Faltando 70 dias para o primeiro turno das eleições gerais antecipadas no Equador, o partido que aparece como favorito nas pesquisas apresentou oficialmente sua chapa presidencial, e com uma surpresa: a presença de uma mulher encabeçando a chapa, o que poderia resultar na primeira vez na história que o país não será governado por um homem.
A novidade foi revelada na noite deste sábado (10/06), quando o Revolução Cidadã, partido de esquerda fundado e liderado pelo ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), anunciou oficialmente a sua candidatura presidencial, que será liderada pela advogada e ex-congressista Luisa González, de 45 anos, com o economista e ex-ministro Andrés Arauz, de 38 anos, como vice-presidente.
::O que está por trás do processo de impeachment no Equador::
Na cerimônia, a direção do Revolução Cidadã também apresentou alguns detalhes da agenda que González y Arauz começarão a seguir a partir desta semana, visando promover a campanha do partido para as eleições gerais, cujo primeiro turno está marcado para o dia 20 de agosto – lembrando também que, caso seja necessário um segundo turno na disputa presidencial, ele acontecerá em 15 de outubro.
Em um vídeo difundido em suas redes sociais, Rafael Correa comemorou a nomeação de González como candidata presidencial e lembrou dos períodos em que ela foi sua assessora especial da Presidência. “Com Luisa, com Andrés e com todos vocês, juntos, voltaremos a ser uma pátria”, afirmou o ex-presidente.
Quem é Luisa González
Com o anúncio, o Revolução Cidadã tenta fazer história, ao tentar eleger a primeira mulher presidente do Equador.
A nomeação de Luisa González é resultado de uma ascensão meteórica como uma das congressistas mais destacadas da oposição ao presidente Guillermo Lasso desde maio de 2021.
Esse, porém, foi o único cargo eletivo que ela ocupou em toda a sua carreira, e que exerceu até o dia 17 de maio, quando o mandatário equatoriano, para fugir de um processo de impeachment, decidiu decretar a dissolução do Congresso e a antecipação das eleições.
Até a década passada, González era uma figura muito conhecida nos bastidores da política. Em 2008, durante o primeiro mandato de Correa como presidente, ela começou a trabalhar diretamente com o líder progressista, na Secretaria de Comunicação e Informação da Presidência.
Foi promovida no mesmo ano, mas para um cargo menos próximo de Correa, como coordenadora-geral da Secretaria de Desenvolvimento Institucional e Superintendência de Companhias do Estado [órgão que funciona como uma espécie de coordenadora das empresas estatais].
A partir de 2010, González voltou a trabalhar diretamente com o presidente equatoriano, como coordenadora da agenda estratégica presidencial. Um ano depois, foi designada como vice-cônsul do Equador em Madri, capital da Espanha.
Retornou ao Equador em 2014, para ser vice-ministra do Turismo. No ano seguinte, voltou a coordenar a agenda presidencial, dessa vez como Secretária Geral da Presidência. Porém, novamente, ficou apenas alguns meses nesse cargo, e sua saída a levou ao mesmo destino da outra vez, a capital espanhola, e não como vice, mas sim como cônsul geral do Equador em Madri.
Esses períodos na Espanha parecem estranhos, mas foram uma escolha de Gonzaléz para desenvolver seus estudos no país europeu. Formada em Direito pela Universidade Internacional do Equador antes de iniciar sua carreira no serviço público, a agora candidata presidencial concluiu em 2015 o curso de mestrado em Economia Internacional pela Universidade Complutense de Madri.
Durante o governo de Lenín Moreno (2017-2021), ela acumulou curtos períodos como assessora administrativa na estatal Correos del Ecuador, na Secretaria Nacional da Administração Pública e no Ministério do Trabalho, até voltar a um cargo diplomático, como cônsul geral do Equador em Alicante.
Em 2021, González lançou-se candidata pela primeira vez na vida e foi eleita congressista. Na Assembleia Nacional (unicameral), ela representava a província de Manabí, que fica no Noroeste do Equador.
Nas eleições de agosto de 2023, ela concorrerá junto com o economista Andrés Arauz, de 38 anos, que foi candidato presidencial do Revolução Cidadã em 2021, e chegou a ser o mais votado no primeiro turno, com mais de 3 milhões de votos nessa instância, mas perdeu no segundo turno para Guillermo Lasso.
Arauz nunca teve um cargo político eletivo, mas foi ministro do Conhecimento e Talento Humano, além de ter trabalhado no Banco Central equatoriano e no Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).
Favoritismo do partido
A única pesquisa de opinião realizada no Equador desde o decreto que levou à antecipação das eleições indicou um favoritismo do partido Revolução Cidadã para o pleito de agosto.
A medição foi divulgada em 25 de maio, pela consultora Click Report, e mostrou que 32,3% dos entrevistados disseram estar dispostos a votar na opção “candidato do Revolução Cidadã”. Naquele momento, o nome de González era apenas um entre quatro especulados para essa candidatura.
Vale lembrar que o próprio Correa não poderá se candidatar, já que se encontra em asilo político na Bélgica, em função de processos que responde na Justiça por denúncias de corrupção – os quais ele acusa de serem “operações de lawfare”, inclusive comparando sua situação com a enfrentada por Cristina Kirchner na Argentina e com as que enfrentou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, antes de ser eleito para o seu terceiro mandato.
Outro nome que apareceu na pesquisa é o do ambientalista Yaku Pérez (de centro), do partido Somos Água, que ficou em segundo lugar, com 25,2% das intenções de voto. Nas eleições de 2021, ele foi o terceiro colocado.
O nome da direita mais bem posicionado foi o de Otto Sonnenholzner (liberal), com 23,4%, enquanto Fernando Villavicencio (conservador) ficou com 19,1%. Por outra parte, o progressista Leonidas Iza (movimento indígena), apareceu com 15,1%, mas acabou desistindo da sua candidatura dias depois.
O presidente Guillermo Lasso também afirmou que não disputará o pleito, e mesmo o seu partido, o Movimento Criando Oportunidades (CREO, por sua sigla em espanhol), não vai apresentar candidatos à Assembleia Legislativa – os militantes da legenda ficaram livres para lançarem suas candidaturas como independentes, sem apoio institucional ou financeiro da direção.
O nome de Lasso apareceu na pesquisa Click Report com 14,3% das intenções de voto. Porém, o mesmo estudo indicou que, como presidente, ele possui 81,2% de imagem negativa entre a cidadania do país.
(*) Com informações de El Comercio, La República e TeleSur