Em 1º de março deste ano, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) liberou o plantio do trigo transgênico HB4 no Brasil. No entanto, organizações da sociedade civil reclamaram que a decisão foi tomada sem que houvesse análises técnicas e debates públicos suficientes.
A transgenia é um processo complexo, mas, resumidamente, se trata de uma modificação feita em laboratório para que uma determinada planta fique mais resistente. Porém, especialistas apontam uma série de riscos sociais, ambientais e de saúde que não estão claramente compreendidos ainda.
No caso da liberação do trigo transgênico, as entidades reforçam que o processo de aprovação do cultivo do produto foi confuso e tumultuado, ressaltando os riscos à biodiversidade, à saúde e à alimentação da população brasileira, como explica a socióloga Marijane Lisboa, professora do curso de ciências socioambientais da PUC São Paulo e ex-conselheira da CTNBio por dois mandatos.
“O processo de aprovação foi o mais esdrúxulo que já vi”, destaca Marijane, que aponta, entre outros problemas, que nenhum representante de organizações de defesa do consumidor na liberação, além de que a CTNBio autorizou o plantio no Brasil sem qualquer estudo complementar.
“O trigo hoje em dia é um componente essencial, a começar pelo pão da manhã, que a gente come no café da manhã, passando pelo bolo, pela pizza. A desculpa dessa vez é que ele é resistente à seca. E como nós temos as mudanças climáticas, em vez de desmatar menos, introduz um trigo que resiste melhor à seca. E vai ser também resistente a um herbicida que tem impactos à saúde muito mais graves, usado para ressecar plantação já colhida”, explica, em entrevista ao programa Bem Viver.
Marijane destaca que não é só o trigo transgênico que causa preocupação, já que todo produto transgênico tem como característica a carência de estudos aprofundados sobre o impacto na saúde e no meio ambiente ao longo do tempo.
“A transgenia que nós temos no mercado torna uma planta resistente a um agrotóxico. Se busca algum vírus ou propriedade de alguma planta ou animal que se possa ingerir no genoma dessa planta de modo que ao aplicar o agrotóxico ela não morre, morre todo o chamado mato em volta dela, mas ela não. Se faz muita propagando de que vai criar alimentos com mais vitaminas, mas efetivamente isso não se constituiria em um mercado muito atrativo”, ressalta.
Os testes são feitos normalmente em ratos, por alguns meses, o que equivale a um quarto da vida do animal. E isso é insuficiente, considerando que o alimento vai ser consumido pelas pessoas, provavelmente, a vida toda. Para se afastar um risco maior, no consumo prolongado, teria de se fazer outros tipos de testes.
“A inserção de um gene em um genoma não é capaz de expressar só um tipo de qualidade. Ele modifica o DNA e é capaz de produzir resultados que nós não sabemos quais são”, completa a pesquisadora.
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Edição: Rodrigo Gomes
