SELIC EM DEBATE

Ainda sem indicados por Lula, Copom decide sobre Selic sob pressão geral por queda na taxa

Indicados pelo governo ainda não foram aprovados pelo Senado e não opinam na reunião que se encerra nesta quarta (21)

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Membros do Copom indicados em governos anteriores definem taxa básica de juros neste governo - Divulgação/Banco Central

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central conclui nesta quarta-feira (21) sua quarta reunião sobre a taxa básica de juros, a Selic, desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse. Nas quatro reuniões realizadas, incluindo esta, nenhum indicado por Lula participou das discussões.

Lula, que vem defendendo a queda dos juros desde janeiro, é o primeiro presidente que não tem diretores do BC indicados por ele decidindo sobre a Selic. Mais do que isso: é o único presidente da história do país que vê membros do Copom indicados por um opositor declarado – no caso, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – decidindo sobre juros em seu governo.

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Isso acontece porque, em 2021, o próprio Bolsonaro aprovou uma lei que concedeu a chamada autonomia ao BC. Com isso, diretores do órgão – que compõem o Copom – ganharam mandatos e não podem ser substituídos a cada troca de governo, como antes.

Dois diretores do BC concluíram seus mandatos em fevereiro deste ano: Bruno Serra Fernandes, diretor de Política Monetária; e Paulo Souza, diretor de Fiscalização. O Ministério da Fazenda, comandado por Fernando Haddad (PT), já indicou dois nomes para substituí-los: Gabriel Galípolo, atual secretário-executivo do ministério; e Ailton Aquino dos Santos, servidor de carreira do BC.

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Essa indicação ocorreu no início de maio. Eles não tomaram posse até agora porque os indicados precisam ser sabatinados e aprovados no Senado. Essa sabatina está marcada para a próxima terça-feira (27). Depois, portanto, da reunião do Copom.

A Selic está hoje em 13,75% – uma das mais altas do mundo. Governo, sindicatos de trabalhadores e empresários ligados à indústria e ao comércio defendem um corte imediato. Centrais sindicais e movimentos sociais, inclusive, estão realizando atos em todo país cobrando a redução.

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Demora justificada

O economista André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), vê certa demora para a posse dos indicados por Lula. Para ele, porém, essa demora é justificada já que, após a autonomia do BC, a aprovação de um diretor do BC dá a ele o direito de permanecer no cargo por quatro anos.

"Houve uma certa demora, mas eu acho que ela tem motivo, que é redobrar o escrutínio sobre a alternância de cadeiras no BC para a instituição da autonomia", afirmou. "É esperado que haja um pouco mais de resistência na indicação de diretores."

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Roncaglia não acredita que uma eventual posse dos diretores indicados por Lula mudaria o panorama sobre a Selic nesta reunião. Ele, que é defensor da redução, não acha que o Copom decida por uma queda já nesta semana.

O economista Miguel de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), também acha que nada justifica uma taxa de juros tão alta para a economia brasileira hoje. Mesmo assim, ele também acha que o Copom manterá a taxa básica de juros mais uma vez.

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"O BC vai manter a Selic inalterada na próxima reunião e, lá em agosto, começa a reduzir", previu ele. "No relatório desta reunião, ele deve indicar que as coisas estão caminhando bem, o que vai possibilitar a flexibilização da política monetária, mas só na próxima reunião."

Procurado pelo Brasil de Fato, o Ministério da Fazenda não comentou o tempo que o Senado está levando para avaliar as indicações para a diretoria do BC. Só confirmou que os diretores indicados devem mesmo ser sabatinados na próxima terça-feira na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.

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Conheça os diretores do BC que participam desta reunião do Copom:

Roberto Campos Neto
Presidente do BC
De 28/02/2019 (indicado por Bolsonaro) a 31/12/2024
Formado e pós-graduado nos Estados Unidos. Ex-operador de Bolsa de Valores e ex-executivo de bancos, como Santander e Bozano Simonsen.

Carolina de Assis Barros
Diretora de Administração
De 27/4/2018 (indicada por Temer) a 31/12/2024
Formada pelo Centro Universitário UNA, de Belo Horizonte, e mestra pela Universidade de York, no Reino Unido. Servidora de carreira do BC.

Diogo Abry Guillen
Diretor de Política Econômica e diretor de Política Monetária interino
De 26/4/2022 (indicado por Bolsonaro) a 31/12/2025
Graduado e pós-graduado pela PUC-Rio. Doutor pela Princeton, dos EUA. Foi professor e economista-chefe do Itaú Asset Management.

Fernanda Guardado
Diretora de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos
De 27/7/2021 (indicada por Bolsonaro) a 31/12/2023
Graduada, mestre e doutora pela PUC-Rio. Ex-economista de diferentes bancos de investimento.
 
Maurício Costa de Moura
Diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta
De 26/4/2018 (indicado por Temer) a 31/12/2023
Graduado pela Universidade da Amazônia (Unama) e mestre pela USP. É servidor do BC.

Otávio Ribeiro Damaso
Diretor de Regulação
De 27/4/2015  (indicado por Dilma) a 31/12/2024
Graduado e pós-graduado pela Universidade de Brasília (UnB). Ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e ex-assessor do governo. É servidor de carreira do BC.

Paulo Souza
Diretor de Fiscalização
De 19/9/2017 (indicado por Temer) a 28/2/2023 (segue no cargo)
Graduado pela PUC-SP e pós-graduado pela Fipecafi. É servidor do BC.

Renato Dias de Brito Gomes
Diretor de Organização do Sistema Financeiro
De 26/4/2022 (indicado por Bolsonaro) a 31/12/2025
Graduado e mestre pela PUC-Rio. Também estudou nos EUA e França. Foi professor e pesquisador.

Edição: Nicolau Soares