IMUNIZAÇÃO

Vacinação e fake news: especialistas falam sobre a importância da proteção coletiva

'Vacinar é um ato seguro e um ato de proteção coletiva', diz gerente de Saúde Comunitária

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
"É importante se vacinar contra a covid, contra a gripe, é importante levar as crianças para vacinação", afirma pediatra
"É importante se vacinar contra a covid, contra a gripe, é importante levar as crianças para vacinação", afirma pediatra - Valter Campanato/Agência Brasil

Em maio deste ano circulou um áudio em grupos de Whatsapp em que uma pessoa se identificava como enfermeira e falava sobre riscos de vacinação, em especial a relacionada à covid-19 e à gripe. Em certo momento aparece a voz de um homem falando das consequências em pessoas idosas. No material, o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), de Porto Alegre (RS), é citado. De acordo com a assessoria da instituição, trata-se de uma fake news que está rodando há algum tempo. O Brasil de Fato RS falou com especialistas sobre o impacto desse tipo de material em relação à vacinação. 

Para a gerente de Saúde Comunitária do GHC, Gerusa Bitencourt, o objetivo de mentiras como essa é fazer com que as pessoas tenham medo de se vacinar. Ela enfatiza que quando acontece uma reação adversa, a unidade é notificada, o que não tem ocorrido. “Precisamos fazer a discussão com a sociedade da importância da vacinação”, destaca. 

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Um dos argumentos utilizados no áudio seria que a alta carga de vacinas no organismo causaria sequelas. Conforme ressalta Gerusa, esse argumento cai por terra no caso da covid. “Existe uma diferenciação da vacinação por bactéria e da vacinação viral, tanto que a vacina da gripe a gente faz todo ano porque os vírus mutam muito, então a gente precisa atualizar. Se o vírus mudou eu já não estou fazendo a mesma vacina que fiz antes e meu corpo precisa ser atualizado, eu preciso que meu sistema imunológico saiba que o vírus mudou”, explica. 

"Existe uma maldade nisso"

Em relação ao incentivo para que idosos não se vacinem, Gerusa pontua que tal atitude, muitas vezes, se aproveita da ignorância das pessoas. "Tu pode ser de outras áreas que não da saúde e não ter a compreensão de como funciona uma vacina no corpo. A pessoa diz sou enfermeira... talvez a pessoa nem seja. A fake news começa por ali. Existe uma maldade nisso, tu te apropria de um poder, conhecimento, e manipula usando a ignorância das pessoas.”

Em março deste ano, a Ministra da Saúde, Nísia Trindade, já havia alertado sobre as fake news envolvendo a vacina bivalente. "Isso é extremamente sério e eu tenho destacado que não se trata de desinformação, se trata de ação criminosa”, declarou durante a abertura da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), em Brasília (DF). A titular da pasta da Saúde acrescentou que a prática tem gerado terror na população e o efeito disso é a baixa cobertura vacinal.

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Reflexo do negacionismo

A campanha de notícias falsas tem impactado principalmente as crianças. De acordo com dados do LocalizaSUS, no Rio Grande do Sul, as crianças de 6 meses a 5 anos incompletos tiveram a menor adesão da vacinação contra a gripe, com somente 29,62% da meta alcançada para o grupo prioritário. Segundo a ferramenta do Ministério, apenas 48,48% do público-alvo foi imunizado no estado. Em relação à covid, apenas 15% das crianças de 3 a 4 anos tem o quadro vacinal completo, subindo a 53,1% entre crianças de 5 a 11 anos. 

“Estamos vivendo um caos aqui nas emergências pediátricas. Temos superlotação, tem um alto número de crianças com problemas respiratórios, e a maior parte desses problemas respiratórios poderiam ser evitados com a vacina. São muitos casos de gripe, a maioria causados por influenza”, expõe o pediatra e emergencista Alexandre Bublitz. Ele destaca que a vacina contra a gripe pega tanto o H1N1, influenza do tipo A, como influenza do tipo B. “Ela previne boa parte das infecções respiratórias mais importantes que a gente tem durante o inverno.”

Ao comentar sobre a baixa procura das vacinas, Alexandre alerta os pais pararam de levar as crianças para vacinar. “Antes a gente tinha índices de 90, 95, 98% da população alvo sendo vacinadas. Hoje esses índices estão em torno de 50 a 60%. A vacina da gripe, o público alvo infantil, apenas 20% das crianças, que são um dos públicos alvo, vacinaram. Isso é muito pouco. Ainda é um reflexo de toda aquela paranoia que a gente teve nos últimos anos. As vacinas não são perigosas, as vacinas salvam e já salvaram muitas vidas”, defende.

Na mesma linha, Gerusa avalia que essa situação é reflexo do governo anterior, que estimulou a não vacinação, com o ex-presidente levando a questão para o campo do indivíduo. “Vimos Bolsonaro fortemente dizendo que não ia fazer a vacina e isso acabou afetando a discussão das outras vacinas de doenças que a gente já tinha erradicado no país, como sarampo e paralisia infantil. Dizer que a vacina não é segura contaminou as pessoas, que acabam não levando as crianças para serem vacinadas”, expõe.

Importância da vacinação 

"No momento que tu não se vacina compromete a segurança vacinal de todos os outros”, pontua Gerusa. “Vimos, em relação à covid, que quando começou a vacinação as formas graves diminuíram, os óbitos diminuíram e a proteção coletiva aumentou”, frisa, pontuando que o debate não é de uma estratégia individual. “Vacinar é uma proteção coletiva. Então do ponto de vista a proteção coletiva, tu tem o dever de tomar a vacina.”

"É importante sim a população se vacinar, contra o covid, contra a gripe, é importante levar as crianças para vacinação. Olha só, a gente tem hoje vacina para a pneumonia, um dos principais problemas respiratórios. A gente tem vacinação para meningite. O pessoal que é um pouco mais velho se lembra que a gente já teve epidemias de meningite aqui em Porto Alegre, com muitas pessoas morrendo por uma doença muito grave. E com vacina, hoje, a gente consegue evitar boa parte dessas infecções. Então é fundamental", enfatiza Alexandre.

Fake news 

O Ministério da Saúde tem alertado sobre a circulação de notícias falsas que prejudicam as iniciativas para ampliar as coberturas vacinais no país. A pasta orienta que a população busque informações em seus canais para evitar desinformações relacionadas à vacinação.

“Na saúde, é muito importante não reproduzirmos esses vídeos e áudios para outras pessoas. Muitos ainda têm esse costume. A orientação é: olhem as fontes oficiais, como portal do Ministério da Saúde, das Secretarias de Saúde do Estado, do Conass, do Conasems, da Opas/OMS. Essa divulgação afirmativa de onde as pessoas encontram informações confiáveis é fundamental. Isso, claro, junto aos meios de comunicação”, acrescentou Nísia, reforçando que o Movimento Nacional pela Vacinação já ultrapassou 6 milhões de doses de reforço de bivalentes no público prioritário.

Para Gerusa é importante que se faça a busca ativa e em rede das pessoas que não estão comparecendo nas unidades de saúde para a vacinação. “Vacinar é um ato seguro, vacinar protege a vida de quem recebe a vacina, mas também de toda a comunidade, seus vizinhos, família. Vacinar é um ato de proteção coletiva”, finaliza. 

*Com informações do Ministério da Saúde


Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira