REAPROXIMAÇÃO

Em Angola, Lula defende renegociação da dívida de países africanos com o FMI

Presidente defendeu a reforma do Conselho de Segurança da ONU e classificou Cúpula do Brics como "extraordinária"

Brasil de Fato|Recife(PE) |
Presidente Lula da Silva, durante Fórum Econômico Brasil-Angola, realizado nesta sexta-feira(25) - Ricardo Stuckert/PR

O presidente Lula da Silva defendeu, neste sábado (26), a renegociação das dívidas dos países africanos com o Fundo Monetário Internacional(FMI). O líder brasileiro entende que estas dívidas poderiam ser transformadas em investimento, de modo que as nações endividadas consigam dar um salto de desenvolvimento. 

"A lógica é tentar sensibilizar as pessoas que são donas dessa dívida para que ela seja transformada num apoio à infraestrutura. O dinheiro da dívida, ao invés de ser pago, deve ser investido em obras de infraestrutura", sugeriu. 

Lula também recomendou uma espécie de prorrogação, até que os países devedores tenham condições de renegociá-las. 

Na coletiva, o presidente também falou sobre a 15ª Cúpula do Brics, que aconteceu entre os dias 22 e 24 de agosto em Joanesburgo, na África do Sul. Lula classificou o evento como "extraordinário", ressaltou como o positivo o ingresso de novos países e voltou a defender a reformulação do Conselho de Segurança da ONU. 

“O Conselho de Segurança, que deveria ser a segurança da paz e da tranquilidade, é o que faz a guerra sem conversar com ninguém. A Rússia vai para a Ucrânia sem discutir no Conselho de Segurança. Os Estados Unidos vão para o Iraque sem discutir no Conselho de Segurança. A França e a Inglaterra vão invadir a Líbia sem passar pelo Conselho de Segurança. Ou seja, quem faz a guerra, quem produz arma, quem vende armas são os países do Conselho de Segurança. Está errado", declarou. 

Para o presidente, o Brics vai ajudar o Brasil a olhar de forma diferente para as questões geopolíticas e a levar em consideração a multipolaridade. Ele citou, por exemplo, a dependência que o país tinha do FMI, no passado. 

"Era vergonhoso um governo como o de FHC, que era democrata, e que ninguém pode dizer que não era, que tinha uma pessoa competente no Ministério da Fazenda, como o [Pedro] Malan, que era figura respeitável, receber no Brasil as pessoas do FMI para fiscalizar as contas brasileiras. Era uma coisa vergonhosa saber que um país soberano estava recebendo economistas do FMI para visitar contas nossas", relembrou. 

"Hoje é possível fazer um reunião do Brics com o G7, em condições de superioridade. O Brics hoje, representa 36,7% do PIB de paridade de compra. As condições geopolíticas para você negociar mudam, e você negocia em conjunto", apontou o presidente. 

Lula também criticou o fato de o Brasil ter poucos voos para países africanos e disse que, ao regressar a Brasília, vai colocar o tema em pauta e buscar entender o motivo para escassez de conexões entre o Brasil e nações africanas. Ele também mencionou a criação de um consulado geral no continente. 

O presidente encerrou neste sábado(26) uma visita oficial à Angola, onde os dois países assinaram cerca de 7 acordos bilaterais, e segue agora para São Tomé e Príncipe, onde participará da Cúpula de Países de Língua Portuguesa(CPLP)
 

Edição: Rodrigo Durão Coelho