MEIO AMBIENTE

Uma árvore de 300 anos 'pertence à humanidade', diz Lula ao lado do presidente finlandês

Petista defende meio ambiente, acordo de paz na Ucrânia e reforma na ONU durante coletiva com líder europeu

Botucatu (SP) |
Lula: "“Nenhum cidadão, por mais rico que seja, tem o direito de cortar uma árvore de 300 anos, que pertence à humanidade, para fazer cadeira, cama, guarda-roupa" - Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez, nesta quinta-feira (1º), discurso em defesa do meio ambiente e contra as pessoas que derrubam árvore para fins agropecuários e para o conforto pessoal.

"Não precisamos derrubar nenhuma árvore para plantar soja, milho, cana, para criar gado. Se quisermos aumentar nossa produção agrícola, nossa criação de animais, temos mais de 30 milhões de hectares de terras degradadas que podem ser recuperadas para plantar o que quiser", afirmou Lula durante pronunciamento à imprensa ao lado do presidente da Finlândia, Sauli Niinisto, em Brasília.

"Uma árvore em pé vale muito mais do que uma árvore derrubada", prosseguiu o presidente brasileiro. "Nenhum cidadão, por mais rico que seja, tem o direito de cortar uma árvore de 300 anos, que pertence à humanidade, para fazer cadeira, cama, guarda-roupa. Ele que plante uma floresta. Pode plantar mogno, jacarandá, o que quiser. E quando crescer ele corta. Mas aquilo que é da natureza, que é de todos, é preciso termos consciência que não pode ser aproveitado por um [único cidadão]".

Em visita oficial ao Brasil, o líder finlandês disse ter ficado "impressionado em ouvir Lula, seus pensamentos e políticas sobre mudança climática".

Lula, que havia destacado a questão ambiental entre as prioridades para o processo de integração sul-americana, durante reunião de cúpula na última terça-feira, afirmou que o governo brasileiro vai brigar pelo combate às mudanças climáticas. E aproveitou para cobrar os US$ 100 bilhões anuais que os países ricos se comprometeram a repassar para nações em desenvolvimento protegerem o meio ambiente, durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2015 (COP 21, em Paris).

"Esses US$ 100 bilhões nunca aparecem", disse Lula. "É preciso sair da teoria do discurso e começar a regular. Como esse dinheiro vai ser repartido, como vai ser investido, quem vai receber esse dinheiro?". Em janeiro desse ano, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, fez a mesma cobrança durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos.

Lula afirmou também que a Amazônia precisa ser explorada na qualidade e riqueza de sua biodiversidade, a fim de tirar proveito para indústrias como a de fármacos, a de cosméticos, para gerar um novo tipo de indústria na região. "A preservação que temos que fazer é por necessidade do próprio Brasil, pela responsabilidade com a manutenção do mundo como ele é".

Ao falar do cuidado com o planeta, o presidente aproveitou para emendar com um dos seus temas favoritos: a governança global. Assim como havia feito na última reunião do G7, Lula cobrou mudança no Conselho de Segurança da ONU, falando sobre o fim do direito de veto e a inclusão de novos países como membros-permanentes: Brasil, Índia, África do Sul, Egito, Alemanha, Indonésia e Nigéria.

"As três últimas guerras que tivemos foram feitas por membros do Conselho de Segurança, e ninguém pediu autorização ao Conselho de Segurança. Foram os Estados Unidos com o Iraque (2003); a França e Inglaterra com a Líbia (2011); e agora a Rússia com a Ucrânia", prosseguiu o presidente. "Então, é preciso que a gente fortaleça essa governança global para que a ONU volte a ter moral, representatividade e força para fazer com que sejam cumpridas as decisões multilaterais que a gente toma".

Ucrânia

A Finlândia, que faz fronteira com a Rússia, decidiu entrar para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) após a invasão da Ucrânia, a fim de se precaver contra uma possível invasão do seu território. "Nós nunca quisemos entrar para uma aliança militar", contou o presidente finlandês. Mas após a invasão da Ucrânia, segundo ele, a porcentagem da população que defende a adesão à Otan subiu de 26% para mais de 50%.

Após dizer que "o Brasil voltou para a mesa da geopolítica, e isso é bom", Sauli Niinisto afirmou que ele e Lula têm a mesma opinião sobre a guerra. "A paz é a coisa mais importante e toda tentativa para a paz é válida. Nós pensamos que a Ucrânia foi atacada ilegalmente pela Rússia e a Ucrânia merece uma paz justificada, que é a paz que a Ucrânia pode aceitar".

Lula voltou a dizer que o Brasil é contra a ocupação territorial da Ucrânia e está, junto com outros países, tentando criar as condições para a paz. "Por isso conversei com os presidentes da China, da Indonésia, da Índia, já conversei com companheiros aqui da América do Sul, e estamos tentando formular a oportunidade, quando convier aos presidentes da Rússia e da Ucrânia, de colocar uma proposta de paz na mesa. Mas não acontecerá nada enquanto Ucrânia e Rússia não decidirem que querem a paz".

O finlandês, num tom realista, afirmou que o fim da guerra "não está à vista".

Edição: Thales Schmidt