O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) inicia nesta terça-feira (1º) sua quinta reunião do ano para discutir a taxa básica de juros da economia nacional, a Selic.
Nas quatro anteriores, o Copom a manteve em 13,75% ao ano, a mais alta taxa de juros real do mundo. Desta vez, entretanto, existe um consenso entre economistas de que a taxa, enfim, será reduzida.
Alguns estimam uma queda de 0,25 ponto e outros 0,5 ponto. Há economistas que recomendam um corte de até 1 ponto.
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Uma série de indicadores econômicos aponta para a viabilidade e para a necessidade de uma redução. O Brasil de Fato listou alguns deles:
Inflação em queda
A taxa básica de juros do Brasil chegou a 13,75% ao ano sob a justificativa de que sua elevação era necessária para o controle da inflação.
A Selic funciona como uma referência para os juros cobrados por bancos. Quando sobe, bancos tendem a subir taxas de empréstimos e financiamentos. Isso reduz consumo e investimentos, o que contém os preços.
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A inflação no país acumulada em 12 meses encerrados em abril de 2022 chegou a atingir os 12,1%. Em junho deste ano, porém, ela baixou a 3,16%. A prévia de julho reforçou o controle de preços.
Isso indica que já não é mais necessária uma Selic em 13,75% para contê-los. Por isso, a expectativa é de que a taxa seja reduzida.
Avaliação do Brasil
A taxa Selic também serve de referência para os títulos da dívida brasileira. Por meio deles, o governo toma empréstimos com bancos e investidores para financiar suas atividades.
Se esses credores têm dúvidas sobre a capacidade de o governo quitar esses empréstimos, eles exigem juros maiores para ceder o dinheiro. O BC monitora isso e, nesses casos, tende a elevar a Selic para garantir o funcionamento do governo.
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Na semana passada, três agências de avaliação de crédito melhoraram a nota do governo brasileiro: Fitch, DBRS Morningstar e Austin Rating. Elas avaliaram que caiu o risco do governo não honrar com suas dívidas.
Considerando isso, investidores estariam dispostos a emprestar dinheiro ao governo a juros mais baixos. A Selic poderia cair.
Curva de juros
Parte dessa disposição do mercado de emprestar dinheiro a juros mais baixos já foi captada pela chamada curva de juros. A tal curva é um gráfico sobre a expectativa de agentes do mercado financeiro sobre o rendimento dos títulos da dívida do governo.
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Hoje, esses agentes estimam que um título da dívida com prazo de um ano de vencimento deveria pagar juros de 11,2%. Isso é cerca de 2,5 pontos percentuais abaixo do atual patamar da Selic: 13,75% ao ano.
Isso significa que investidores estão dispostos a emprestar dinheiro ao governo recebendo juros mais baixos e que há espaço para queda da Selic.
Bancos estimam queda
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, costuma dizer que as expectativas do mercado sobre a taxa Selic são importantes para defini-la.
O BC capta essas expectativas semanalmente por meio do chamado Boletim Focus. Para a elaboração do documento, economistas de bancos e corretoras são ouvidos pelo BC.
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Toda segunda-feira, uma nova edição do boletim é divulgada. Nesta segunda (31), os economistas dos bancos reforçaram que esperam que a Selic feche este ano em 12%, 1,75 ponto abaixo do seu atual patamar.
Ou seja, eles já estimam uma queda da taxa básica de juros até dezembro.
Economia fraca
A economia brasileira cresceu 1,9% no primeiro trimestre deste ano ante ao último trimestre do ano passado, de acordo com os números do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em maio, entretanto, a prévia do PIB divulgada pelo próprio BC indica que a economia caiu 2% ante a abril. Ou seja, piorou.
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Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, isso é resultado da Selic a 13,75% ao ano. Ela atrapalha o crescimento do país na medida em que reduz o consumo e o investimento. Haddad já defendeu várias vezes a redução da taxa.
Emprego não deslancha
A economia brasileira gerou 1,02 milhão de empregos formais no primeiro semestre, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O número está abaixo dos 1,38 milhão registrados no primeiro semestre de 2022 e dos 1,47 milhão verificados em 2021.
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Desde janeiro, quando o Brasil criou 249 mil vagas de trabalho, a economia não gera mais que 200 mil empregos formais em um mês.
Segundo o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, isso também é resultado da Selic. “Se não fosse essa inadequação esquizofrênica do comportamento dos juros no Brasil, nós poderíamos estar falando em 200 mil novos empregos em junho”, disse.
Inadimplência em alta
Outro dado que reforça a necessidade de redução da Selic é o da inadimplência. Em junho, 29% das famílias tinham contas em atraso, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC).
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Isso acontece porque a Selic pressiona os juros cobrados das famílias para cima. As famílias, por sua vez, não dão conta de arcar com eles.
Algo parecido acontece com empresas. Mais de 200 grandes companhias entraram com pedidos de recuperação judicial nos primeiros três meses deste ano para tentar reequilibrar suas dívidas, as quais também são influenciadas pela Selic.
Orçamento apertado
Com a Selic elevada, o gasto do governo para pagar suas dívidas também aumenta. Sobra menos dinheiro para investir em outras áreas.
Só em julho, o Brasil gastou R$ 40,7 bilhões para pagar juros de sua dívida, que está atrelada à Selic. Em 12 meses, foram R$ 638,1 bilhões.
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No final de junho, o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB), reclamou desse gasto. "Você fica fazendo economia de R$ 1 bilhão, de meio bilhão, e acaba gastando quase R$ 200 bilhões a mais, em razão de ter uma taxa Selic nessa altura”, disse.
Alguns economistas esperam que o BC reduza a Selic em 0,5 ponto percentual na quarta-feira. Isso reduziria a dívida brasileira em cerca de R$ 21 bilhões, segundo o BC.
Isso é o dobro do orçamento do Minha Casa Minha Vida para este ano.
Edição: Rodrigo Durão Coelho