O curta-metragem paranaense “Trilha sonora de um bairro” recebeu Prêmio de Menção Honora no Festival Internacional de Curitiba “Olhar de Cinema” que aconteceu na capital do Paraná de 14 a 22 de junho.
A trilha sonora do bairro Cidade Industrial de Curitiba (CIC), é o rap do grupo curitibano J.A.C, que norteia o enredo do filme premiado. O documentário dirigido pela dupla Betinho Celanex e Danilo Custódio traça o retrato do bairro a partir de entrevistas com rappers do grupo J.A.C que em 2023 completa 20 anos de existência. Para eles, a ideia é contar o que a “cidade modelo” nega e desconhece.
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O Brasil de Fato Paraná conversou com o roteirista e um dos diretores do filme, o Rapper Betinho Celanex, morador da CIC e um dos fundadores do grupo paranaense de rap J.A.C. Betinho conta que ganhar o prêmio é um grande avanço no objetivo de mostrar que filmes sobre a periferia pode e deve ser feito por quem vive esta realidade.
Brasil de Fato: Qual seu envolvimento pessoal com esta história que o filme conta?
Betinho Celanex: Eu comecei a me envolver com o Hip Hop no final dos anos 90 através de encontros que aconteciam na Associação de Moradores da CIC. Foi ali que surgiu o Grupo J.A.C. E ali a gente vivia todas as dimensões do Hip Hop e fazia amizade com o pessoal de outras vilas. O nosso grupo surgiu dessa ideia de pegar um jovem de cada uma dessas vilas e trazer união para a quebrada e acabar com as guerras de gangs que existia lá.
Gostaria que você contasse sobre quando e porque a ideia de fazer este filme aconteceu?
A ideia do filme surgiu em 2016 quando o grupo J.A.C completou 15 anos de história e na época comecei a me envolver com audiovisual. Nestes 15 anos sempre contamos nossa história através das nossas músicas e com o cinema vimos uma nova mídia, o qual a gente também poderia contar.
Principalmente porque o cinema de Curitiba é bem escasso de produções periféricas feitas por periféricos. A gente via filmes que tratavam da periferia, mas que não era feito por gente da periferia que tem a nossa vivência.
A gente sempre fala, se a história é nossa, deixa que a gente mesmo conta. A partir disso começamos a estudar para aprender a contar as nossas próprias histórias.
Sobre o filme, o que os espectadores vão encontrar?
O filme é um pequeno recorte da história do J.A.C e a importância dele dentro da CIC. O roteiro do filme parte da Música sobre a CIC, que foi escrita em 2001 e até os dias de hoje, a galera se identifica. Então, falamos sobre o orgulho que essa música trouxe para o bairro e a diferença que o Hip Hop fez na vida destes jovens do CIC.
Tem uma cena específica do filme que é a minha favorita, que tem a gente conversando e descendo uma das ruas do bairro segurando uma placa de “contramão”, que tem a ver com a história do J.A.C que é ir na contramão de tudo o que era previsto pra gente, o crime, drogas ou até mesmo ser mão de obra já que moramos num bairro chamado Cidade Industrial e automaticamente parece que o destino é trabalhar para uma multinacional como mão de obra.
Ou seja, a gente queria ter outras opções de vida, e levar CIC para o mundo.
O filme será exibido em alguma sala de cinema ou plataforma?
O filme está em circuito de festivais e está disponível no Itaú Play. A ideia é levar o CIC para o mundo para o maior número de festivais. E, também queremos produzir uma exibição ali na Ocupação Dona Cida e também no Teatro da Vila, ambos no CIC.
Qual foi a importância de participar e ser premiado no Olhar de Cinema?
A gente estrear no Olhar de Cinema, aqui de Curitiba, foi muito importante. Isso garantiu também acesso a muita gente da quebrada que pode assistir em primeira mão. E, no final levar prêmio de menção honrosa faz a gente pensar que está no caminho certo.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lucas Botelho