O Banco Mundial promete suspender temporariamente a dívida de países mais vulneráveis à crise climática, durante o período em que se recuperam de catástrofes. O objetivo é evitar que tais países percam credibilidade junto às agências de classificação de risco, o que dificulta a busca de investimentos e crédito.
A decisão foi anunciada durante a Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, encerrada nessa sexta-feira (23) em Paris. Durante o evento, mais de cem chefes de Estado e de governo discutiram a reforma de instituições financeiras, com o objetivo de alavancar o investimento em infraestrutura e ações climáticas nos países em desenvolvimento.
Outra iniciativa anunciada pelo Banco Mundial busca incentivar o investimento privado nos países em desenvolvimento, oferecendo uma garantia — na proporção de um para um — aos investimentos privados feitos em países classificados como mais arriscados.
Estima-se que os anúncios do Banco Mundial resultem na liberação de US$ 200 bilhões em novos empréstimos, dinheiro que pode ser usado para atrair mais iniciativas do setor privado nos países pobres e em desenvolvimento. A demissão, em fevereiro último, do então presidente do banco, David Malpass, foi celebrada por especialistas em clima, pela possibilidade de inaugurar uma nova era de financiamentos para a transição para uma economia de baixo carbono.
Os líderes reunidos em Paris, tanto de países em desenvolvimento quanto desenvolvidos, mostraram em seus discursos concordar sobre a necessidade de reformar os sistemas de financiamento multilateral e os bancos de desenvolvimento.
A inspiração para a decisão do Banco Mundial veio da primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, que criou um movimento para repensar o financiamento aos países mais vulneráveis ao clima, como é o caso da ilha caribenha de Barbados, que enfrenta atualmente uma temporada de furacões.
O presidente da França, Emmanuel Macron, anfitrião da cúpula, destacou a “união” ao final do encontro, em que os países em geral, dos mais ricos aos mais pobres, concordaram com a necessidade de elaborar uma resposta global à pobreza, ao desenvolvimento e ao clima, por serem temas interconectados — o discurso do presidente Luiz Inácio Lula Silva (PT), por exemplo, enfatizou o combate à desigualdade.
Ressentimento, proselitismo
No entanto, apesar da vontade de mostrar união, desigualdades entre os países também se notam. O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, declarou: “A África nunca deveria ser vista como um continente que precisa de generosidade. Queremos ser tratados de igual para igual. (Na pandemia) sentimos como se fôssemos mendigos. Aquilo gerou muito ressentimento”.
Em seu discurso, Lula foi na mesma linha: “Precisamos parar, a nível internacional, de fazer proselitismo com recursos. Ah, vou ajudar essa coisinha aqui, essa coisinha ali, quando na verdade precisamos investir em coisas estruturantes que mudem a vida dos países”.
Esse tipo de ressentimento não se cura num único evento, tanto que o próprio Macron reconheceu que a cúpula teria como objetivo traçar uma rota de trabalho, mais do que encontrar respostas. O trabalho prossegue durante novos eventos ao longo do ano, como a Cúpula do G20, em setembro, e a COP 28, em novembro.
O caminho é longo e os obstáculos são altos. Por essas e outras, é preciso fazer não apenas uma reforma, mas uma “transformação absoluta” do sistema internacional de financiamento público, nas palavras de Mia Mottley, a líder de Barbados.
O primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, defendeu também uma reforma no comércio, citando como exemplo a concentração do comércio de fertilizantes, que gerou impactos sobre o preço dos alimentos no mundo devido à guerra na Ucrânia. A diversificação dos mercados é uma estratégia de segurança buscada pela União Europeia também na área energética, após o corte do gás russo.
* Com informações do Financial Times e Folha de S.Paulo
Edição: Thales Schmidt