VIOLÊNCIA

Forças armadas de Israel já mataram 34 crianças palestinas neste ano, segundo ONG

Human Rights Watch aponta que estatística letal já empata com a de 2022 e pede providências aos países aliados de Israel

Brasil de Fato | Botucatu (SP) |

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Parentes de palestinos mortos carregam caixões falsos cobertos com a bandeira palestina para protestar contra o fato de Israel manter corpos sob seu domínio - Jaafar ASHTIYEH / AFP - 27/8/2023

O jovem palestino Mahmoud al-Sadi, de 17 anos, estava a caminho da escola quando ouviu sons de tiros. Parou no acostamento e ficou esperando pelo fim do tiroteio, que ocorria a cerca de 320 metros de distância, entre militares israelenses e combatentes palestinos. Depois que o tiroteio parou, e os integrantes das forças armadas de Israel estavam se retirando, um tiro isolado partiu de dentro de um veículo militar e atingiu o jovem, a uma distância de cerca de 100 metros. Não havia nenhum combatente palestino por perto, e Al-Sadi não estava armado. Ele morreu.

Este caso, ocorrido perto do campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, não é isolado. Segundo a ONG Human Rights Watch (HRW), que diz ter obtido os detalhes a partir de conversas com testemunhas e filmagens de câmeras de segurança, as forças israelenses já mataram pelo menos 34 crianças palestinas neste ano, até o dia 22 de agosto. Ou seja, em menos de oito meses transcorridos de 2023, o patamar fatal já é igual ao de 2022, que havia sido o ano mais letal para crianças palestinas em 15 anos.

“As forças de Israel estão atingindo crianças palestinas que vivem em ocupações com frequência crescente”, afirma Bill Van Esveld, diretor associado para direitos das crianças da ONG. “A não ser que os aliados de Israel, particularmente os Estados Unidos, pressionem o país a mudar esse curso, mais crianças palestinas serão mortas”.

A ONG obteve informações sobre o tema ao investigar detalhes sobre quatro mortes. Uma delas é a do já mencionado Al-Sadi. Nas outras três, garotos foram mortos depois que se juntaram a outros jovens que enfrentavam os israelenses. Ainda que os palestinos portassem pedras, coquetéis molotov e fogos de artifício, a investigação concluiu que os militares atiraram repetidas vezes na altura do tórax, atingindo múltiplas vítimas, e mataram crianças que, naquelas condições, não representavam ameaça séria de morte ou ferimento sério. Dessa forma, teriam infringido normas internacionais, o que faz com que tais mortes sejam ilegais.

As forças israelenses também não deram avisos prévios nem usaram armas menos letais, como gás lacrimogêneo, granadas de concussão ou balas de borracha, segundo testemunhas ouvidas pela HRW — a ONG ouviu sete vítimas, nove familiares e outros moradores, advogados, médicos e membros de organizações de direitos humanos israelenses e palestinas.

Uma organização israelense, chamada Yesh Din, informa que de 2017 a 2021, menos de 1% das reclamações de violações por parte de forças israelenses contra palestinos resultaram em indiciamento. No mesmo período, foram mortos ao menos 614 palestinos classificados pela Organização das Nações Unidas (ONU) como civis na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Mas apenas três soldados foram condenados, segundo a mesma ONG, e todos receberam penas leves, que foram trocadas por serviços comunitários.

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Autoridades de Israel têm usado força excessiva em ações de policiamento contra palestinos por décadas, segundo a HRW. O jornal israelense Haaretz informou, em janeiro último, que, desde dezembro de 2021, os soldados israelenses estão autorizados a atirar em palestinos que estejam em fuga se eles já tiverem, previamente, atirado pedras ou coquetéis molotov.

 

Edição: Geisa Marques