A guerra entre Rússia e Ucrânia não foi o único tema territorial abordado pela declaração final da Cúpula entre os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), encerrada nesta terça-feira (18/07).
O texto também abordou o tema da disputa pela soberania das Ilhas Malvinas, atualmente ocupadas pelo Reino Unido, que as chama de Ilhas Falkland, mas que a Argentina reivindica como parte do seu território, que foi invadido e roubado pelos britânicos no Século XIX.
Com o apoio de grande parte dos países da Celac, incluindo o Brasil, a Argentina conseguiu incluir menções às Ilhas Malvinas em dois dos 41 pontos incluídos na declaração final da cúpula, sendo que em uma dessas citações o arquipélago é descrito como “território em disputa”.
O décimo terceiro ponto do documento afirma que “em relação à disputa pela soberania sobre as Ilhas Malvinas/Falkland, a União Europeia tomou nota da posição histórica da Celac, baseada na importância do diálogo e do respeito ao direito internacional na solução pacífica de controvérsias”.
“Reafirmamos ainda o nosso compromisso fundamental com todos os propósitos e princípios consagrados na Carta das Nações Unidas, incluindo a igualdade soberana de todos os Estados e o respeito pela sua integridade territorial e independência política, resolução de litígios por meios pacíficos e de acordo com os princípios da justiça e do direito internacional”, acrescenta o documento.
A declaração leva a assinatura dos presidentes da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do Conselho Europeu, Charles Michel, além dos chefes de Estado presentes no encontro, incluindo o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo a agência de notícias argentina Télam, a delegação argentina comemorou a declaração final do evento em Bruxelas. O chanceler do país sul-americano, Santiago Cafiero, ressaltou que “esta é a primeira vez em muito tempo que a União Europeia fala sobre as Malvinas. Isso não é pouco”.
“A partir deste pronunciamento, o governo argentino tem a expectativa de aprofundar o diálogo com a União Europeia em relação à questão das Ilhas Malvinas”, acrescentou o diplomata argentino.
A ausência do Reino Unido no evento – já que o país não forma mais parte da União Europeia desde 2020, em função do “Brexit” – contribuiu para uma menor resistência europeia a essa posição. Contudo, isso não significa que Londres não tentou interceder na questão.
Guillermo Carmona, secretário do governo argentino para temas relacionados ao arquipélago, afirmou que o Reino Unido “pressionou para que a declaração conjunta não incluísse qualquer citação à questão das Malvinas, ou à existência de uma disputa pela soberania das Malvinas”.
“A declaração da Cúpula Celac-UE é um fato muito importante e relevante. A UE reconheceu a disputa pelas Malvinas como uma questão de integridade territorial. O Reino Unido soube desse parágrafo e reagiu de forma enérgica, com uma forte pressão para que retirá-lo do texto, mas não conseguiu”, disse Carmona em declaração a uma rádio argentina.
Segundo o secretário, o texto alimenta a esperança de Buenos Aires de contar com o apoio da UE para convencer o Reino Unido a aceitar ser parte de uma mesa de diálogo sobre o tema.
Comparação entre Malvinas e Ucrânia
Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, a Argentina tem usado esse conflito vigente para expor uma contradição no discurso do Reino Unido e buscar apoio de outros aliados ucranianos para a causa da recuperação das Ilhas Malvinas.
A estratégia de Buenos Aires consiste em comparar a ocupação russa sobre os territórios de Donetsk e Lugansk, que pertenciam à Ucrânia até 2022, com a invasão britânica às Ilhas Malvinas, e cobrar coerência por parte de Londres, que qualifica Moscou “invasor do território ucraniano”.
O ministro da Defesa da Argentina, Jorge Taiana, disse que as Malvinas são “um dos últimos resquícios de colonialismo na América do Sul, e estamos no Século XXI, não há mais espaço para o colonialismo neste mundo atual”.
* Com informações de Página/12 e Télam.