Entrevista

Do Piauí ao RS: Pedro Munhoz volta à estrada levando canções, poemas e histórias

Percorrendo o caminho inverso, trovador vai relembrar trajeto percorrido há 22 anos, homenageando Gilvan Santos

Brasil de Fato | Picos (PI) |
O cancioneiro de Pedro Munhoz volta a ser colocado em contato com o povo em uma gira pelo Brasil - Divulgação

Violão na mão, mochila nas costas e um Brasil à frente. Este é o roteiro e cenário que aguardam o trovador Pedro Munhoz a partir de meados de julho, quando retorna à estrada percorrendo um trajeto que parte de Picos, no Piauí, onde reside atualmente, e segue até Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul, depois retornando à Vitória da Conquista na Bahia, com diversas paradas entre os territórios e as pessoas que ajudaram a compor sua jornada de artista popular até aqui.

Há 22 anos esse mesmo trajeto foi percorrido tendo ao lado o cantador piauiense Gilvan Santos. Ao retomar a rota em sentido inverso Munhoz leva consigo também a tarefa de prestar homenagem ao companheiro de arte, que hoje por motivos de saúde saúde não pode cantar mais. O repertório, como já é tradicional, vai sendo composto a cada parada, mesclando novas canções e poemas e revisitando músicas e textos que foram apropriados pelas pessoas ao longo da carreira.

:: Pedro Munhoz lança música que mescla lirismo e acidez ::

A partir do tema desta nova gira, intitulada “Poemas, Histórias e Canções”, conversamos com Pedro Munhoz, este semeador de versos, que fez da arte seu instrumento de luta e agora volta ao meio do povo para partilhar os frutos cultivados e buscar a inspiração, a força, a motivação e a esperança necessárias para o que há de vir, seja resistência ou construção. Confira:

Brasil de Fato RS - Pedro, tu está te preparando para colocar o pé na estrada novamente, para atravessar o Brasil. Que pode nos contar sobre isso?

Pedro Munhoz - A vida de um cantador é levar suas canções aos mais longínquos recantos do país. Estamos de volta a partir de julho com uma nova gira, assim como tantas outras que já realizamos. Vamos iniciar por Alagoinhas, aqui no Piauí, no dia 22 de julho, depois seguindo para Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Depois retornamos do Sul ao Nordeste, com uma parada final em Vitória da Conquista, na Bahia, finalizando essa andança. Isso deve compreender quase três meses.

Na verdade se trata de um retorno ao trajeto que fiz há 22 anos, junto com o nosso querido cantador piauiense Gilvan Santos, que foi ao sul e de lá percorremos o Brasil até Teresina, cantando. Vou fazer esse caminho de volta também em homenagem ao nosso querido Gilvan. Vão ser sete estados que vamos percorrer, fazendo esse resgate.


Músicas como "Quem tem coragem", "Procissão dos Retirantes" e "Canção da Terra" tem espaço garantido no repertório / Divulgação

Como vai acontecer essa jornada?

Será toda uma gira feita de ônibus, para resgatar essa raiz da cultura e da arte, que desde lá do início nós sempre defendemos, que seguimos defendendo, e que é uma forma de manter viva nossa coerência e nossos princípios. Também é uma boa oportunidade de rever lugares, rever pessoas amigas, conhecer outros lugares e outras pessoas e, porque não dizer, ir construindo outras relações com este trabalho que há tantos anos tem nos levado Brasil afora e até mesmo a outras partes do mundo.

Você costuma dizer que em cada apresentação algo muda em você e na tua obra. O que as pessoas que acompanham o teu trabalho podem esperar dessa gira?

A cada gira nós procuramos dar uma alterada no repertório para também ir experimentando algumas canções inéditas, alguns poemas inéditos. E as histórias, sempre há novas histórias para se contar. Isso a gente vai fazer.

O repertório sempre é composto de canções, poemas e histórias. Também iremos trazer algumas canções e poemas de autores não tão conhecidos, assim como é o caso do nosso querido Gilvan Santos, que vamos homenagear nessa andança. No decorrer do caminho vamos trazendo alguns compositores que fomos conhecendo e recolhendo ao longo dos últimos anos.

E as canções mais conhecidas? Quem vai às apresentações vai ouvir elas também?

A ideia é trazer algumas canções inéditas, mas também estarão presentes aquelas canções que as pessoas já conhecem, que o público consagrou, como “Canção da Terra”, “Procissão dos Retirantes”, “Quem tem coragem” entre outras. São canções que a gente sempre toca, que as pessoas pedem em nossas apresentações e que vamos revisitar.

Além de levar a mística do teu cancioneiro até estes lugares, pretende buscar ali também fonte para novas histórias e novas canções?

Toda vez que eu viajo fazendo apresentações pelo Brasil afora, invariavelmente nascem novas canções, nascem novos poemas, escuto muitas histórias que me são contadas. Eu costumo dizer que como tudo na vida, aonde a gente vai sempre deixa alguma coisa naquele lugar e levamos alguma coisa na bagagem. Este é o grande legado, aprender e ensinar, ensinar e aprender. E essas viagens musicais são recheadas por tudo isso, uma grande riqueza humana e filosófica que a gente procura traduzir com o nosso trabalho.


Poemas como "Morrer" e "O amor é socialista" também tem espaço em meio às canções e histórias cantadas e contadas pelo trovador / Divulgação / Divulgação

Depois deste período nebuloso que vivemos nos últimos anos, tu consegue olhar para o futuro com esperança?

Penso que sim, que precisamos ter esperança, ter uma expectativa positiva diante do que está por vir. Pior do que passamos nos últimos quatro anos acredito que seja impossível, diante de um governo fascista, genocida. Não existe na história do Brasil algo que se tenha vivido com tamanho grau de crueldade e injustiça como nós vivemos.

Agora é preciso continuar resistindo, é preciso continuar atentos, mesmo tendo essa esperança. Principalmente é preciso acreditar que é possível. Precisamos seguir caminhando e esse caminhar não é simplesmente acreditar que a mudança de um governo vai resolver todas as questões. Nós não estamos lutando por governos, é uma questão de sistema. Os governos que aí estão encontram-se dentro de um sistema que é capitalista e tem limites, grandes limites.

A resistência continua sendo nossa bandeira então?

Estamos vendo o que esse governo já está enfrentando com um congresso nacional conservador. Precisamos então seguir nossa marcha, porque as mudanças não se resolvem a cada quatro anos mudando prefeito, governador ou presidente.

Precisamos pensar e mirar na mudança do sistema e aí nos temos que estar juntos para saber o que queremos e para onde iremos. Mas essa expectativa, essa esperança eu tenho, muito embora eu continue no front dizendo que a gente tem que permanecer atentos, porque é muito fácil dar um tiro no pé, principalmente quando alguns setores da esquerda ainda teimam em aliançar com a centro direita.

Mas enfim, é preciso acreditar, é preciso esperançar neste momento. Eu, embora siga na resistência, tenho esperanças, agora respiramos um pouco mais aliviados.

E depois dessa gira? Há planos para o futuro?

Estou com 62 anos, o meu futuro enquanto cantador e trovador é seguir mantendo a coerência, os valores, os princípios, ainda que isso nos custe muito caro, ainda que tenhamos muitos reveses ao longo do caminho, muitas incompreensões inclusive. Não posso arredar pé de tudo isso que ao longo da vida vim construindo.

Os planos e projetos serão sempre em torno deste Pedro Munhoz, trovador e cantador, trazendo junto com seu violão as canções, os poemas e as histórias, sempre propondo um mundo novo, um mundo melhor onde o humano possa ser mais humano e ainda cada vez mais possamos ter vida em abundância.

O que dizer neste momento, véspera de colocar o pé na estrada, para quem te aguarda nos pontos de parada do caminho?

Nós estivemos sempre ao lado das pessoas, daqueles e daquelas que sempre acreditaram nestes valores. Os planos e os projetos é que sigamos juntos, por um mundo melhor, por um mundo que possamos transformar e onde haja carinho, amor, solidariedade e principalmente humanismo, onde a palavra igualdade seja exercitada em plenitude.

Serviço

O que? Pedro Munhoz: Canções, Poemas e Histórias
Onde? Piauí, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Bahia.
Quando? Do final de julho a meados de outubro.
Importante: Há datas livres que podem ser agendadas no teu território.
Contato para agendas: (89) 9 9418 2338

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira