A Copa do Mundo Feminina começou, mas ao menos uma seleção foi completamente esquecida pela Fifa: o Afeganistão. Há 2 anos, o mundo assistiu horrorizado às cenas de desespero de mulheres deixando o país, que voltou a ser governado pelo Talibã, mas hoje não se fala mais delas.
Nas mãos do Talibã, o país de origem delas voltou a proibir todo esporte feminino. As jogadoras e a comissão técnica do Afeganistão migraram para a Austrália, uma das sedes da Copa do Mundo. A maioria delas encontrou refúgio em Melbourne, com o apoio do time local, o Victory.
Em meio a esse cenário, as jogadoras realocadas na Austrália solicitaram à Fifa o reconhecimento de uma seleção afegã no exílio. Dessa forma, mesmo com o esporte banido no país, elas poderiam representar o Afeganistão em competições internacionais e sonhar em chegar a uma Copa.
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O pedido foi ignorado pela Fifa e não há sinal de que essa posição mudará.
"Um dia, nós fomos a seleção nacional, e por muito tempo estamos tentando voltar a sê-la de novo", desabafou ao jornal britânico The Guardian a goleira e capitã Fatima Yousufi.
Malala Yousafzai, ativista paquistanesa pela educação feminina, é uma das vozes mais ativas na campanha para que a Fifa reconheça que a equipe ainda é a seleção do Afeganistão. Vencedora do Nobel da Paz, Malala sobreviveu a um tiro na cabeça disparado pelo Talibã em 2012.
Copa da Esperança
Não é que o Afeganistão não tenha nenhuma representação na Fifa. Por meio da sua federação nacional, afiliada à entidade que comanda o futebol, o país tem apenas uma seleção nacional, a masculina. Às mulheres afegãs, restou voltar aos tempos de proibição do futebol feminino.
Aproveitando-se do fato de que estão no país da Copa, as jogadoras afegãs organizaram a Copa da Esperança, jogo amistoso entre elas e uma equipe de refugiadas de outros países.
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A partida foi disputada nesta terça-feira (18), dois dias antes de a Copa oficial começar, o que chamou atenção para a causa.
Já nesta quarta-feira (19), as afegãs visitaram o treino da seleção do Marrocos, primeira seleção de um país de maioria muçulmana a se classificar para uma Copa do Mundo feminina.
O Marrocos vem profissionalizando seu futebol de mulheres e até sediou a última Copa Africana de Nações.
"É uma grande chance para o Marrocos mostrar ao mundo que as mulheres muçulmanas de todos os países podem participar", disse à Associated Press uma jogadora afegã chamada Farida, que não quis dar seu sobrenome.
Há um temor de que o Talibã possa perseguir sua família no país.
A proibição do futebol feminino pode soar grotesca atualmente, mas vale lembrar que isso também ocorria há não muito tempo em países como Brasil, Inglaterra e Alemanha. O tema foi assunto do episódio As proibições do futebol feminino, no podcast Copa Além da Copa.
* Este conteúdo é fruto de parceria entre o Brasil de Fato e o podcast Copa Além da Copa, que também está presente nas redes sociais.
Edição: Thalita Pires