DINHEIRO IRREGULAR

Gustavo Petro comenta acusações de filho preso e descarta renunciar na Colômbia

Filho do primeiro presidente de esquerda do país é acusado de receber verbas ilícitas na campanha eleitoral

Caracas (Venezuela) |
'Não há ninguém que possa acabar com esse governo que não seja o povo', disse Petro - Daniel Munoz/AFP

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, se pronunciou na noite desta quinta-feira (03) sobre as acusações feitas por seu filho, Nicolás Petro, ao Ministério Público de que a campanha eleitoral do mandatário teria supostamente recebido financiamento irregular.

"Tenham a absoluta certeza de que esse governo termina de acordo com o mandato popular, de ninguém mais, e é bom que isso fique claro na Colômbia, não há ninguém que possa acabar com esse governo que não seja o povo", disse Petro em discurso durante encontro com movimentos camponeses.

As alegações feitas pelo filho do presidente, detido no último sábado (29), se tornaram públicas por meio do procurador Mario Burgos. Ele é responsável pela investigação contra Nicolás Petro, acusado de receber doações ilegais para a campanha do pai e desviar os fundos para contas pessoais.

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A prisão ocorreu após a ex-esposa de Nicolás Daysuris Vásquez denunciar o envolvimento o ex-marido. Ambos estão detidos e são investigados por lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.

Ao se apresentar ao MP nesta terça-feira (01), na primeira audiência de acusação, Nicolás Petro negou as acusações. No entanto, no dia seguinte, visando uma possível redução pela metade em sua pena, o filho do mandatário colombiano confessou os crimes e disse que iria colaborar com as investigações, apresentando "novas provas".

Nicolás, então, disse que havia, de fato recebido repasses ilegais não declarados e um ex-traficante chamado Samuel Santander Lopesierra e de empresários colombianos. No entanto, ao contrário do que denunciou a ex-esposa, disse que uma parte foi para contas pessoais, mas outra parte foi utilizada na campanha presidencial de Petro.

"Jamais levei meus filhos ao crime. Jamais me favoreceria do crime de nenhum deles. Minha vida política está em função da justiça social e da paz na Colômbia", respondeu Petro pelas redes sociais após as acusações.

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O presidente negou qualquer envolvimento com as doações e disse não saber das atividades do filho. "O único que posso recomendar ao meu filho é a dignidade, a verdade, não se ajoelhar diante do carrasco jamais", disse.

Petro criticou a utilização política do caso e descartou qualquer possibilidade de renúncia e disse que seguirá no cargo trabalhando "sem distrações por uma Colômbia melhor".

"Não é a primeira vez que tentam utilizar cicatrizes familiares, algumas vão cicatrizar, outras talvez nunca, mas é claro que tentaram utilizar todas as debilidades para abrir caminho para derrubar o primeiro governo popular da Colômbia", afirmou.

Nesta sexta-feira, a defesa do presidente publicou uma nota dizendo que pedirá "acesso imediato a todas as denúncias para que se unifiquem e possamos fazer um debate jurídico sério e respeitoso". "A inegável exposição midiática que isso acarreta nós impõe lisura e discrição em benefício de uma justiça cumprida e serena", disse o advogado de Petro, Mauricio Pava Lugo.

Aliados apoiam Petro

Outros políticos colombianos manifestaram apoio ao presidente, como a vice-presidente Francia Márquez. Em suas redes sociais, ela afirmou que confia na "retidão" do mandatário e que "não vão dobrar esse projeto de mudança".

"Desde o início, o presidente e o governo pedimos que todas as investigações necessárias fossem adiantadas. Tenho total confiança em um projeto que não procura colocar travas nem faz acusações para entorpecer a justiça", disse.

O ex-presidente colombiano Ernesto Samper também defendeu o governo Petro e disse que o "objetivo desse escândalo é que o presidente não possa governar".

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"Há setores que ficam incomodados com as propostas sociais, com as propostas de mudanças de Petro e que veem nisso uma excelente oportunidade para montar um foco de opinião que o presidente terá que responder de alguma maneira, como eu fiz, governando", disse em entrevista à emissora colombiano La W Radio.

Samper fez referência ao caso que ficou conhecido como "Processo 8000" que ocorreu durante seu mandato na Presidência, entre os anos 1994 e 1998, quando foi acusado de ter recebido financiamento do Cartel de Cali em sua campanha presidencial. À época, o ex-presidente disse que se tratava de uma tentativa de derrubar seu governo e a comissão de investigação que foi aberta no Congresso encerrou o processo por falta de provas.

"Que Petro se defenda governando", disse Samper à La W Radio. "Porque é claro que o interesse de alguns setores que estão dizendo durante esse primeiro ano de mandato que a economia vai piorar, que há incerteza nos meios militares, que há conflitos institucionais, é que os projetos do presidente não avancem", afirmou.

Edição: Rodrigo Durão Coelho