pelo menos 8 vítimas

'Sociedade e seus órgãos de fiscalização falharam', afirma pesquisadora após mortes de trabalhadores em explosão no Paraná

Maioria dos profissionais que morreram em unidade de cooperativa do agronegócio eram haitianos

Brasil de Fato | Florianópolis (SC) e Rio de Janeiro (RJ) |
Explosões aconteceram na última quarta-feira (26) - Reprodução/Twitter

A Polícia Civil do Paraná e o Ministério Público do Trabalho ainda não têm respostas definitivas após a série de explosões em um silo de secagem de grãos em Palotina (PR), na última quarta-feira (26). Oito trabalhadores já tiveram as mortes confirmadas, sendo que sete deles eram haitianos. A provável nona vítima fatal também era imigrante do país centroamericano.  

"Eu acho que isso deveria entristecer a todos nós, porque significa que a sociedade e os seus órgãos de fiscalização, de alguma forma, falharam na proteção dos direitos dos trabalhadores", resume a cientista social e professora Gláucia de Oliveira Assis, coordenadora do Observatório das Migrações em Santa Catarina, em entrevista ao Brasil de Fato.

No fim da tarde desta sexta-feira (28), os bombeiros ainda trabalhavam para tentar localizar o nono trabalhador vítima da explosão. O homem, também haitiano, pode ter ficado soterrado sob mais de 10 mil toneladas de grãos de milho.

O corpo do trabalhador brasileiro que morreu em decorrência da explosão foi sepultado na manhã desta sexta-feira. Outras dez pessoas ficaram feridas.

Os corpos dos sete haitianos cujas mortes foram confirmadas até quinta-feira (27) foram velados em uma cerimônia coletiva em um ginásio de Palotina. A Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) lamentou as mortes e lembrou que centenas de milhares de pessoas do Haiti vieram para o Brasil em busca de proteção e trabalho.

Assis, professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), lembra que os trabalhadores haitianos vieram ao Brasil em busca de oportunidades de recomeçar, diante da instabilidade econômica e política vivida pelo país de origem.

"Eles vêm em busca de melhores condições de vida e em busca de trabalho, para manter sua família, mandar remessas de dinheiro para o Haiti. Eles precisam do emprego e acabam se submetendo a trabalhos que oferecem maior risco e um maior periculosidade, que é o caso do trabalho nos silos", resumiu.

Muitas vezes essas pessoas deixam o Haiti com diplomas de curso superior e não conseguem revalidar o grau no Brasil. Assim, é comum que coloquem no mercado de trabalho em posições muitas vezes precárias e com baixa remuneração. Muitos conseguem estudar no Brasil e se recolocar no mercado, mas essas vagas seguem ocupadas por pessoas de origens semelhantes.

"O primo, o irmão, o vizinho, a pessoa da mesma cidade acaba chamando esses migrantes. Quando arrumam um trabalho melhor, eles saem. Mas tem outro migrante pra entrar nessas mesmas condições precárias de trabalho", pontuou.

A C. Vale é considerada a quinta maior cooperativa do agronegócio na região Sul do Brasil em vendas. Apesar da tragédia em Palotina, a empresa fez questão de destacar em nota oficial nesta sexta-feira que "tem diversas unidades espalhadas por todo Brasil, sendo que as atividades continuam funcionando normalmente, com exceção da unidade atingida".

Edição: Leandro Melito