunas se alimentam sobretudo do que é ofertado nas escolas. Ou seja, quando uma coisa desanda, a consequência é muito pior.
Sem comida, ninguém consegue estudar. E sem professor, não consegue caminhar. Nos últimos meses temos acompanhado de perto a luta dos professores e das professoras pela valorização do seu trabalho e pelo reajuste salarial. Com um sindicato forte, o Sintepe, foram várias mobilizações que deram o tom de que não existe satisfação da categoria docente das escolas pernambucanas com a mandatária. E a insatisfação é consequência de uma série de erros que Raquel Lyra insiste em cometer.
O primeiro e clássico equívoco de quem não quer construir saídas junto com as pessoas é a dificuldade no diálogo. A governadora enviou para a Assembleia Legislativa de Pernambuco o Projeto de Lei Complementar 712/2023, que oferece o reajuste do Piso do Magistério para uma pequena parcela da categoria, para ser votado em regime de urgência, depois dos profissionais não terem aceitado a condição que a gestão propôs. Quando se está negociando piso salarial a base de tudo é o diálogo.
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Por isso, defendo que seja aberta uma nova mesa de negociação entre o governo e a categoria e que o PL no executivo saia do regime de urgência. E fazer isso não seria um sinal de fracasso do governo, mas um gesto com os professores, demonstrando que existe sim disposição para o diálogo e a construção em conjunto de uma proposta que ao final será melhor para todo mundo. E que, apesar das dificuldades orçamentárias apontadas pelo Governo, também mostra que é possível a construção de uma melhor proposta.
Eu sempre vou estar na luta, lado a lado, dos e das trabalhadoras do nosso estado. Os professores merecem respeito. Para mim, quem não está do lado deles, não merece representá-los em cadeira nenhuma da política institucional.
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* Rosa Amorim é deputada estadual em Pernambuco. Crescida nas fileiras do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), foi diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE) e também militante do Levante Popular da Juventude.
** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.
Edição: Vanessa Gonzaga