Começa nesta terça-feira (29) o segundo júri do Caso Curió, com oito policiais militares como réus acusados da chacina ocorrida na Grande Messejana, bairro de Fortaleza, em 2015, deixando 11 mortos. Entre as vítimas, estão seis adolescentes e dois jovens de 18 e 19 anos de idade. No total, são 33 policiais acusados do crime. O julgamento será realizado no Fórum Clóvis Beviláqua, na capital cearense.
Edna Carla é mãe do adolescente Alef, morto na Chacina do Curió. Ela fala sobre a expectativa para o segundo júri. “As provas falam por si próprias, então a gente está confiante, sim, tanto eu como as outras mães, a sociedade civil, os movimentos populares que nos acompanham, que nos ajudam", ressalta.
Carla diz esperar por um julgammento "propício à periferia". "Porque, quando a gente consegue algo favorável à periferia, é muito importante. Então a minha expectativa e a expectativa das demais mães é que a nossa periferia pare de ser morta”, avalia. Edna Carla é fundadora do Movimento Mães da Periferia de Vítima por Violência Policial no Ceará, é integrante do movimento Cada Vida Importa e pesquisadora social.
Já Fernanda Estanislau, secretária adjunta da Comissão de Direitos Humanos OAB/CE, diz esperar que todos os depoentes sejam ouvidos e que os familiares tenham acesso ao local de julgamento.
"Esperamos que [...] o caso seja novamente acompanhado pela população em geral, pela sua importância histórica. O júri do Curió é um caso emblemático e pode representar uma mudança de paradigma quanto à responsabilização em casos de violências cometidas por agentes do Estado. A busca é por responsabilização e reparação”, defende.
No primeiro júri, ocorrido em junho deste ano e com cinco dias de duração, os quatro primeiros réus foram condenados a 275 anos e 11 meses de prisão cada um. São eles: Antônio José de Abreu Vidal Filho, Marcus Vinicius Sousa da Costa, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio.
Hoje Edna repensa sua opinião sobre o tempo de espera pelo julgamento do caso. "Eu, pelo menos, achava o processo muito lento. E eu estou achando que está bom. A condenação poderia ter sido antes, o julgamento poderia ter sido antes, mas talvez não tivesse resolvido a questão, porque, se tivesse feito durante a pandemia [de covid-19], ninguém podia se reunir", relembra.
Edna considera que o grupo de mães está vivendo um "momento único". "Um momento que, pela primeira vez no Ceará, está tendo justiça quando os policiais matam alguém, principalmente jovens na periferia, que, além deles matarem, eles ainda dizem que os meninos são bandidos, e isso é muito cruel”, relata.
Observador da ONU irá ao júri do Caso Curió
O Comitê dos Direitos das Crianças da Organização das Nações Unidas (ONU) virá ao Ceará para acompanhar o segundo júri do Caso Curió. O órgão será representado por Luis Ernesto Pedernera Reyna, ex-presidente do Comitê e membro do órgão.
“Sempre prezando pela rigidez técnica e jurídica em casos complexos e emblemáticos, é essencial termos presenças institucionais de organismos internacionais que acompanham o caso para acompanhar de perto o processo. Reforça ainda mais a importância desse julgamento, não só no cenário local, mas também no cenário nacional e internacional, deixando ainda mais nítida a importância de responsabilização por parte do Estado”, considera Fernanda Estanislau.
O Conselho Nacional de Direitos Humanos e a Ouvidoria Nacional do Ministério dos Direitos Humanos (MDH) estarão presentes no segundo júri do Caso Curió.
Um terceiro júri está marcado para 12 de setembro, com mais oito policiais como réus. Outros réus aguardam recursos na esfera federal.
Mais sobre o Caso Curió
Entenda os episódios do crime, de acordo com o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) acessando 11docurio.com
Entenda como funciona e acompanhe em tempo real o júri por meio do hotsite do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE)
Acesse o podcast, o livro e artes sobre o Caso Curió.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Camila Garcia