Cinco dias de espera. Uma eternidade para seres vivos que não costumam sobreviver a mais de 48 horas fora de ambiente adequado, com iluminação e água limpa. Essa foi a situação de 44 corais importados pelo Instituto Coral Vivo. Os animais fazem parte de uma pesquisa que investiga a resistência deles às mudanças climáticas e a fenômenos como o El Niño.
Eles saíram do Panamá no dia 29 de junho e só no dia 4 de julho foram retirados do aeroporto de Guarulhos - metade deles já sem vida.
"São seres vivos que foram removidos do seu ambiente natural para servir um propósito, que é de interesse público mundial. Que é um experimento para a gente entender e tentar salvar o coletivo dos corais. Então, a morte desses organismos, sem que eles tenham sido usados para um fim nobre, é um desperdício tremendo", comentou o professor Tito Lotufo, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo e Coordenador de Políticas Públicas do Instituto Coral Vivo.
Mesmo assim, o Ibama não liberou a retirada dos 44 corais, alegando que o número importado foi maior do que o requerido. Contudo, segundo o Instituto Coral Vivo, a licença aprovada pelo próprio órgão público autorizava um número muito maior: a importação de 220 corais.
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Somente após decisão da 2ª Vara Federal de Guarulhos nesta terça-feira (4), os corais foram liberados para a guarda dos pesquisadores.
Essa foi a terceira tentativa via judicial de tentar reaver, ou pelo menos acondicionar propriamente, os corais. As demais decisões não foram cumpridas. Em uma das sentenças, do último domingo, o juiz constatou que "a burocracia, mesmo que necessária, significaria o perecimento dos organismos vivos".
"É bom esclarecer que a ordem judicial determinou que o Ibama assegurasse as condições adequadas de armazenamento dos animais, justamente para assegurar a vida deles, até decisão posterior do próprio juízo. E foi essa decisão que o servidor não cumpriu, porque disse que a ordem judicial só seria cumprida, segundo a chefia dele, após manifestação do jurídico do próprio Ibama", afirmou Tasso Cipriano, advogado especializado em meio ambiente.
Os corais resgatados foram encaminhados imediatamente ao Instituto Oceanográfico da USP. Os que conseguiram sobreviver - em torno de 20, alguns ainda em risco - foram colocados em um aquário, para passar por um período de recuperação. Em seguida, eles vão seguir para o destino final: o Instituto Coral Vivo, na Bahia.
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Em nota, o Ibama informou que multou a importadora em R$ 3.880,00 por trazer ao país 44 corais em desacordo com autorização prévia do órgão. Segundo o Ibama, a autorização foi dada para a importação de um número menor de corais.
A nota também diz que "o Instituto Coral Vivo não possui Cadastro Técnico Federal (CTF), embora suas atividades estejam relacionadas à manutenção de fauna em cativeiro e pesquisa". Diz também que não foi "apresentada qualquer licença ambiental para comprovar o regular funcionamento".
Para conferir outros detalhes dessa saga, acompanhe a reportagem completa que foi exibida nesta quarta-feira (5) no Central do Brasil.
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E tem mais!
Além da saga do Instituto Coral Vivo para recuperar os 44 corais, você vai conferir na edição desta quarta-feira uma reportagem que mostra os esforços do governo venezuelano para diminuir a dependência da economia do país em relação ao dólar. Em Cuba, o nosso correspondente Gabriel Lopes mostra os novos espaços culturais em Havana.
O programa Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. Ele é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Nicolau Soares