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Solidárias e populares: cozinhas comunitárias ajudam a combater a fome em Florianópolis (SC)

Desde o início da pandemia, foram mais de 300 mil refeições entregues; projeto de lei quer levar ideia a todo o estado

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Já foram mapeadas cerca de 15 cozinhas populares e comunitárias em bairros periféricos de Florianópolis - Rede Com a Rua/Divulgação
As cozinhas comunitárias e populares ajudam a suprir a falta de equipamentos públicos de alimentação

Cerca de 15 cozinhas comunitárias e populares que atuam nos bairros periféricos da capital catarinense, Florianópolis, têm ajudado a enfrentar o problema da insegurança alimentar no estado. Segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, de 2022, cerca de 40% dos lares catarinenses lidavam com o problema.

Inaugurada em junho de 2020, a Cozinha Comunitária Dona Hilda foi o primeiro projeto do Centro de Integração Social Santa Dulce dos Pobres. O espaço é gerenciado pela Ação Social Arquidiocesana (ASA) de Florianópolis. 

A cozinha funciona regularmente quatro vezes na semana, sendo três voltada especialmente para a população em situação de rua. São em torno de oitocentas marmitas distribuídas semanalmente nas comunidades Vila Aparecida e Maloka. 

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"É a própria comunidade que prepara, que entrega. É a comunidade que vai discutir também qual é o formato dessa cozinha e que faz a cozinha de fato criar vida e se fortalecer. A gente vem  buscando implementar essa política de segurança alimentar. Quando a gente começou a entregar comida na rua, a cobrança que se tinha para uma cozinha comunitária era a mesma que se tem para um estabelecimento que lucra, né?", explica Luciano Leite, assistente social e coordenador do Centro de Integração Social Santa Dulce dos Pobres.

As 15 cozinhas que surgiram ou se fortaleceram durante a pandemia, ajudam a suprir a carência de equipamentos públicos de alimentação. Até o ano passado, Florianópolis era a única capital do país sem um restaurante popular. Somente através da Rede com a Rua, que reúne a maioria das cozinhas solidárias de Florianópolis, foram mais de 300 mil refeições entregues desde março de 2020.

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"O que Florianópolis precisa é de uma rede de restaurantes populares. Temos um na região central, mas acho que seria fundamental ter um no norte da ilha, na parte continental também. Temos de pensar de que maneira o poder público poderia atuar junto a essas cozinhas, com feiras, hortas comunitárias e um banco de alimentos que a cidade não tem hoje. Seria fundamental que a Prefeitura tivesse um banco de alimentos e, por meio das suas compras, pudesse abastecer essas cozinhas que estão hoje em funcionamento", afirma Isabela Barbosa, integrante da Rede com a Rua. 

O deputado estadual Marquito (PSOL-SC) era vereador de Florianópolis quando apresentou projeto de lei municipal para dar aval para o funcionamento das cozinhas comunitárias em Florianópolis. Hoje em dia, tramita na Assembleia Legislativa do estado um novo Projeto de Lei, também apresentado por ele, que tenta regulamentar as cozinhas populares e solidárias em todo o estado.

"Muitas vezes Santa Catarina apresenta indicadores de um estado de muito sucesso, econômico, social e acaba negligenciando os dados oficiais. Quando não tem políticas públicas, muitas vezes a sociedade civil organizada através das suas organizações acaba encontrando saídas, como é o caso das cozinhas comunitárias e solidárias", disse.

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As cozinhas comunitárias e populares ajudam a suprir a falta de equipamentos públicos de alimentação. Até ano passado, Florianópolis era a única capital do país sem um restaurante popular. Em Santa Catarina, cerca de 900 mil pessoas passam fome, de acordo com dados da Rede Pensan. Há ainda 2 milhões de pessoas sem conseguir comprar alimentos suficientes

Edição: Douglas Matos