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Caso Thiago Wild: apoio a denunciado por violência doméstica mostra machismo da sociedade

O atleta brasileiro venceu o número 2 no ranking mundial de tênis e passou a ser celebrado, mesmo sendo acusado pelo MP

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Em coletiva após a vitória contra Medvedev, Wild se recusou a falar sobre o assunto e questionou jornalista por levantar a questão - Anne-Christine Poujoulat/AFP

O tenista Thiago Seiboth Wild, de 23 anos, explodiu na mídia e nas redes sociais nesta terça-feira (31) após protagonizar um feito esportivo digno de nota. Atual 172º do mundo, ele venceu o russo Daniil Medvedev, o atual 2º colocado no ranking mundial, na primeira rodada do torneio de Roland Garros, realizado na França. 

Mas por ser um tenista desconhecido do grande público, apenas os fãs mais ardorosos do esporte conheciam Wild e seus problemas com a Justiça. O paranaense de Marechal Cândido Rondon é denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) por violência doméstica e psicológica contra a ex-companheira, a biomédica e influencer Thayane Lima. Além disso, ele também responde a processo por falta de pagamento de pensão alimentícia.

A denúncia aconteceu em junho de 2022, mas Wild ainda não foi citado pela Justiça. Isso porque ele não foi encontrado nos endereços que constam no processo. O tenista, de fato, está treinando na Argentina. 

Em resposta a questionamento realizado pela reportagem do portal UOL, a defesa de Wild afirmou que "Thiago não foi localizado pois está fora do Rio de Janeiro e do Brasil dedicando-se às atividades profissionais, fato este que é de conhecimento público. Entretanto, possui defesa constituída nos autos, que se manifestará tão logo seja intimada".

Na entrevista coletiva realizada após a vitória sobre Medvedev, Wild se recusou a falar sobre o assunto e criticou o repórter que levantou a questão. "Não acho que seja um assunto que devamos falar aqui. Acho que é uma pergunta que você não deveria fazer a ninguém. Não acho que cabe a você decidir se é o lugar para falar sobre isso ou não", disse. 

A vítima das agressões, Thayane Lima, se pronunciou em rede social sobre o caso. Em uma série de stories do Instagram, ela afirmou que seu perfil recebeu visitas de pesosas que querem entender o caso, mas que não iria entrar em detalhes e que não faria "barraco".

"Claro que não dá para esquecer o que aconteceu. A Justiça está resolvendo isso. Tudo o que eu falei eu tinha como provar e foi provado, porque o Ministério Público aceitou a denúncia, então não foi brincadeira. Agora, quanto ao que vai acontecer com ele ou com a carreira dele, não cabe a mim. Está na mão do MP, o processo ainda está rolando, e eu espero que a justiça seja feita", afirmou em vídeo. 

Descaso com a violência contra a mulher

A jurista Maria Berenice Dias vê no caso uma evidência flagrante do machismo e misoginia que imperam na sociedade brasileira. "Como sempre a violência doméstica não é tratada, por esse nosso machismo estrutural, com a severidade e com a seriedade que mereceria", acredita. "Nós precisamos ter mais mecanismos e mais ferramentas pra ensejar esta efetividade maior [da lei Maria da Penha] para não acontecer o que está acontecendo neste caso."

Ela lembra que, mesmo morando fora do Brasil, há maneiras de citar uma pessoa para responder um processo no país. "Para isso existe Interpol, existem polícias internacionais, para ir atrás, como se faz com outros criminosos", explica. 

Maria Berenice lamenta, ainda, o apoio que o jogador vem recebendo. "Talvez o mais surpreendente seja que nas redes sociais ele está sendo apoiado, infelizmente não só por homens mas também por mulheres. Acho que é um dado muito assustador, mostra ainda a resistência que se tem de reconhecer a violência com a seriedade que ela deveria gerar", diz.

Wild também teve problemas com a Justiça no início da pandemia de coronavírus. O tenista se contaminou com o coronavírus em março de 2020, na sua cidade natal, mas não cumpriu isolamento. Ele foi alvo de uma liminar do Tribunal de Justiça do Paraná, que determinou que ele e sua família deveriam permanecer em isolamento, sob pena de pagar multa de R$ 30 mil.

Edição: Rodrigo Durão Coelho