O grupo islâmico Talibã celebra nesta terça-feira (15) o aniversário de dois anos de sua volta ao poder no Afeganistão. O feriado na capital, Cabul, marca a unificação política do país após 20 anos de ocupação dos Estados Unidos (2001- 2021). O período, foi marcado por uma aguda erosão dos direitos e liberdades das mulheres do país.
"Faz dois anos que o Talibã assumiu o poder no Afeganistão. Dois anos em que as vidas de mulheres e meninas foram completamente modificadas, seus direitos e seus futuros", afirmou por meio de um comunicado a vice secretária-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Amina Mohammed.
No Afeganistão, meninas a partir dos 12 anos de idade são proibidas de estudar, mulheres não podem andar sozinhas por distâncias maiores do que 72 km (ou 45 milhas) - elas precisam estar acompanhadas por um homem - e são impedidas de trabalhar na grande maioria dos empregos. O Talibã justifica essas práticas nas leis islâmicas, a sharia.
Organizações internacionais dizem que a fome passou a afetar o dobro das mulheres do país em comparação com os homens. O número de casamentos infantis também disparou, com muitas famílias recorrendo à prática como forma de aliviar as condições financeiras. A burca, traje que cobre todo o corpo, inclusive os olhos, voltou a ser obrigatória.
O Talibã havia governado o Afeganistão entre 1995 e 2001, aplicando os mesmos preceitos da sharia - uma interpretação radical do islamismo sunita, oriunda da Arábia Saudita. Muitas de suas decisões à época chocaram o mundo, como a proibição de música, apedrejamentos públicos, a obrigatoriedade do uso de barba entre homens e a destruição das gigantescas estátuas milenares dos Budas de Bamiã, por divulgarem "falsas crenças".
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Ao manter refúgio ao saudita Osama Bin Laden - responsável pelo ataque aos EUA em 11 de setembro de 2001 - o país foi invadido pelos militares estadunidenses, no que foi chamado de "Guerra contra o Terror" e que seguiria dois anos depois com a invasão do Iraque.
Durante a ocupação de 20 anos, as mulheres conquistaram inúmeros direitos: desde estudar, trabalhar até protestar. Essa 'ocidentalização' comportamental foi bancada pelo governo afegão apoiado pelos EUA, mas vista com desconfiança por setores da sociedade do país.
Atualmente, a erosão dos direitos das mulheres é considerada o maior obstáculo para o reconhecimento do Talibã pela comunidade internacional. O grupo, no entanto, argumenta que progressos significativos foram conquistados nestes dois anos no poder.
Entre eles, a redução drástica dos índices de violência e de cultivo de ópio. O Afeganistão responde por quase toda a produção mundial de papoula, de onde é extraído o ópio e produzida a heroína vendida nos mercados internacionais.
Edição: Rodrigo Durão Coelho