AMIGO DA FLORESTA

Conheça o Café Apuí: o primeiro café agroflorestal sustentável da Amazônia Brasileira

Cultivo em sistema agroflorestal gera renda para mais de 30 famílias e mantém a floresta de pé

Ouça o áudio:

Mais de 30 famílias participam do projeto Café Apuí, que introduziu o cultivo agroflorestal nos cafezais - Idesam
Do segmento de orgânico torrado e moído, um café de qualidade

Café na xícara e floresta em pé: assim é a produção do Café Apuí Agroflorestal, no município de Apuí, no sul do estado do Amazonas. Desde a década de 1980, o café já era cultivado na região, mas nos anos 2000, começou a entrar em declínio. Foi então que aconteceu a parceria com a ONG Idesam, que propôs um jeito diferente de cultivo. 

Maria Bernadeth Diniz da Silva é produtora rural e faz parte do projeto desde 2013. De lá pra cá, muita coisa mudou no cafezal dela. O depoimento que a gente ouve agora foi fornecido pelo Idesam, que gavou a entrevista com Maria Bernadeth em 2019. 

“Eu tinha o plantio de café, mas não sabia cuidar. Eu só tirava. Não sabia podar, desbrotar. Eu só deixava. Roçava ele e mexia com café, porque eu tinha medo de estragar. Dava café, mas dava pouquinho. O ano todo eu tirava 60 latões. Hoje, esse ano eu tirei 200 latões”. 

O aumento da produtividade foi aliado à preservação do meio ambiente: os adubos químicos foram substituídos por biofertilizantes, os pesticidas deram lugar a armadilhas feitas com garrafa pet, e os produtores deixaram de usar fogo para abrir novas áreas de cultivo. 

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Mas a principal mudança foi a introdução de árvores no meio do cafezal. As raízes profundas ajudam a trazer água para o solo, e isso elimina a necessidade de irrigação. Os galhos e folhas fornecem sombra que ajuda os grãos de café a maturarem no tempo certo, além de servirem de adubo, como explica Marina Yasbek Reia, coordenadora técnica do projeto Café Apuí:

“A árvore é uma fábrica viva de adubo. Além das árvores madeireiras e de óleos que eles gostam, a gente planta muito ingá. Porque o ingá é uma das árvores que você pode podar de meses em meses e não tem tempo ruim pra ela. Não tem sol forte, não tem muita chuva. Ela está ali crescente, gerando biomassa, sombra. E a ideia no sistema é que o homem é o manejador. Eu vou podar quando tiver que podar, eu vou desbastar, eu vou às vezes sacrificar uma muda em detrimento de outra, e não tem problema, porque isso vai ser reaproveitado. A gente é o arquiteto”. 


Árvores são plantadas junto aos pés de café, proporcionando sombra, microclima e adubo / Idesam

Apuí: terras de agricultura familiar estão na mira do agronegócio

A história de Apuí se confunde com a do Assentamento Rio Juma, o maior da América Latina. Foi criado pelo Incra no começo dos anos 1980, com capacidade para 7.500 famílias. O objetivo era atrair ao Amazonas colonos vindos principalmente do Paraná. O município de Apuí nasceu alguns anos depois, em 1988. 

Marina Yasbek conta que hoje a área é visada pelo agronegócio: 

“A agricultura familiar está sendo reduzida ali no Apuí, que é a frente atual de desmatamento. A dinâmica lá está muito grande de procura por terra, como nunca se viu. As famílias, com pouca assistência para permanecer no setor primário, uma carência histórica no Brasil, elas vão vendendo terra. E essa terra está sendo desmatada para pasto”. 

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Em linha reta, Apuí fica a pouco menos de 460 quilômetros de Manaus. Mas na prática, a distância é bem maior: por terra e barco, são dois dias de viagem. Por isso, um dos maiores desafios dos produtores locais é conseguir escoar a produção.

E foi para suprir essa carência que o Idesam criou um braço comercial, a empresa Amazônia Agroflorestal. Ela compra o café das famílias que participam do projeto Café Apuí, manda para um torrefador local e depois se encarrega da comercialização. 


O Café Apuí Agroflorestal já tem certificação de orgânico nacional; desafio agora é conseguir o selo de fair trade (comércio justo) e de orgânico para exportação / Idesam

Hoje, mais de 30 famílias de Apuí têm no café sua principal renda anual. Além do valor da commodity, os produtores recebem alguns prêmios: o prêmio orgânico, o agroflorestal e um prêmio pela qualidade do produto. Quem explica melhor como funciona essa bonificação é Jonatas Machado Ibernon, diretor comercial da Amazônia Agroflorestal: 

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“Então a gente tem uma régua de vai de 0 defeitos até 500 defeitos, hoje. E dentro dessa régua, de 0 a 100 ganha um valor, de 100 a 200 outro valor. Esse também é outro prêmio que eles embolsam além do valor do café. Hoje a gente se coloca como um café orgânico. Do segmento de orgânico torrado e moído, um café de qualidade. Mas a gente quer melhorar ainda mais porque a gente sabe que quanto maior a qualidade do café, melhor a gente vai poder remunerar os produtores”. 

Com os agricultores bem remunerados, eles permanecem no território e a floresta continua de pé. 

Quem quiser conhecer mais sobre o projeto, basta acessar o site cafeapui.com.br

Edição: Douglas Matos