Hoje as cozinhas solidárias só conseguem produzir com doações de insumos
Desde a pandemia de covid-19, em 2020, que as cozinhas comunitárias transformaram-se numa corrente solidária para ajudar pessoas em vulnerabilidade, que estavam passando fome. com as doações, esses espaços viveram momentos de panelas cheias e a distribuição de marmitas e cestas básicas conseguiu minimizar o desespero de muitas famílias.
O importante trabalho desenvolvido a muitas mãos nestes espaços foi reconhecido e hoje começa a vislumbrar um novo momento como política pública nacional. Com a retomada do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o presidente Lula (PT) elevou as cozinhas solidárias à política pública de fato. Já no Ceará, a pauta foi uma promessa de campanha do atual governador do estado, Elmano Freitas (PT), que, dentro do “Pacto por um Ceará Sem Fome”, irá destinar recursos para o desenvolvimento dessas cozinhas. A ideia é estruturar uma rede para a distribuição de 100 mil refeições diárias. através de edital, diversas entidades foram escolhidas para gerenciar esse recurso, com o qual até 1300 cozinhas serão beneficiadas
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“A gente está agora num processo de abertura de contas das unidades gerenciadoras, que têm expertise no gerenciamento de projetos aqui no Ceará, que venceram o processo do edital de chamamento público pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário. Após a assinatura do Termo de Colaboração, que a gente quer que seja após a abertura de contas bancárias por essas entidades, que seja o quanto antes, ainda nesta semana e com o decorrer da próxima semana, elas já vão abrir para o credenciamento das cozinhas sociais”, explica Lia de Freitas, primeira-dama cearense.
Mas, enquanto a política pública não chega, as cozinhas comunitárias estão enfrentando momentos difíceis. De acordo com o sociólogo Adriano Almeida, assessor técnico da rede de cozinhas solidárias do Grande Bom Jardim, com a queda nas doações, muitas unidades pararam de funcionar. Outras até retomaram as atividades, mas abrem apenas algumas vezes no mês.
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“Elas [as cozinhas solidárias] só conseguem produzir no dia que conseguem doações de insumos. Então, no dia que não conseguem, elas não produzem. É muito comum que lideranças dessas cozinhas venham me procurar para dizer que não conseguem mais manter o trabalho, que elas precisam sobreviver; e anunciam um indicativo de desistência. Então, atualmente, essas 24 cozinhas conseguem produzir, quando muito, um dia na semana para atender aos seus públicos cadastrados”, afirma.
Bruna Raquel faz parte da coordenação da Rede de Cozinhas Solidárias dos Movimentos Populares (CE), que foi o precursor das cozinhas solidárias em Fortaleza (CE). A rede, que conta com 15 cozinhas, tem, hoje, seis paradas, com produção semanal de 200 marmitas, distribuídas apenas uma vez por semana ou a cada 15 dias. Atualmente, cada cozinha consegue atender cerca de 100 famílias.
“Muitas [das cozinhas] não estão funcionando como poderiam. Elas têm uma estrutura de qualidade que poderiam funcionar da melhor forma, produzindo mais refeições, atingindo mais pessoas. Infelizmente, houve uma queda muito grande nas doações. A gente avalia que é por que as pessoas acham que nós já estamos dentro da política pública, que nós já estamos recebendo recursos. Só que não. A gente conhece o governador Elmano e sabe da sua boa vontade de superação da fome, mas o Estado é muito burocrático. Então [ a iniciativa] passa por um edital, por preliminares, vai passando por processos que são muito duradouros e, na ponta, não chega nada, né?”, lamenta.
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O processo, de fato, precisa seguir todo um trâmite para que o recurso chegue na ponta. Lia de Freitas, articuladora do programa ‘Ceará sem Fome’ e presidente do comitê de governança do programa, afirma que todas as cozinhas serão beneficiadas. Após esse processo inicial, as unidades de cozinhas que manifestaram interesse participando do edital, poderão se dirigir até uma das unidades gerenciadoras da sua região. Ainda segundo a primeira-dama, as que foram aprovadas pelo edital, fazem um cadastro e precisam ainda atender algumas exigências do programa.
“A partir daí, a unidade de cozinha vai receber uma confirmação de que está inscrita. Depois é preciso ir a uma unidade gerenciadora para ser capacitada, para poder validar essa cozinha, que, pelo edital, deve cumprir algumas exigências mínimas de condições de funcionamento: fogão, geladeira, panelas, uma pia, um espaço arejado, com janela. Então, após essa análise, as cozinhas receberão recursos para energia, água, para pagar uma cozinheira com vínculo empregatício e também uma auxiliar de cozinha, para receber todos os gêneros alimentícios para a produção de até 100 refeições por dia”, finaliza.
Edição: Douglas Matos