A Polícia Federal (PF) cumpriu, na manhã desta quarta-feira (2), mandados de busca e apreensão em endereços da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) e prendeu Walter Delgatti, hacker que invadiu telefones de membros da Operação Lava Jato.
Ambos são investigados por participarem de um esquema de inserção de alvarás de soltura e mandados de prisão falsos no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões. Um desses mandados incluía o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. No ofício, estava escrita a frase “faz o L”, em referência irônica ao slogan de campanha eleitoral de 2022 do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
De acordo com a PF, "os crimes apurados ocorreram entre os dias 4 e 6 de janeiro de 2023, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ e, possivelmente, de outros tribunais do Brasil, 11 alvarás de soltura de indivíduos presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso em desfavor do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes".
Os fatos investigados "configuram, em tese, os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica", diz a PF.
Em seu perfil no Twitter, o ministro da Justiça, Flávio Dino, comentou a operação de busca e apreensão. "Em prosseguimento às ações em defesa da Constituição e da ordem jurídica, a Polícia Federal está cumprindo mandados judiciais relativos a invasões ou tentativas de invasões de sistemas informatizados do Poder Judiciário da União, no contexto dos ataques às instituições", escreveu.
Encontro entre Zambelli e Delgatti
Em 20 de junho, durante a primeira fase da investigação, Delgatti confessou à PF a sua participação em parte do esquema. O hacker afirmou que o objetivo da invasão era expor as vulnerabilidades do sistema judiciário brasileiro, com o propósito de desacreditar o sistema eletrônico de votação.
O depoimento se soma à história do encontro entre Delgatti e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em agosto do ano passado.
Um desses encontros foi com Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, intermediado por Zambelli. A ocasião teria como objetivo envolver o hacker nos ataques de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas. Na época, o então chefe do Planalto já fazia frequentes ataques ao sistema eleitoral na tentativa de desacreditar o processo eleitoral.
No início deste ano, Zambelli foi questionada sobre a reunião em entrevista à Folha de São Paulo. “Eu o contratei no primeiro turno para fazer uma ligação automática entre minhas redes e meu site. Ele começou a fazer, mas não terminou. O encontro com Bolsonaro era sobre a fragilidade das urnas. O que sinto no Walter é que ele fez tudo isso meio para se redimir da culpa que tinha pelo Lula estar concorrendo", afirmou.
Terceira prisão de Delgatti
Em julho de 2019, Delgatti já havia sido preso pela Polícia Federal no âmbito Operação Spoofing, que investigou as invasões aos celulares de membros da Operação Lava Jato pelo aplicativo Telegram, como do então procurador Deltan Dallagnol. Após a invasão, as mensagens trocadas entre Dallagnol, outros membros e o então juiz do caso, que é ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro e atual senador, Sergio Moro (União-PR), tornaram-se públicas.
As mensagens divulgadas revelaram uma colaboração conjunta entre os procuradores e Moro nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Operação Lava Jato. Esse conteúdo desempenhou um papel crucial nos julgamentos conduzidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os quais resultaram na declaração da suspeição de Moro nas condenações de Lula.
Em setembro de 2020, o hacker foi solto para responder ao processo em liberdade, ficando, contudo, sujeito a algumas restrições, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de acesso à internet.
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No entanto, em junho deste ano, Delgatti foi novamente detido por desrespeitar as medidas judiciais. Ele admitiu à Polícia Federal que estava administrando as redes sociais e o site de Zambelli, violando as condições de sua liberdade provisória. Em 10 de julho, a Justiça autorizou mais uma vez a sua soltura, porém ele voltou a ser monitorado por meio de tornozeleira eletrônica.
Edição: Rodrigo Chagas