Anuário

Paraíba e Roraima somam 6 casos de racismo em 2022; entenda por que isso não pode ser celebrado

Pesquisador aponta subnotificação: 'é um dado de qualidade muito baixa, que não informa nada'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Roraima, São Paulo e Tocantins ocultaram dados sobre injúria racial e racismo em 2021 - Carl de Souza/AFP

Entre os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgados nesta quinta-feira (20), chama a atenção o baixo número de registros de injúria racial e racismo no Brasil em 2022.

Os números mostram que o país registrou um aumento nos casos de racismo, que saltaram de 1.464 para 2.458. As denúncias de injúria racial também tiveram leve alta, saindo de 10.814 casos em 2021 e chegando a 10.990, em 2022.

Se os números forem levados ao pé da letra, seria possível supor que o Brasil teve, em 2022, 6,73 casos de racismo por dia e 30,1 casos de injúria racial em seu território, dados que afrontariam qualquer liderança do movimento negro no país.

"É um dado que não nos informa nada e é difícil falar sobre esse dado, porque ele tem uma qualidade muito baixa", alerta Dennis Pacheco, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. "A estatística está tão fora da realidade que essas variações não nos dizem nada. Um estado do tamanho de Goiás registrou apenas 51 casos de racismo (em 2021). Eles estão livres do racismo? Não existe racismo? Claro que não é isso, o problema está no fracasso do atendimento de uma vítima."

Ainda de acordo com Pacheco, o cruzamento com outros levantamentos ajuda a traçar um diagnóstico da escassez de dados. "O que as pesquisas qualitativas indicam é que as pessoas que chegam nas delegacias para registrar ocorrência são desestimuladas a continuar. O problema dos dados é, também, decorrência da falta de atendimento."

Outro fator relevante é a retificação de dados, que o pesquisador classifica como "circunstância pior do que a subnotificação". "Os dados que os estados nos enviam quando perguntamos em 2022 era um. Quando voltamos a pedir informações, neste ano, já eram outros. Isso é natural, porque tem processos de investigação, que mexem nos dados. Mas o que aconteceu nos dados de injúria e racismo é que a retificação mudou a natureza dos dados", conta o pesquisador.

"No caso do Pará, por exemplo, eles haviam registrado mais de três mil casos. Porém, na retificação, baixou para 300 e baixou o total nacional. O Rio Grande do Sul tinha informado mais de quatro mil casos de racismo e na retificação eles não nos disseram nada", finalizou.

Dados

A dificuldade de acessar os dados está escancarada no Anuário. Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Roraima, São Paulo e Tocantins ocultaram dados sobre injúria racial e racismo em 2021. Paulistas e gaúchos também não divulgaram os números de 2022.

Entre os estados que publicizaram seus dados, chama a atenção que Paraíba (4) e Roraima (2) somam apenas seis casos de racismo em 2022. A Bahia, estado com a maior população negra do país, informou que registrou apenas 10 casos de injúria racial no ano passado.

O Rio de Janeiro é o estado que aparece com o maior número de casos de injúria racial, em 2022, com 1902 registros. O dado representa um crescimento de 38% em relação a 2021, quando as autoridades fluminenses receberam 1.372 denúncias.

Com 322 registros, o Rio de Janeiro é o estado que registrou também o maior número de casos de racismo.

Edição: Thalita Pires