“Comemorar 26 anos de uma emissora não comercial é um fato histórico na luta pela democratização da comunicação no Brasil”, declara o jornalista e sociólogo Laurindo Leal Filho sobre o aniversário da TV Comunitária do Distrito Federal.
Autor de “A TV sob controle: a resposta da sociedade ao poder da televisão”, Filho argumenta que o trabalho da TV Comunitária DF faz parte de um movimento que vai na contramão da concentração midiática que ocorre no país.
O monopólio midiático, segundo ele, só pode ser quebrado com “aumento do número de vozes com acesso a meios massivos de comunicação”. Hoje, diz, os canais comerciais estão nas mãos de poucas famílias que trabalham por interesses próprios.
Laurindo argumenta que governos populares têm a obrigação de “impulsionar com instrumentos operacionais, técnicos e de recursos” emissoras como a TV Comunitária do DF, “que podem fazer a diferença no conjunto das ideias que circulam no Brasil".
“Enquanto a gente tiver essas ideias concentradas na mão de poucas famílias, não dá pra dizer que temos democracia real no país”, conclui.
Paulo Miranda, cofundador e presidente do veículo, afirma que o projeto da TV acumula 26 anos de “rebeldia e enfrentamento” e que “seus estúdios, câmeras e microfones sempre foram armas de conscientização massiva”, o que justifica, segundo ele, o “enorme boicote” que sofre até hoje: “não existe no Brasil, uma política de financiamento e desenvolvimento para as rádios e TVs comunitárias e mídias alternativas”, explica.
Falta de investimentos
“Não conseguimos avanços no reconhecimento desta forma de comunicação, já que não há investimentos governamentais nas emissoras não comunitárias”, argumenta a vice-presidente do projeto e apresentadora do programa TV Sinpro Rosilene Corrêa, acrescentando que, além de governos, mais movimentos sociais e sindicais também devem se aproximar como parceiros do canal.
Mesmo com pouca infraestrutura e financiamento, a TV produz, ao vivo, a cada ano, mais de 400 programas autorais, entre eles Baú Musical, Contracorrente, Notícias do Brasil, Brasília Notícias, Café na Política, Cenário Musical, Foco Nacional, Conexão Cidadã, Direito de Antena, Espaço Sindical, Letras & Livros e A Rua tem Seus Traços - Barba na Rua.
Uma parte desses programas é produzida pela Escola de Mídia Comunitária – TV em Movimento, um projeto da emissora que oferece oficinas de como trabalhar com telejornalismo e com televisão de modo geral. O projeto existe desde 2007 e é voltado para crianças, jovens e adultos. De acordo com dados da TV, mais de cinco mil pessoas já foram formadas pela escola.
Programas da TV Supren (União Planetária e Sociedade Teosófica), do Brasil de Fato, da Auditoria Cidadã da Dívida, da TeleSur, da TVT, entre outros, também integram a grade semanal do veículo comunitário.
A emissora se apresenta como um “canal de defesa da soberania informativo-cultural do país”, disponível no canal 12 da NET no Distrito Federal – única empresa de TV a cabo do DF –, com público estimado em um milhão de pessoas, e também está presente em outras plataformas midiáticas, como facebook, instagram e site próprio, cujo link é www.tvcomunitariadf.
'Guerreira na batalha de ideias'
Eduardo Araújo, presidente do Sindicato dos Bancários, entidade parceira da TV, declara que a iniciativa é um “patrimônio de Brasília” e um “parceiro de primeira hora” das atividades sindicais. “Traz algo importante para a comunidade brasiliense que outras emissoras não trazem: o povo”, conclui.
Já para Lenildo Marais, diretor do Conab, a TV sempre esteve ao lado dos movimentos sociais, de cultura, da agricultura familiar e de quem luta pela democracia no Brasil, cumprindo seu papel de levar a comunicação de forma solidária e sustentável”.
O jornalista Miro Borges, do Instituto Barão de Itararé, diz que a TV é referência para outras TVs comunitárias e lembra que a iniciativa sobrevive graças ao apoio das entidades de classe. “É a TV comunitária que permite quebrar o monopólio no setor e por isso a participação dos movimentos sociais é fundamental para continuar fortalecendo essa luta”.
Maria Auxiliadora Cesar, do Núcleo de Estudos sobre Cuba (Nescuba), da Universidade de Brasília (UnB), lembra que a TV Comunitária nasce no mesmo dia que Fidel Castro e que, “assim como Fidel, que era chamado soldado das ideias”, a TV é uma “guerreira na batalha de ideias”. “Com vários programas, luta e divulga ideias para construir uma sociedade socialista”, argumenta a professora aposentada.
História
No ar desde 13 de agosto de 1997, a TV Comunitária foi a terceira a surgir no país, depois de iniciativas no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, com base no artigo 23 da Lei 8.977/95, a chamada "lei do cabo".
“Estávamos embarcando num sonho”, descreve o jornalista Beto Almeida, um dos fundadores, que na época era diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ). Para ele, as emissoras comerciais se tornaram embrutecedoras, anti-civilizatórias, violentas, desinformativas e mesquinhas.
“Uma verdadeira algema mental para travar a indispensável conversação da sociedade consigo mesma, um diálogo sincero, em busca de mudanças prementes para que um país tão rico seja bondoso, generoso e acolhedor para todos os brasileiros”, acrescenta.
A convocação para a construção da TV foi realizada mais de um ano antes de ela ir ao ar. Em 27 de fevereiro de 1996, o Auditório do Sindicato dos Jornalistas recebeu representantes de 28 instituições sociais do entorno. O registro do estatuto do projeto foi feito no Cartório 1º Ofício de Brasília, na responsabilidade da Associação de Entidades Usuárias de Canal Comunitário do Distrito Federal.
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Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Flávia Quirino