Uma das maiores retrospectivas do pintor Heitor dos Prazeres (1898-1966) no país, "Heitor dos Prazeres é meu nome" reúne mais de 200 trabalhos do artista no campo visual, musical, do samba e da moda. Sua obra é iniciada no período pós-abolição, em que se estabeleceram as bases da cultura nacional, muito influenciada pela matriz afro-brasileira.
A exposição, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no centro do Rio, é gratuita e fica em cartaz até 18 de setembro.
Pinturas, canções, partituras, projetos, desenhos, discos e indumentárias marcam a trajetória de Heitor dos Prazeres e sua relação com diferentes esferas da produção cultural. Importante sambista, compositor e instrumentista, ingressou nas artes visuais produzindo trabalhos que refletem a realidade pós-escravagista da população negra.
No momento em que as elites do Rio de Janeiro e do Brasil estavam voltadas para os valores do branco europeu, da matriz colonialista, o artista, em sentido oposto, reproduzia em suas obras o que via e experimentava nas vivências como homem negro: os fluxos migratórios de africanos e seus descendentes, a mudança do campo para a cidade, a religiosidade, a repressão policial, a capoeira, o samba, a afetividade, entre outros temas.
Tamanha a relevância de sua obra, instigante e inovadora, animada pelo protagonismo do negro na sociedade brasileira, e suas aspirações de liberdade e igualdade, que o artista veio a ser cassado pelo Ato Institucional nº 1, de 1964.
Como sambista, desempenhou papel fundamental na criação de blocos e ranchos e na fundação das primeiras escolas de samba do Rio de Janeiro: Mangueira, Portela e Deixa Falar, que mais tarde ganhou o nome de Estácio de Sá. Frequentador da casa de Tia Ciata, compôs com Noel Rosa a famosa canção "Pierrô Apaixonado" e muitas outras de autoria própria, e conviveu com baluartes como Cartola, Paulo da Portela e Pixinguinha.
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Ingressou na pintura já consagrado na carreira musical e no samba. Participou de mostras e exposições de relevância nacional e internacional. Em 1951, recebeu prêmio na I Bienal de Arte de São Paulo na categoria pintura nacional. Em 1953, participou com obras em sala especial da II Bienal de São Paulo.
Em 1961, expôs no Museu de Arte Moderna do Rio (MAM-RJ). Em 1966, em seu último ano de vida, participou do I Festival de Artes Negras em Dakar, no Senegal.
Haroldo Costa, curador da exposição junto com Raquel Barreto e Pablo León de La Barra, esteve com Heitor dos Prazeres em Dakar: “Heitor foi, em sua época, o que viríamos a denominar, hoje, artista multimídia. Uma grande satisfação poder apresentar a trajetória desse extraordinário criador e sua obra pioneira, elegante e surpreendente para o grande público do CCBB RJ”, conta ele.
A exposição
A obra de Heitor dos Prazeres ficará exposta em 10 salas do CCBB RJ divididas por núcleos. Foram selecionadas canções de sucesso do artista para reprodução em som ambiente nas salas.
O núcleo “Paisagens, territórios e cartografias de Heitor” abre a exposição reunindo paisagens pintadas pelo artista, o que inclui o norte fluminense ruralizado, a formação dos subúrbios e das favelas e algumas cenas rurais do início do século XX, onde hoje estão localizadas as zonas Norte e Oeste do Rio.
Em seguida, o núcleo “Um pintor extraordinário” é dedicado exclusivamente à pintura, destacando o domínio da técnica e a consciência estética do artista. A vida da população negra no século passado está no núcleo “Heitor dos Prazeres, um pintor da vida moderna negra”, onde há obras sobre feiras e fábricas, relações afetivas, brincadeiras e jogos, a boemia e a malandragem.
Há o núcleo “O pintor e a modelo”, e a vivência na casa de Tia Ciata, o carnaval, as rodas de samba e a religiosidade de matriz africana no núcleo “África em miniatura”.
Além da abertura e dos núcleos descritos acima, a exposição é composta ainda pelos núcleos “Ballet do IV Centenário + obra + mobiliário”, “Cronologia 1888-1937”, “Cronologia “1938-1954” e “Cronologia 1955-1966”.
Também são destaque as obras expostas por Heitor dos Prazeres em três bienais, eventos considerados os mais importantes no mundo da arte, como “Candango” (1950), que participou da I Bienal de Artes de São Paulo, “Praça XV”, que compôs o histórico I Festival de Artes Negras, no Senegal, em 1966, e “A mulher abstrata” e “Jogadores de sinuca”, que estiveram na VI Bienal de São Paulo.
Serviço
Até 18 de setembro de 2023
Classificação indicativa: Livre
Local: Centro Cultural Banco do Brasil
Endereço: Rua Primeiro de Março 66 – 1º andar - Centro, Rio de Janeiro
Funcionamento: Segundas, quartas, quintas, sextas e sábados, das 9h às 21h; e Domingos, das
9h* às 20h.
Entrada Gratuita
Retire seu ingresso na bilheteria física ou em bb.com.br/cultura
Contato: 21 3808-2020 | [email protected]
Mais informações: bb.com.br/cultura
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Eduardo Miranda