Após longos quatro anos de absoluto apagão no âmbito das relações diplomáticas com o mundo, numa espécie de prisão domiciliar, o Brasil voltou a participar, contribuir e influenciar diretamente em questões de interesse global.
Na contramão do modelo político estabelecido pelo governo de Jair Messias Bolsonaro (2019/2022) – que fez clara opção por um alinhamento automático às pautas antidemocráticas defendidas por Donald Trump (EUA), de ódio, negacionismo e ataque às minorias –, Lula assumiu a presidência do país e firmou seu compromisso com valores democráticos e com a dignidade da pessoa humana.
Logo em sua posse, numa cerimônia marcada pela representatividade das minorias (mulheres, povos originários, negros, jovens, idosos, deficientes e LGBTQIAPN+), Lula selou compromisso de pacificar o país e de combater a fome e a desigualdade social, no que foi exitoso em seus governos anteriores.
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Se no plano nacional houve claro pacto pela normalidade democrática, pelo respeito e funcionamento das instituições, num evidente sinal de independência, harmonia e separação dos poderes; no panorama internacional, Lula fez, no primeiro mês de governo, importantes acenos para criação de uma moeda única para transações comerciais dentro do Mercosul, o que facilitaria o intercâmbio econômico do bloco atualmente composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Em viagem à China no mês de abril, o presidente firmou cerca de 15 acordos com o mandatário chinês Xi Jinping, tendo como principal foco a retomada da economia brasileira. Caso se concretize os acordos firmados entre os países, estima-se que os investimentos na área de tecnologia, desenvolvimento e intercâmbio cheguem a R$ 50 bilhões, o que representará significativo avanço frente aos injustificáveis ataques do então presidente Jair Bolsonaro e sua turba ao principal parceiro econômico do país, a quem acusou, no passado, de promover guerra química com a covid.
Já na III Cúpula CELAC-União Europeia, recém realizada em Bruxelas entre os dias 17 e 18 de julho de 2023, Lula reafirmou o compromisso do Brasil com o meio ambiente e o objetivo do país em zerar o desmatamento até 2030. Para além de assumir tal compromisso, o presidente também cobrou responsabilidade dos países quanto aos hábitos irresponsáveis de consumo, fator crucial para a sobrevivência do planeta.
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Por força do acordo entre União Europeia e Mercosul, ainda decorrente do encontro em Bruxelas, a presidenta da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, disse que "o bloco europeu prevê o investimento de 45 bilhões de euros (cerca de R$ 242 bilhões) nos países da América Latina e Caribe nos próximos anos".
Após a participação na mencionada cúpula, o mandatário brasileiro fez parada estratégica em Cabo Verde, onde foi recebido pelo Presidente José Maria Neves. Em território africano, ele ressaltou a necessidade de retomar a boa relação que o Brasil tinha com nações africanas.
Para além do restabelecimento das relações do Brasil com mundo, Lula atua intensamente para pôr fim às sanções impostas à Venezuela. Presente na mediação ocorrida no dia 19 de julho juntamente com os presidentes da Argentina, Colômbia e França, Lula exigiu intensa participação popular do povo venezuelano: i) na retomada de diálogos acerca das condições das próximas eleições; ii) nas negociações para garantir a participação de todos que desejem participar do pleito; iii) que o processo eleitoral tenha acompanhamento internacional; e por fim, iv) sejam suspensas as sanções de todos os tipos para à Venezuela. Ou seja, o presidente brasileiro trabalha para que as eleições ocorram dentro da normalidade democrática, observando-se a participação e a soberania popular.
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É fato que as conversas e relações diplomáticas estabelecidas por Lula nos últimos 6 (seis) meses passaram por temas de suma importância para o Brasil, tais como economia, sustentabilidade, meio ambiente, produção sustentável, desigualdade social, fome, emprego, eleições transparentes etc. Todavia, nenhum tema antecedeu o compromisso do Brasil com a pauta democrática, com o respeito à vontade popular de cada país parceiro.
Para Lula, todas as pautas são de suma importância para o país e o mundo, mas a impressão que fica é a de que – depois de 580 dias preso injustamente no âmbito de uma operação fabricada e contra os interesses da nação – o chefe do executivo brasileiro está disposto a tratar dos mais diversos temas, desde que sejam antecedidos pelo respeito e observância da democracia e da vontade popular.
Nota-se, assim, que a volta de Lula ao cenário político internacional contribui para o rearranjo da geopolítica e obriga/reforça o compromisso do mundo especialmente com à democracia. O mundo mudou, e Lula também. Este mais democrático do que nunca na história deste país.
* Douglas Samoel Fonseca é graduado em História pela PUC/SP, mestrando em Psicologia Social pela mesma instituição, Coordenador do Cursinho Popular Padre Ticão da Frente Democrática de Ermelino Matarazzo (FDEM).
** Rosângela Oliveira Silva é socióloga (FESPSP) e Assistente Social com Especialização em Gestão Pública e Saúde Coletiva, Vice-Presidente da Associação das Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (AVICO).
*** Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Thalita Pires