A Sala Redenção, cinema da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), estava lotada para receber John Shipton e o jornalista Leandro Demori. Em campanha pela liberdade de seu filho, ele veio divulgar o documentário Ithaka – A Luta de Assange, de Ben Lawrence, que estreia no Brasil nesta quinta-feira (31).
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Ao final da exibição do filme, a plateia aplaudiu a chegada de John, que percorreu várias capitais brasileiras para os pré-lançamentos. Após a conversa com o pai de Assange, Leandro Demori informou que os próximos fatos importantes do processo do Julian acontecem em outubro.
"É a próxima fase dessa batalha, uma próxima decisão judicial na América Britânia. O governo brasileiro vai formar uma comissão para fazer um convite ao Julian e ao John, para que o Julian possa viver no Brasil, quando ele for libertado", contou. E ainda brincou que Assange disse que gostaria de ir morar no México, mas que ele iria argumentar que o Brasil fica mais distante dos EUA.
Nascido na Austrália, Julian Assange fundou a organização WikiLeaks, em 2006, especializada em analisar e divulgar documentos censurados ou restritos que envolvem assuntos sensíveis como guerra e espionagem. Em 2010, o site divulgou documentos secretos do Exército americano e, após esses vazamentos, as autoridades dos Estados Unidos começaram a investigá-lo criminalmente.
Em 2019, após ter vivido sete anos asilado na Embaixada do Equador, ele foi preso na Inglaterra, em um presídio de segurança máxima. Sua detenção tem sido descrita por seu pai como "um assassinato em câmera lenta". Há exatos quatro anos, Assange aguarda uma possível extradição para os EUA, onde pode ser condenado a até 175 anos de prisão.
O filme mostra a luta do pai de Julian, John Shipton, e sua mulher, Teresa Assange, por sua libertação. Eles viajam o mundo atrás de aliados que possam ajudar na causa de um homem que fez apenas o seu trabalho, enquanto os culpados pelos crimes hediondos, dos quais denunciou, não são nem questionados.
Pai de Assange agradece o apoio do governo brasileiro
No dia 27, representantes do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e do governo federal receberam John Shipton. O ministro Silvio Almeida lançou uma nota expressando apoio à luta do jornalista, de seus familiares, de seus amigos e de movimentos sociais por todo mundo pela sua liberdade e pela liberdade de imprensa.
"Em tempos em que o conceito de liberdade vem sendo cinicamente manipulado por grupos de extrema direita – a liberdade descomprometida totalmente da solidariedade –, a defesa da liberdade de Julian Assange e a defesa da liberdade de imprensa, pelo contrário, assumem seus sentidos genuínos e plenos. Trata-se da liberdade associada totalmente à responsabilidade social, no caso, de trazer à tona informações relevantes e de interesse público a diversos países."
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Ainda, segundo a nota, o direito à informação é um direito fundamental, e as ações de Assange ajudaram a promover a transparência e a prestação de contas em níveis globais.
"Além disso, sua situação atual levanta preocupações sobre o devido processo legal e os direitos de um indivíduo frente a possíveis perseguições políticas. Assange e o Wikileaks trouxeram à tona informações com impacto em governos e empresas e essa é a razão de sua perseguição judicial, em verdadeiro lawfare. A causa de Assange é uma causa de direitos humanos."
Em breve entrevista ao Brasil de Fato RS, em parceria com o PSOL nas Redes, ele agradeceu o apoio do governo brasileiro e de outros países latino-americanos a seu filho. Em maio deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em Londres, que a manutenção da prisão do jornalista é "uma vergonha".
Qual a possibilidade de vitória da extradição do Reino Unido para os Estados Unidos?
John Shipton: Eu acho que a probabilidade da extradição da Julian para os Estados Unidos tem diminuído significativamente. Nós temos agora o apoio do primeiro-ministro da Austrália, do líder opositor e de 88% da população. A Austrália é o único ente que pode representar Julian, porque ele é um cidadão australiano.
Nós também temos o apoio do presidente Lula, presidente [Gustavo] Petro [da Colômbia], presidente [López] Obrador [do México], presidente [Alberto] Fernández [da Argentina]. Então, a probabilidade de Julian ser extraditado para os Estados Unidos está constantemente em declínio.
E se Julian for extraditado, quais as expectativas e ameaças quanto ao futuro dele?
Se Julian for extraditado para os Estados Unidos, ele será destruído, ele será morto, ele não sobreviverá. A intenção dos Estados Unidos é destruir Julian e destruir o trabalho que Julian e o WikiLeaks fizeram. Isso deve ficar claro para todos. Agora, após 14 anos de perseguição, assédio e tortura psicológicas incessantes e 25 processos, está claro para qualquer um que a intenção dos Estados Unidos é destruir Julian Assange.
Nós, brasileiros, sentimos que temos uma grande dívida com Assange. Como nós podemos fazer mais por essa campanha e como está a campanha internacional?
A resposta é muito simples: é continuar a espalhar a palavra entre os outros. Depois, utilizar as instituições de Estado, por exemplo, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e o Mercosul, para fazer representações para os Estados Unidos. A Alba, a Corte Interamericana... De memória, acho que apenas três estados não apoiam a posição do presidente Lula: os Estados Unidos, o Canadá e, eu acho, o Porto Rico.
Você já conversou com o presidente Lula para pedir a ajuda nesta campanha?
Eu agradeço ao presidente Lula por seu apoio e não peço mais nada. Eu conheci o presidente Lula em Geneva, apenas depois dele ser liberado da prisão, e novamente em Paris, uma manhã, em cerca de 8 horas.
Então, seu apoio, eu não peço mais, eu digo obrigado pelo que você fez. E eu acredito que o presidente Lula continuará nessa campanha, porque Lula, como você mencionou, sente que o Brasil tem uma dívida com Julian pelas informações que foram tornadas públicas por ele. Então, obrigado a Lula e obrigado às pessoas brasileiras por sua coragem e apoio.
Nós tivemos uma forte campanha pela libertação dos cinco heróis cubanos condenados à prisão perpétua nos EUA. Quais as semelhanças com a campanha pela liberdade de Assange?
A perseguição aos cinco cubanos foi política, assim como é a de Julian. Assim, as soluções são políticas. As organizações que lideraram aquela campanha são as mesmas que apoiam Julian Assange, particularmente seus líderes na Suécia. Então, esse é o paralelo. É uma perseguição política, as organizações que apoiaram os cinco cubanos são as mesmas organizações que estão apoiando a libertação de Julian Assange. E está se tornando claro que vai haver sucesso, no caso de Julian, como foi no caso dos cinco heróis cubanos. Eu só espero que tenha um pouco menos tempo do que levou a libertação dos heróis cubanos.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira