Tentativa de golpe

Em depoimento a CPI no DF, general Heleno chamou 8 de janeiro de 'demonstração de insatisfação'

Oitiva foi realizada na manhã desta quinta-feira (1) na CLDF e terminou com tumulto

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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General Heleno criticou ações do STF, mas negou tenha intimidado a Corte - Gabinete do dep. Chico Vigilante

O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro, general Augusto Heleno Ribeiro Pereira foi ouvido nesta quinta-feira (1º), na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Em seu depoimento o general Heleno buscou minimizar falas consideradas golpistas enquanto ocupava o cargo de ministro no governo Bolsonaro e classificou os atos golpistas como "manifestações" e "demonstração de insatisfação".

"Esse termo 'golpe' está sendo empregado com extrema vulgaridade", afirmou general Heleno, durante a oitiva, quando questionado pelo presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT) sobre seu encontro com o influenciador bolsonarista Romário Garcia, preso por envolvimento nos atos terroristas de 8 de janeiro. O general disse que não conhecia o influenciar, mas ao ser apresentada a lista das pessoas que ele recebeu em 18 de novembro ele disse que recebia muita gente que não conhecia.

"Eu acho que o tratamento que estão dando a essa palavra golpe não é um tratamento adequado", afirmou o general Heleno, acrescentando que "pra ter um golpe precisa ter líder".

O presidente da CPI perguntou ao general se faltou um líder para o golpe acontecer e ele desconversou dizendo que no Brasil não seria fácil. "É um processo que não é assim: vamos sair e vamos dar um golpe ainda mais num país como o Brasil, com a extensão territorial e 220 milhões de habitantes."

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O ex-chefe do GSI justificou algumas de suas falas durante o período em que era ministro como a de que ele teria que tomar "lexotan na veia" para não levar Bolsonaro a atitude drástica contra Supremo Tribunal Federal. "A frase foi retirada do contexto de uma palestra de 40 a 50 minutos. Eu falei muito e de maneira jocosa, primeiro porque lexotan não se toma na veia. Foi uma brincadeira", justificou.

Segundo o general Heleno, a atitude que Bolsonaro poderia tomar na ocasião seria fazer um rompimento declarado ao STF. "Isso poderia acontecer. Houve uma série de atitudes do STF que poderiam desagradar uma parte da população. Poderia desagradar o próprio presidente." O depoente disse ainda que sempre atuou como "um poder moderador" enquanto chefe GSI e declarou que Bolsonaro "sempre manteve a calma" diante dos supostos ataques.

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Atos antidemocráticos

Durante os questionamentos do deputado Fábio Félix (PSOL) o general Heleno classificou os atos terroristas do dia 12 de dezembro como "ações descoordenadas" e não como tentativa de golpe. O deputado lembrou que no dia 12 houve uma série de atentados em Brasília feitos por apoiadores do ex-presidente Bolsonaro na mesma dada da diplomação do presidente Lula, mas o depoente minimizou.

Fábio Félix resgatou diversos episódios e falas consideradas por ele intimidatórias do general Heleno enquanto ministro em relação ao STF. O depoente negou o teor intimidatório e declarou que acredita no processo eleitoral brasileiro "em termos". "É preciso que haja evolução na urna eletrônica para que ela seja totalmente confiável", acrescentou.

O general Heleno negou qualquer responsabilidade sobre os atos de 12 de dezembro ou 8 de janeiro, quando ainda havia ex-subordinados seus atuando no GSI.

"As pessoas não brotaram no dia 8 de janeiro. Elas são fruto de um processo golpista que foi construído ao longo do tempo", lembrou Fábio Félix ao final da sua participação na CPI.

Tumulto

Os deputados Max Maciel (PSOL) e Gabriel Magno (PT) também participaram da oitiva e questionaram o general Heleno por minimizar a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro. Magno ainda também destacou que as falas do depoente em relação ao golpe de 1964 são um "desprezo e desrespeito a memória recente desse país".

"Em 64 um golpe violento, que instaurou uma ditadura militar sangrenta que matou, sequestrou, torturou, desapareceu e perseguiu opositores durante 20 anos", afirmou Gabriel Magno, sendo interrompido pelo general Heleno que afirmou que era a visão do parlamentar. "A história foi deturpada." Magno rebateu dizendo que "infelizmente esse país não puniu como deveria punir os torturadores e assassinos da ditadura de 64".

Antes de passar a palavra para o general Heleno responder aos questionamentos de Magno, o presidente da CPI tentou apaziguar os ânimos, mas o depoente defendeu a ditadura militar abertamente: "O movimento de 64 salvou o Brasil de virar um país comunista. Eu não tenho nenhuma dúvida que o Brasil este a um passo de virar um país comunista".

Após a defesa explicita da ditadura no plenário da CLDF, Gabriel Magno e os demais deputados progressistas protestaram, pediram a palavra e em razão do tumulto Chico Vigilante optou por encerrar o depoimento. "Eu repudio e lamento que dentro de um parlamento que foi fechado durante na ditadura um general tenha o direito de defender a ditadura militar. Ditadura nunca mais", afirmou Fábio Félix após o ocorrido. Já Magno não teve mais direito a fala.

Novas Convocações

Durante a sessão da CPI os deputados distritais decidiram reconvocar o coronel Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) em razão de conflitos de versos geradas a partir do depoimento do general do Exército Gustavo Henrique Dutra.

Também foi aprovado o requerimento da convocação de Flávio Silvestre de Alencar, major da PMDF preso em 23 de maio na 12ª fase da Operação Lesa Pátria suspeito de ordenar o recuo das tropas para facilitar a invasão do prédio do Supremo Tribunal Federal no dia 8 de janeiro.

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Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino