O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu nesta quarta-feira (23) que pediu a aliados para "repassarem ao máximo" mensagem com notícias falsas e ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às urnas eletrônicas. A informação tinha sido divulgada na terça (22) pelo próprio STF, em meio a investigações sobre empresários bolsonaristas acusados de incentivar um golpe de estado.
A Polícia Federal encontrou imagens atribuídas a Bolsonaro no celular do empresário Meyer Nigri, dono da consultora Tecnisa. Junto a Luciano Hang, das lojas Havan, ele é um dos dois últimos investigados no inquérito, depois que seis outros empresários foram retirados por "ausência de justa causa".
Em uma das mensagens há um ataque contra o ministro Luís Roberto Barroso, citado como alguém que "faz peregrinação no exterior sobre o atual processo eleitoral brasileiro, como sendo algo seguro e confiável. O pior, mente sobre o que se tentou aprovar em 2021: o voto impresso ao lado da urna eletrônica, quando ele se reuniu com lideranças partidárias e o Voto Impresso foi derrotado. Isso chama-se INTERFERENCIA (sic)".
Ao ser perguntado nesta quarta pela Folha de S. Paulo se teria enviado o texto, Bolsonaro foi taxativo: "Eu mandei para o Meyer [Nigri], qual o problema? O Barroso tinha falado no exterior [sobre a derrota da proposta do voto impresso na Câmara, em 2021], eu sempre fui um defensor do voto impresso", disse.
O texto, que o ex-presidente admite ter encaminhado, prosseguia: "Todo esse desserviço à Democracia dos 3 ministros do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] STF faz somente aumentar a desconfiança de fraudes preparadas por ocasião das eleições. O Datafolha infla os números de Lula para dar respaldo ao TSE por ocasião do anúncio do resultado eleitoral REPASSE AO MÁXIMO".
Esse caso fez com que Bolsonaro fosse intimado pela Polícia Federal (PF) para mais um depoimento – será o quinto. A oitiva está marcada para o próximo dia 31 (quinta-feira). Ele já teve de prestar esclarecimentos sobre o caso das joias sauditas; sobre os atos golpistas de 8 de janeiro; sobre as fraudes em cartões de vacinação e sobre a trama golpista com Marcos do Val e Daniel Silveira.
À Folha, o ex-presidente confirmou que vai prestar o depoimento na próxima quinta para "explicar" o encaminhamento da mensagem com ataques. Ele disse, ainda, que não participava do grupo que reunia empresários que o apoiavam e para o qual, segundo a PF, Nigri repassou o conteúdo enviado pelo hoje inelegível.
Também no dia 31, Bolsonaro deve ser novamente ouvido pela PF sobre o caso das joias. Simultaneamente também devem depor a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro; os advogados Frederick Wassef e Fabio Wajngarten, que representam o ex-presidente; Marcelo Câmara e Osmar Crivellati, assessores do capitão reformado; o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid; e o pai de Cid, o general da reserva Mauro Lourena Cid.
De atestado
A conversa de Bolsonaro com a reportagem da Folha nesta quarta aconteceu em um voo entre Brasília e São Paulo no início da manhã. Na capital paulista, o ex-mandatário se internou para "exames de rotina", segundo Fabio Wajngarten, que afirmou que serão avaliadas as condições clínicas e eventuais consequência da facada sofrida em 2018.
Edição: Thalita Pires