O Diálogo de Shangri-La, fórum asiático anual de defesa e segurança, rendeu debates acalorados no último fim de semana, em Singapura, sobre algumas das questões geopolítica mais tensas do momento: a guerra na Ucrânia e a soberania de Taiwan.
O ministro da Defesa da Indonésia, Prabowo Subianto, apresentou um plano de paz que tornou ainda mais claras as divergências sobre como lidar com a invasão russa ao território ucraniano. A proposta prevê um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, seguido pela criação de uma zona desmilitarizada ao redor das fronteiras atuais, o envio de uma missão das Nações Unidas e realização de referendos nos “territórios em disputa”.
O ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, disse que a proposta mais parecia um “plano russo.” “Não precisamos de mediadores sugerindo planos tão estranhos”, afirmou. A Ucrânia tem insistido que qualquer negociação de paz só poderá ser levada a sério depois que a Rússia se retirar dos territórios ocupados. Ou seja, existe uma pré-condição por parte do país invadido.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem se posicionado com frequência sobre o tema e se colocado como possível mediador, costuma defender que o primeiro passo seja o cessar-fogo. Lula defende que países em desenvolvimento do Sul Global, como Brasil, Índia e Indonésia, atuem como mediadores.
Embora a Indonésia, maior economia do sudeste asiático, tenha condenado formalmente a invasão da Ucrânia, a intervenção de seu ministro parece revelar uma ambivalência. Se por um lado afirmou que o país invasor e o invadido não podem ser equiparados, Prabowo declarou também que algumas reações ao conflito são “emocionais demais”.
A Ásia vivenciou, segundo ele, guerras mais desastrosas, mais sangrentas do que a Ucrânia tem vivido. “Pergunte ao Vietnã, ao Cambodja. Pergunte aos indonésios quantas vezes fomos invadidos”, declarou.
Esse tipo de comparação remete a situações do passado em que países ocidentais, notadamente os Estados Unidos, estiveram no papel de invasores. Recentemente, o presidente Lula, num recorte um pouco diferente, também recorreu ao histórico de conflitos da humanidade para defender uma reforma na governança global.
Nesta segunda (5), a Rússia comentou sobre o plano da Indonésia. “Vamos levar em conta, se a proposta for enviada oficialmente”, disse o vice-ministro de Relações Exteriores, Andrey Rudenko. “Consideramos bem-vindos todos os esforços de todos os países que tenham o intuito de encontrar uma solução pacífica para o conflito”.
Taiwan
Sobre Taiwan, pequena nação insular que a China reivindica como parte integrante de seu território, dois fatos recentes tiveram repercussão no evento em Singapura: 1. no estreito de Taiwan, um navio de guerra chinês cortou a rota de um destróier estadunidense, que teria precisado reduzir a velocidade para evitar uma colisão; 2. um caça chinês teria manobrado de forma ameaçadora perto de um avião-espião dos Estados Unidos na região.
O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse que seu país não está em busca de confronto, mas “não vai vacilar” em caso de provocação. Segundo ele, a China está conduzindo um “número alarmante de interceptações arriscadas contra aeronaves dos EUA e países aliados que voam legalmente no espaço aéreo internacional”.
A China alertou para que forças armadas de países ocidentais fiquem longe de suas fronteiras. “Por que essas coisas acontecem perto das águas e do espaço aéreo soberano da China? Os navios e aviões chineses nunca se aproximam do espaço aéreo e dos mares de outros países”, afirmou o general Li Shangfu, ministro de Defesa chinês.
Uma guerra seria “devastadora” e afetaria a economia global “de maneiras que sequer podemos imaginar”, disse o estadunidense Lloyd Austin, ao enfatizar o apoio de seu país à independência de Taiwan.
Logo após a fala de Austin em Singapura, o tenente-general Jing Jianfeng, do Exército chinês, declarou que os comentários do secretário estadunidense estavam “completamente errados”. Ele acusou Washington de tentar “consolidar sua hegemonia e provocar confrontos”.
O governo Joe Biden apoia Taiwan, o que é uma posição ambígua, uma vez que a relação diplomática estabelecida entre EUA e China implica reconhecer a ilha como chinesa.
* Com informações da Folha de S. Paulo, Financial Times, CNN e agência Tass.
Edição: Thales Schmidt