Intelectuais, líderes políticos, sindicais e de movimentos populares de mais de 20 países manifestaram apoio ao governo do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, e denunciaram uma tentativa de "golpe suave" no país.
Mais de 400 pessoas assinaram um documento publicado nesta quarta-feira (07) intitulado "Um golpe suave está em curso na Colômbia", denunciando tentativas de setores dos "poderes tradicionais" de barrar as reformas propostas pelo mandatário de esquerda.
"O objetivo dessa campanha coordenada é claro: proteger os interesses dos poderes tradicionais da Colômbia frente às reformas populares que aumentariam salários, melhorariam a saúde, protegeriam o meio ambiente e levariam à 'paz total' ao país", diz um trecho da carta.
Entre os signatários, se destacam nomes como os do intelectual estadunidense Noam Chomsky, do líder trabalhista britânico Jeremy Corbyn, do argentino Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, e do líder do partido de esquerda francês França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon.
O documento foi divulgado nesta terça-feira, mesmo dia em que movimentos populares e partidos se preparam para ir às ruas em diversos locais na Colômbia para apoiar o governo Petro e denunciar o que eles classificam como casos de "perseguição judicial" contra membros do Pacto Histórico, coalizão que levou o presidente ao poder.
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"Dos escritórios da Procuradoria-Geral e do Ministério Público (MP), respectivamente, Matrgarita Cabello e Francisco Barbosa estão ativamente mirando em membros do Pacto Histórico com investigações que podem resultar em suspensão, demissão e desqualificação de membros do Congresso", denuncia o documento.
Os signatários também afirmam que "ex-generais, coronéis e membros dos setores militares da Colômbia não só revelaram sua oposição ao presidente Gustavo Petro, mas chegaram a marchar em frente ao Congresso pedindo um golpe de Estado contra seu governo".
Entre os assinantes do documento também estão lideranças brasileiras como João Pedro Stédile (MST), Gleisi Hoffmann (PT), Mónica Valente (Foro de São Paulo), Guilherme Boulos (PSOL), Sérgio Nobre (CUT), entre outros parlamentares de esquerda e organizações sindicais.
Também assinam os ex-presidentes colombiano, Ernesto Samper, o equatoriano, Rafael Correa, e o ex-premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero. O presidente do Parlamento da Venezuela, Jorge Rodríguez, também participou da assinatura do documento.
Leia o documento na íntegra aqui.
Entenda a crise na Colômbia
Desde que tomou posse, em agosto do ano passado, o governo Petro vem enfrentando pressões de setores da oposição. Membros do governo denunciam que há uma tentativa de sabotar o governo, principalmente as reformas propostas pelo presidente como a da saúde, a trabalhista e a da previdência.
A situação se agravou em abril deste ano, quando Petro rompeu com três partidos de direita que compunham sua coalizão após enfrentar travas no Congresso às reformas. A decisão levou a uma reformulação ministerial e perda de interlocução com setores de centro e de direita no Legislativo.
Enquanto enfrenta crises internas, membros do governo e parlamentares denunciam que setores do Judiciário, como a Procuradoria e o MP, tentam politizar investigações contra supostas irregularidades de deputados e senadores da coalizão governista.
O último caso que ampliou a crise no governo ocorreu na semana passada, quando Petro exigiu a renúncia de sua chefe de Gabinete, Laura Sarabia, e do embaixador colombiano na Venezuela, Armando Benedetti, que havia sido seu chefe de campanha eleitoral.
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Anunciadas na última sexta-feira (02), as demissões de Sarabia e Benedetti vem em meio a ameaças trocadas por ambos que envolvem supostas escutas telefônicas, roubo de dólares e doações de campanha. O MP já anunciou abertura de investigações.
O governo, por sua vez, voltou a denunciar uma tentativa de "golpe suave", rebateu todas as acusações de doações ilícitas e garantiu que não houve grampos ilegais. "Não aceito ser chantageado", disse Petro, após as repercussões judiciais.
Edição: Patrícia de Matos