Mais um dos cinco diretores do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela renunciou ao cargo. Roberto Picón, ligado à oposição, anunciou sua renúncia nesta segunda-feira (19), dias após a saída do presidente do órgão, Pedro Calzadilla, do diretor Alexis Corredor e de todos os suplentes.
"Após um amplo processo de consultas com os atores que apoiaram nossa participação no CNE, decidi renunciar diante da Assembleia Nacional ao cargo de diretor. Não para validar uma situação que, sob todas as luzes, é irregular, mas para facilitar um processo que deve ser conduzido de forma transparente pela Assembleia Nacional", disse Picón em comunicado.
Na última quinta-feira (15), o presidente do órgão, o diretor Alexis Corredor, e os diretores suplentes já haviam renunciado sem dar explicações detalhadas. "Para que a Venezuela termine de ajustar-se no caminho da prosperidade econômica e da estabilidade política e social das quais fomos ilegalmente desviados, depende muito do compromisso e da vontade nacional de todos", disse Calzadilla ao anunciar sua saída.
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A atual direção do CNE é formada por quatro diretores e um presidente. Um dos cargos estava vago desde o ano passado, após a ex-diretora Tania D'Amelio se retirar para assumir uma vaga no Tribunal Superior de Justiça. Agora, dos quatro que ocupavam cargos no órgão eleitoral, três já renunciaram. O único que ainda não anunciou sua saída é o atual vice-presidente, Enrique Márquez.
As mudanças no CNE agitaram o mundo político venezuelano e levantaram questionamentos sobre as motivações das forças políticas envolvidas. Isso porque, quando foi conformada em 2021, a direção do órgão resultou de negociações entre governo e oposição e previa um equilíbrio no número de diretores.
Calzadilla, Corredor e D'Amelio, que já havia deixado o cargo no ano passado, são ligados ao chavismo. Já Picón e Márquez são próximos da oposição de direita reunida na coalizão Plataforma Unitária. Com as renúncias, o Legislativo deverá conformar uma comissão para escolher perfis aptos para preencher as vagas e eleger os novos diretores do órgão.
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Primárias sem CNE
Na noite da última sexta-feira (16), a comissão que está organizando o processo de eleições primárias da coalizão opositora Plataforma Unitária anunciou que não iria mais pedir apoio do CNE para realizar a votação.
Antes das renúncias dos diretores, a utilização do órgão eleitoral dividia opiniões entre candidatos, embora a comissão estivesse prestes a formalizar o pedido de auxilio da instituição. Apesar disso, o anúncio da oposição de desistir de utilizar as infraestruturas do CNE foi respaldado por quase todos os candidatos.
Agora, segundo a comissão de primárias, os aportes financeiros para a compra de urnas e cédulas impressas devem ser feitos pelos próprios partidos que compõem a coalizão e que concorrem nas primárias. Os locais de votação seriam praças, igrejas e sedes de partidos.
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Nesta segunda-feira (19), o deputado e vice-presidente do partido governista PSUV, Diosdado Cabello, comentou a decisão da Plataforma Unitária e disse que "as primárias serão um desastre". "Não precisa ser vidente, não precisamos de uma análise com variáveis, é a realidade", afirmou.
Ainda não há certeza sobre o que pode significar as reformulações no CNE. Fontes ligadas ao governo e à oposição da coalizão Aliança Democrática, que não participa das primárias, ouvidas pelo Brasil de Fato afirmam que a troca da direção pode resultar em uma tentativa de enfraquecimento das primárias ou, até mesmo, em um possível acordo do chavismo com a Plataforma Unitária.
Edição: Thales Schmidt