Enquanto a Operação Escudo segue na Baixada Santista e acumula ao menos 16 pessoas mortas pela polícia, o ouvidor Claudio Aparecido da Silva registrou um boletim de ocorrência de ameaça de morte. O Brasil de Fato teve acesso ao documento.
O ouvidor das Polícias de São Paulo, à frente do órgão cuja função é receber e encaminhar apuração sobre denúncias de ações irregulares dos agentes de segurança, formalizou a ocorrência na última sexta-feira (4).
Em um grupo de Whatsapp de agentes penitenciários, cujo nome é “Polícias Penais Assuntos”, um homem defendeu que o ouvidor deve ser assassinado.
“Não podemos tapar o sol com a peneira e fingir que nada está acontecendo, demorou pra matar esses vagabundos e quem estiver apoiando bandido igual esse negro maldito e ouvidor das polícias tem que morrer também. Essa é a minha posição. Vai virar guerra e eu estou pronto”, diz a mensagem no Whatsapp vista pela reportagem.
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Além de ameaça, o B.O. registrou o crime de injúria racial, quando há a ofensa contra a “dignidade ou decoro” de alguém “em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional”.
"Pânico" na Baixada Santista
Na última quarta-feira (2), o ouvidor visitou comunidades na Baixada Santista que estão ocupadas pela Operação Escudo e colheu relatos de moradores e familiares das vítimas.
“O cenário é devastador. É um cenário de pânico, desespero e receio pela própria vida. Cada pessoa com quem a gente falou disse praticamente as mesmas coisas. Invasões de casas, ocupações de barraco, agressões, invasão do banheiro com mulheres tomando banho”, relatou Claudio Silva ao Brasil de Fato.
A Operação Escudo, que até a última sexta (4) prendeu 128 pessoas, foi deflagrada como resposta à morte do soldado Patrick Reis, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), na última quinta (27). A previsão é que dure ao menos 30 dias.
A respeito do discurso do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, de que todas as mortes foram decorrentes de confronto, Silva afirmou que os depoimentos colhidos pela Ouvidoria “vão, até agora, em caminho contrário a essa afirmativa”.
“Os relatos que a gente tem recebido de vizinhos, pessoas que presenciaram cenas, é exatamente o contrário. Tem denúncia de que vítimas foram arrastadas para determinados lugares para serem executadas”, expôs.
“A gente tem relatos de que existem pessoas desaparecidas, de que existem pessoas feridas que a gente não localizou, então temos receio que esses números [de mortos] sejam maiores do que a gente está presenciando ou que o próprio governo está divulgando”, disse o ouvidor.
Edição: Raquel Setz