Campanha no youtube

R$ 10 por 3 pedidos? Entregadores influencers lançam campanha para iFood mudar a regra

A 'Campanha pelo fim das entregas múltiplas' começou no último breque nacional e lança um vídeo por dia até terça (11)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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O fim das entregas múltiplas é reivindicação fixa das greves de entregadores - Henrique Prando

“Você acha justo o iFood pagar menos de R$10 para entregar três pedidos?”. A pergunta, gravada por uma câmara no capacete, é feita enquanto o entregador circula de moto, à noite, pelas ruas de Fortaleza (CE). Conversando com os inscritos no seu canal, ele defende o fim das chamadas “entregas múltiplas” do iFood. É quando, em uma mesma corrida, o trabalhador entrega dois ou mais pedidos.  

O entregador cearense do canal Breno Freitas Motovlog é um dos 11 influencers que lançaram a campanha “Pelo fim das entregas múltiplas”. A sequência de vídeos diários - um por canal - começou a ser publicada no último 1 de julho, durante um breque nacional da categoria. Sempre às 7h, os vídeos seguirão sendo divulgados até a próxima terça-feira (11). 

Além de Breno, participam da campanha os canais Fabão Motovlog, Um Iniciante de Moto, Dinho Motoboy, Motoka Roseno, Motoboy Essencial, Guerreiros sobre Rodas, Marcelo Castelli, Motoca Raiz BH, Espaço do Motoka e Ralf MT. Somados, os influenciadores têm 304.260 pessoas seguindo suas contas no Youtube.  

“A entrega múltipla é o que mais se reclama. O iFood bota muitos pedidos para um cara só e faz com que os outros entregadores fiquem sem nada”, explica o carioca Ralf MT, um dos idealizadores da campanha, junto com o piauense Fabão.  

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Nos vídeos, os youtubers demandam ao iFood que acabe com as várias entregas em uma só corrida ou que remunerem mais por este trabalho, mas também sugerem que os próprios entregadores deixem de aceitar pedidos quando vêm acumulados.  

Precarização 

No última segunda-feira (3), o iFood aumentou a taxa mínima paga por corrida de R$6 para R$6,50. A reivindicação da categoria, no entanto, é que seja de R$10. Somada à taxa mínima, a empresa remunera R$1,50 por km rodado.  

Prints enviados por entregadores de diversas partes do Brasil aos influencers mostram a baixa remuneração do serviço. Em um caso, entregas são feitas em três lugares diferentes na mesma corrida, em troca de R$9,54. 


Entregadores fazem prints para argumentar, nas redes sociais, que precisam ter melhor remuneração / Divulgação

“A gente recebe muita reclamação. Tem entregadores que recebem até cinco rotas e o iFood pagando R$15”, ilustra ao Brasil de Fato o entregador Romero Barroso, do canal Motoca Raiz BH. "A gente quer melhorias. Quer que essa campanha chegue até o iFood para eles verem que realmente essas entregas não estão compensando para os entregadores", aponta. 

“Não compensa, rapeize”, resume Rodrigo Marques, entregador em Belém (PA). “Não estão pagando o suficiente”, afirma no vídeo em seu canal Iniciante de Moto. 

Outro print, divulgado com os dizeres “vai escravo”, mostra uma corrida de quase 10km, com três entregas, e o pagamento de R$16,67. Se a remuneração fosse calculada com a taxa mínima multiplicada pelo número de pedidos, o valor seria de R$34,50.


Para embasar a campanha, os influencers postam prints que recebem de entregadores de diversas partes do país / Divulgação

Para Dinho Motoboy, as múltiplas entregas intensificam a precarização do trabalho. “Precariza para aqueles que não recebem corrida e também para aquele entregador que está aceitando essa quantidade de corrida absurda. O iFood faz esse pacote de três, quatro, cinco entregas, para rodar 10km, e paga R$14, R$13. Entendeu? Ou seja, está ganhando em cima das nossas costas”, critica. 

Procurado, o iFood informa que “respeita o direito da livre expressão dos entregadores” e que desde 2019 – ou seja, oito anos depois da criação da empresa – trabalha na “construção de espaços recorrentes e permanentes de escuta”. 

Sobre a entrega múltipla, o gigante do delivery afirma que “o agrupamento de pedidos é utilizado como ferramenta de otimização de frota, em especial em momentos de baixa de oferta de entregadores, de forma a equilibrar a relação entre demanda e oferta no sistema”. 

Edição: Leandro Melito