Diplomacia

Na Itália, presidente de Cuba encontra Papa Francisco e busca atrair investimento estrangeiro

Díaz-Canel diz ter conversado com o líder da Igreja Católica sobre o bloqueio dos EUA contra a ilha

Havana (Cuba) |
Reunião entre o presidente cubano Díaz-Canel e o Papa Francisco no Vaticano - @PresidenciaCuba

O Papa Francisco recebeu na manhã desta terça-feira (20), no Vaticano, a visita do presidente cubano Miguel Díaz-Canel. Este é o primeiro encontro que o Pontífice realiza depois de ter retomado sua agenda habitual de atividades no domingo passado, no tradicional Angelus (18 de junho), após uma operação de hérnia que o obrigou a tirar vários dias de afastamento do trabalho. 

Além de Díaz-Canel, a delegação cubana foi composta pelo ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez Parrilla, e pela primeira vice-ministra de Comércio Exterior e Investimentos Estrangeiros, Ana Teresita González Fraga, entre outras autoridades. A visita à Santa Sé também contou com a presença da esposa do presidente cubano, Lis Cuesta Peraza, e de seu filho Miguel Díaz-Canel Villanueva, que faz parte da equipe presidencial. Ao apresentá-los ao Papa, Díaz-Canel divertiu-se dizendo que seu filho, além de trabalhar com ele, fazia parte da "oposição na família" porque é "o mais crítico". 

Na chegada à Santa Sé, ocorreu a tradicional troca de presentes (uma tradição nas visitas ao Papa). O Papa Francisco entregou uma escultura de bronze de uma pomba com um ramo de oliveira, com a inscrição "Sejam mensageiros da paz". O líder máximo da Igreja Católica ainda deu como presente o documento sobre a fraternidade humana e o livro sobre a Statio Orbis de 27 de março de 2020.  

Por sua vez, Díaz-Canel presenteou Francisco, em nome do povo cubano, com uma escultura intitulada "El Lector" - um trabalho artesanal típico cubano feito de prata, bronze e madeira. Ele também o presenteou com dois volumes de poetas cubanos: "Las miradas perdidas", de Fina García Marruz, e "La Luz del imposible", de Cintio Vitier. Ele disse que eles são "o melhor dos intelectuais cubanos da época" e que "são dois belos livros de poemas e livros de valores".

A reunião durou 40 minutos e foi realizada no escritório adjacente à Sala Paulo VI, onde são realizados os principais eventos no Vaticano. Após a reunião com o Papa Francisco, Miguel Díaz-Canel e a delegação cubana se reuniram com o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, e com o subsecretário de relações internacionais da Santa Sé, Monsenhor Daniel Pacho.

Durante a reunião, abordaram "a importância das relações diplomáticas entre a Santa Sé e Cuba", fazendo uma alusão à visita de João Paulo II a Cuba em 1998. Eles também discutiram "a situação no país e a contribuição que a Igreja oferece, especialmente na área da caridade", de acordo com um breve comunicado oficial do Vaticano. 

Enquanto isso, por meio de sua conta no Twitter, Díaz-Canel enfatizou que durante a reunião eles discutiram a situação cubana e o impacto causado pela imposição do bloqueio econômico dos Estados Unidos contra a ilha.

Esta é a terceira vez, desde o triunfo da Revolução Cubana, que um líder cubano viaja ao Vaticano. A primeira visita foi feita por Fidel Castro em 1996. Em seguida, o Papa João Paulo II visitou a ilha em 1998 e Raúl Castro voltou a visitar a Santa Sé em 2015.  

Por sua vez, esse foi o quarto encontro entre o Papa Francisco e o presidente Díaz-Canel. O primeiro foi em março de 2013, quando o líder cubano, então Primeiro Vice-Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, participou de sua entronização como Papa. O segundo foi em setembro de 2015, por ocasião da visita de Francisco a Cuba. E a terceira ocorreu em fevereiro de 2016, durante a reunião entre o Sumo Pontífice e o Patriarca de Moscou, Cirilo, em Havana.

Visita à Itália 

Após a reunião com o Papa Francisco, a delegação cubana teve duas importantes agendas. Primeiro, Díaz-Canel teve uma reunião com seu homólogo italiano, Sergio Mattarella, em Roma. Em seguida, a delegação se reuniu com vários representantes de câmaras de negócios italianas.

A reunião com Mattarella fez parte das comemorações do 120º aniversário das relações entre os dois países. Uma reunião protocolar, mas que adquire relevância após a formação do governo italiano em outubro de 2022, liderado pela líder de extrema direita Giorgia Meloni, atual presidente do Conselho de Ministros da Itália.  

Pelo Twitter, Díaz-Canel enfatizou que o encontro com o presidente italiano foi proveitoso. A reunião destacou o "interesse comum em continuar a fortalecer o diálogo político de alto nível e desenvolver laços econômicos, comerciais e de investimento".  Em seguida, o chefe de Estado cubano compartilhou um almoço de trabalho com representantes das câmaras de negócios italianas.

Em maio, o Alto Representante da União Europeia para Assuntos Externos e Política de Segurança, Josep Borrell, visitou Havana e participou de colóquios e assinou acordos sobre o desenvolvimento de pequenas e médias empresas em Cuba.

Atualmente, a Itália é o quinto maior parceiro comercial de Cuba. Díaz-Canel destacou a importância da presença empresarial italiana em Cuba e acrescentou que a comunidade empresarial do país europeu já está envolvida nos principais programas econômicos da ilha. Atualmente, cerca de cinquenta entidades empresariais italianas operam em Cuba, com vários negócios na Zona Especial de Desenvolvimento de Mariel (ZEDM).

Com a promessa de abrir ainda mais a possibilidade de investimento privado na ilha, o presidente cubano disse que as pequenas e médias empresas podem estabelecer vínculos produtivos com companhias estrangeiras. Ao mesmo tempo, Diaz Canel ratificou o convite para participar da próxima Feira Internacional de Havana (FIHAV-2023), um fórum de negócios que busca atrair investimentos.

Edição: Thales Schmidt