Terras áridas

China combate desertificação para garantir segurança alimentar e qualidade do ar

Instituto da Mongólia Interior utiliza plantas nativas para transformar zonas desérticas em pastagens e florestas

Bayan Nur|China |
Região Autônoma da Mongólia Anterior - Mauro Ramos

A China tem como meta restaurar 6,7 milhões de hectares de áreas desérticas com pastagens e florestas, até 2025. O objetivo está dentro 14º Plano Quinquenal, que começou em 2021 e termina em 2025. O país é o que tem a maior área de desertificação do mundo, com 2,5737 milhões de km² (quase 1/3 de seu território), e 1,6878 milhão de km² de áreas de solo arenoso, segundo os últimos dados de 2019 da Administração Nacional de Florestas e Pastagens.

O 14º Plano Quinquenal também visa manter a cobertura vegetal de pastagens do país em cerca de 57%. Uma das preocupações que guia o combate à desertificação na China é a segurança alimentar do país. Embora a China seja uma das nações com as maiores áreas de terras agricultáveis utilizadas do mundo, a terra agricultável per capita é de apenas 0,08 hectare, o que representa menos de um terço da média dos 38 países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 0,27, segundo dados da FAO.

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A região da Mongólia Interior possui vários grandes desertos, 23,3% das terras desertificadas da China e 23,7% das terras arenosas. A região tem como meta aumentar sua cobertura florestal para 23,5% e sua cobertura vegetal de pastagem para cerca de 45%.

Ao mesmo tempo, a Mongólia Interior vem liderando os esforços no país contra a desertificação. De 2012 a 2022, a Mongólia Interior plantou mais de 8 milhões de hectares de árvores e mais de 19 milhões de hectares de pastagens.

Chen Ruijue é vice-gerente do instituto de pesquisa M-Grass, entidade que já contribui na restauração de mais de 20 milhões de mu (cerca de 1,3 milhões de hectares) de terra desertificada. Ela explica que a desertificação é um conceito amplo, incluindo pastagens degradadas, pastagens arenosas e terras salino-alcalinas, entre outros tipos de solos e que existem dois aspectos principais da restauração de terras degradadas pela desertificação:

"Em primeiro lugar, ela requer fontes locais de sementes nativas que sejam adequadas e suficientes para a restauração ecológica, a fim de atender às necessidades ecológicas da região específica. Em segundo lugar, depende de dados, como solo, água e plantas."

Essas informações, explica Ruijie, ajudam a determinar as condições climáticas e as comunidades vegetais adequadas para uma determinada região, orientando os esforços de restauração. 

A batalha contra a desertificação também tem como objetivo reduzir os níveis de poluição no país. Esse ano, as tempestades de areia se tornaram mais abrangentes, longas e frequentes na China, afetando principalmente as regiões e províncias do Norte do país. A poeira das tempestades de areia contém poluentes ambientais e microorganismos, como bactérias, fungos e vírus. 
 


Antes e depois da restauração ecológica da pastagem de Chilechuan / MGrass



A especialista destaca a necessidade de "resolver problemas ecológicos por meio de métodos ecológicos". O controle da desertificação, especialmente em áreas áridas e semiáridas, segundo ela, visa criar uma fronteira para deter a propagação da desertificação, em vez de transformá-la em um oásis. "Utilizamos plantas nativas adequadas ao ambiente local para criar essa fronteira, prevenindo a expansão da desertificação e alcançando o efeito de expansão da vegetação que empurra o deserto para trás", explica Ruijie.

Proteção das terras agrícolas

No final de junho deste ano, um projeto de Lei de Segurança Alimentar foi enviado para a terceira sessão do Comitê Permanente da 14ª Assembleia Popular Nacional. Entre as disposições, o projeto prevê o estabelecimento de "linhas vermelhas" para que as áreas das terras agrícolas em todos os níveis administrativos não diminuam. 

"Nosso objetivo não é apenas restaurar e proteger as pastagens apenas para fins de contemplação, mas também alcançar a integração da produção, do sustento e da ecologia", diz a pesquisadora Ruijie. 

A gestão do ecossistema na região do lago Wuliangsu, na cidade de Bayan Nur, é um exemplo dessa perspectiva. O lago Wuliangsu é a maior área úmida da bacia do rio Amarelo, por sua vez o segundo mais longo da China. Os lagos, em regiões áridas e semiáridas, desempenham um papel importante para manter o equilíbrio dos ecossistemas regionais, o que contribui para prevenir a desertificação das terras e reduzir, assim, as tempestades de areia.

De 2020 a 2022 um projeto de restauração na região teve como meta transformar mais de 8 mil hectares de solos salino-alcalinos em terras agricultáveis.

Na bandeira (uma das divisões administrativas da Mongólia Interior) frontal de Urad está um dos solos recuperados. Ali, os camponeses cultivam trigo e pimenta na mesma área. O consórcio desses cultivos, conhecidos na agroecologia como plantas companheiras permite evitar o ataque de insetos. Por outro lado, o uso da terra é destinado a aumentar a renda dos camponeses, mas também garantir o auto-sustento das famílias. Assim, a pimenta tem como destino a comercialização e o trigo é para autoconsumo das famílias. 


Consórcio de trigo e pimenta na bandeira frontal de Urad em Bayan Nur, Região Autônoma Mongólia Interior, China / Mauro Ramos

Liu Jun, do Centro de Extensão de Tecnologia Agrícola e Pecuária da bandeira frontal de Urad, afirma que a agricultura e a pecuária, especialmente a criação de ovelhas em Bayan Nur são um setor fundamental e uma fonte crucial de renda. A população total da bandeira frontal de Urad é de cerca de 330 mil habitantes, e a população envolvida na agricultura é de aproximadamente 200 mil. 

Para Ruijie, a articulação entre os diferentes objetivos "está alinhada com o conceito de uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade, onde animais, plantas e seres humanos compartilham um lar comum". 

Edição: Rodrigo Durão Coelho