A Ocupação Sepé Tuaraju completou um mês de luta por moradia digna com as 80 famílias sob ameaça de despejo. O prédio federal abandonado há cinco anos próximo ao centro de Porto Alegre foi revitalizado pelos novos moradores, famílias que viviam em condições precárias na periferia da cidade, e indígenas que tem no local um abrigo de passagem, organizados pelo Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Para demarcar esse processo de resistência, foi realizada uma vigília no saguão do local, na última quarta-feira (28).
A liminar que pede a desocupação voluntária foi expedida na sexta-feira (23) pelo juiz federal substituto Gabriel Menna Barreto, da 5ª Vara Federal de Porto Alegre, a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU).
O prazo para que os moradores deixem o local é de cinco dias, conforme explica o coordenador estadual do MLB e da ocupação, André Ferraz. “Esse prazo está acabando, mas os moradores estão decididos a resistir e estão se organizando para permanecer no espaço”, afirma.
Ele defende que a construção da resistência é pela garantia de “continuar com esse direito à moradia que hoje os moradores estão desfrutando”. Pontua ainda que “a Constituição está sendo aplicada nesse imóvel que estava desocupado”, garantindo que cumpra sua função social.
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Organização e revitalização
Moradora da ocupação e integrante do MLB, Tâmisa Fleck afirma que quando o grupo ocupou o prédio desabitado, havia muita coisa para arrumar. “A estrutura dele não tava boa, tava sem água, o elevador está sem funcionar, sem manutenção há cinco anos. A gente deu vida a esse prédio, a gente limpou todos os locais.”
Entre as manutenções realizadas pelos moradores da ocupação, ela conta que houve a evacuação de produtos químicos de andares superiores, para que as salas pudessem ser utilizadas com segurança. O prédio da União abrigava o Laboratório Nacional Agropecuário no Rio Grande do Sul (Lanagro RS), vinculado ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
“Construímos a nossa cozinha comunitária e escrevemos projetos também para apresentar essa cozinha e participar dessa mobilização da luta contra a fome”, complementa André Ferraz. Ainda segundo o coordenador, também foram apresentados projeto para entidades sindicais, a fim de financiar projetos de luta como a cozinha comunitária, a creche e a instituição de ensino do movimento, a Escola Eliana Silva, em São Paulo.
Tâmisa Fleck pontua que a organização interna conta com escalas de limpeza, de alimentação e estrutura para arrumar tudo que tem que ser feito, como os banheiros, por exemplo. “Alguns banheiros estão em desuso porque a gente não está conseguindo arrumar a hidráulica, tudo isso é dinheiro.”
Ela conta que o maior suporte vem da Unidade Popular pelo Socialismo. Membros do partido se somam no trabalho e contribuem nas escalas. O movimento também tem ido em gabinetes de deputados estaduais na busca de apoio.
“Chance de uma moradia”
Vindo da Zona Norte de Porto Alegre, Jair Borges Martins é cadeirante e vivia de aluguel em condições precárias. Para ele, integrar-se à luta da Ocupação Sepé Tiaraju representa a chance de uma moradia. “Eu morava na (Av.) Baltazar de Oliveira Garcia, pagando aluguel, e agora eu estou aqui, nesse movimento, tentando conseguir um espaço para mim, uma moradia digna”, afirma.
“Eu acho que todo ser humano tem que ter um espaço para a morar direito, também ter direito a comer”, complementa o morador. Para ele, que disse sentir-se acolhido pelo MLB o movimento “acalenta as pessoas que mais precisam”.
* Colaborou Alexandre Garcia
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko