O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se encontrar com a primeira-ministra da Itália, Georgia Meloni, uma das expoentes da ultradireita mundial, durante sua visita a Roma. A agenda foi confirmada de última hora, quando o presidente já havia desembarcado na capital italiana, e será realizada nesta quarta-feira (21).
Durante o briefing à imprensa sobre a viagem, o Itamaraty havia informado que, por problemas de agenda, os dois líderes não se encontrariam.
O fato de o encontro não haver sido marcado até o embarque de Lula levantou questionamentos: seria um problema de agenda ou um sinal de distanciamento entre os dois governos?
Meloni, de ultradireita, é considerada aliada do ex-presidente Jair Bolsonaro e não compareceu, nem sequer enviou representante, à posse de Lula, fazendo com que a Itália fosse o único país europeu ausente. Oito dias depois, no entanto, republicou um tuíte do vice-premiê italiano condenando os atos golpistas que atacaram as instituições em Brasília.
“Meloni é uma liderança declarada de extrema direita, mas enxerga no Brasil, pragmaticamente, possibilidades importantes de cooperação, sobretudo econômica. Além de automóveis, infraestrutura e telecomunicações, um dos temas ressaltados no contexto da viagem é a cooperação em defesa entre os dois países.
É possível que uma boa relação com Lula ajude a intensificar o relacionamento de alto nível entre os dois países, a despeito da dimensão ideológica”, opina Guilherme Casarões, professor de Ciência Política e Política Externa na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e coordenador do Observatório da Extrema Direita.
Questionado sobre a candidatura de Roma a sediar a Expo 2030 — Meloni foi a Paris nessa terça (20) em busca de apoio —, Casarões afirma que este pode ser, de fato, um motivo a mais para o encontro ter sido marcado. “O apoio à candidatura italiana pode representar, sim, uma moeda importante de troca."
O Brasil é membro do Bureau International des Expositions e pode ser relevante para um apoio mais amplo da América Latina a Roma, que deseja usar o evento da Expo 2030 para ampliar turismo e investimentos na cidade. Lembrando que as outras candidaturas são da Arábia Saudita (Riade) e Coreia do Sul (Busan)”. Assim como ocorre no Brasil, sediar grandes eventos na Itália tem potencial de aumentar a popularidade do mandatário e isso “pode ser capitalizado politicamente”.
O professor diz ver um possível revés para Lula no fato de se reunir com Meloni. “Apesar da relevância da relação com a Itália, um encontro com uma liderança de extrema direita poderá gerar críticas internas [na Itália], vindas de grupos que associam Meloni ao movimento bolsonarista e a outras forças da extrema direita global”.
Papa Francisco
Nesta terça, ao chegar a Roma, Lula já teve um encontro com o sociólogo Domenico de Masi. Quarta-feira, além da primeira-ministra, estará com o prefeito de Roma, Roberto Gualtieri, com o presidente da Itália, Sergio Mattarella, e com o papa Francisco no Vaticano.
"Estive com o papa Francisco duas vezes. É o papa mais comprometido com o povo humilde do mundo", elogiou Lula durante o programa Conversa com o Presidente, nesta segunda. "Telefonei para ele. Tomei a iniciativa, falei que gostaria de ir a Roma fazer uma visita de agradecimento, inclusive a tudo o que ele fez por mim quando eu estava na Polícia Federal e pelos atos de solidariedade”.
Em abril último, o papa disse que Lula foi condenado sem provas pela operação Lava Jato e que o mesmo aconteceu com a ex-presidenta Dilma Rousseff no processo de impeachment. Francisco criticou o lawfare, que significa a utilização do sistema judicial como forma de perseguição política.
O presidente Lula afirmou ainda que outros motivos para a visita são o fato de o papa estar “muito interessado” em acabar com a guerra na Ucrânia e a oportunidade de dialogar sobre a desigualdade e a fome no mundo, no intuito de tentar criar uma “consciência mundial" sobre o tema.
::Guerra na Ucrânia e acordo UE-Mercosul devem marcar agenda de Lula na Europa::
Lula também reforçou que convidará Francisco para vir ao Brasil acompanhar o Círio de Nazaré, em outubro, em Belém (PA).
Pouco antes de embarcar para Roma, Lula recebeu o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Jaime Spengler, e o núncio apostólico do Vaticano no Brasil, Dom Giambattista Diquattro. Eles falaram sobre a atuação social da Igreja Católica no Brasil e as relações do país com o Vaticano.
França
Depois de Roma, Lula viaja para Paris, onde participa da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, de um almoço oferecido a ele pelo presidente Emmanuel Macron. O presidente também fará um discurso sobre o clima no evento Power our Planet, a convite da banda de rock Coldplay.
Edição: Patrícia de Matos