Em operação desde março deste ano, a Usina Fotovoltaica Flutuante instalada na Pequena Central Hidrelétrica (PCH) de Santa Marta em Grão Mogol, no Norte de Minas Gerais, tem capacidade de geração de 1,2 megawatts, produção suficiente para atender 1.250 famílias.
Além do seu potencial inovador, por otimizar em um único empreendimento duas fontes de produção de energia elétrica, a proposta para o gerenciamento e distribuição da produção da usina é inédita na América Latina.
Isso porque a produção gerada pelos 3.070 módulos solares será gerenciada por uma associação formada por famílias do território onde está instalado o empreendimento. A proposta é fruto de uma construção coletiva, desenvolvida ao longo de cinco anos.
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Quem gerencia
Além de indicadores socioeconômicos, a participação é critério fundamental para a associação das famílias Veredas Sol e Lares, entidade que gerencia a usina.
“Nosso propósito é sobretudo inspirar outros projetos pelo Brasil. Inspirar políticas públicas para o setor energético, que agreguem a participação social, o desenvolvimento de pesquisa popular, aliado à elaboração de um plano de desenvolvimento social regional que atenda as demandas da população” explica Luís Shikasho, coordenador de projeto da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas), organização responsável pela execução do projeto.
Observatório social
O plano de desenvolvimento regional citado por Shikasho é outro fruto da Usina. Um dos objetivos do projeto, além da geração de energia, foi capacitar as próprias famílias beneficiadas com o empreendimento enquanto pesquisadores sociais. Com metodologias diversas, como mapas visuais, maquetes, seminários e produção de arpilleras (imagem de retalhos ou bordados), os participantes levantaram inúmeros dados sobre os vinte e um municípios participantes.
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Os estudos tiveram a contribuição de instituições de ensino, como a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), e contou com 80 pesquisadores. A parceria desaguou na criação do Observatório Social dos Vales do Semiárido Mineiro.
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Dados revelados pelo grupo mostraram, por exemplo, a má qualidade e o acesso precário dos moradores à energia elétrica. As pesquisas também apontaram as sequelas enfrentadas pelos moradores com a instalação de empreendimentos exploratórios na região, como a mineração e o monocultivo de eucalipto.
“Essa história de que grandes projetos de desenvolvimento trazem ‘soluções’ para a região sempre impactam muito essas comunidades, pois tiram delas suas condições de autonomia e trabalho”, ressalta a professora e pesquisadora da UFVJM, Ivana Cristina, uma das coordenadoras do Observatório.
“Além de impactarem na própria qualidade de vida das populações, atingindo a água, a terra e assim por diante”, completa a pesquisadora.
Energia solar acessível para o povo
Na avaliação de Aline Ruas, moradora do território e coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a principal contribuição que o projeto da usina e a associação Veredas Sol e Lares traz são as inovações tecnológicas que atendam o interesse do povo e não do mercado.
“Se tem o povo participando e o povo se beneficiando, é o que a gente chama de soberania energética, de projeto energético popular. O Veredas é um pedacinho do projeto energético popular para o Brasil, onde se muda a fonte e a tecnologia, mas para atender os interesses do povo daquele local. Onde o povo que foi espoliado por vários outros empreendimentos é o beneficiário de um projeto que ele ajudou a construir. Essa é a transição energética que a gente acredita. Ter energia solar só para os ricos, para nós, não faz sentido”, reforça.
Próximos passos
Até o momento, 600 das 1.250 famílias que serão beneficiadas com a produção da Usina Fotovoltaica Flutuante (UFVf) já estão cadastradas como sócias da Associação Veredas Sol e Lares. O próximo passo será agregar outros 650 beneficiários que podem residir em qualquer região do estado.
Além das famílias, a associação também tem estabelecido parcerias com entidades que poderão contribuir para a manutenção do projeto nos próximos anos.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Rafaella Dotta